Teatro
CINEMA-TEATRO AGUIA D’OURO
CINEMA-TEATRO AGUIA D’OURO E AS ORIGENS DO CINEMA PORTUGUÊS
por Duarte Ivo Cruz
A tradição arquitetónica dos teatros do Porto retroage aos finais do século XVIII com a inauguração do Teatro do Corpo da Guarda, sala improvisada onde em 1762 se canta Pergolesi, ou, mas concretamente, ao primeiro Teatro São João inaugurado em 1798 e de que nos ocupamos nesta série, dando então notícia das sucessivas alterações urbana e arquitetónicas.
E também já escrevemos aqui sobre o Coliseu do Porto, sobre o Teatro São João, o Rivoli, o Batalha ou ainda, na zona urbana, sobre o Teatro Constantino Nery de Matosinhos.
Hoje existem no Porto, gerações sucessivas de teatros, de cineteatros, de salas mais ou menos adaptadas onde se faz teatro, mas também de edifícios que foram teatro e já não o são, ou que nunca o foram na origem mas agora servem também de sala de espetáculo musical ou teatral. Basta assinalar, como expressão mais recente desse movimento, a Casa da Música, inaugurada em 2005.
Procedemos recentemente a uma sucessão de visitas aos mais significativos edifícios de espetáculo da cidade, aí incluindo alguns de origem e vocação inicial diversa, como por exemplo a Alfandega do Porto, onde se produzem exposições, conferências e espetáculos. E a pouco e pouco iremos dando contas desses estudos.
Exemplo flagrante dessa "reconversão" é o antigo Teatro-Cinema Águia d’Ouro, hoje transformado em hotel, mas com o mérito de o restauro manter em excelentes condições a impressionante fachada arte nova. É pois um hotel: mas antes de ser teatro e cinema, foi, a partir de 1839, um café, o que permite pensar que se retomou a tradição de prestação de serviços de hospedagem e/ou alimentação…
Em 1908, Sousa Bastos, no clássico e na época atualizadíssimo "Diccionário do Theatro Português" escreveu sobre o Teatro Águia de Ouro: "Tem 60 camarotes em duas ordens e duas frisas; 600 lugares de plateia e 350 de galeria”.
Teatro foi, durante décadas, mas também um dos primeiros cinemas do Porto, pelo menos desde 1907, e assim se manteve com alternativas de espetáculo teatral e cinematográfico, até aos anos 80/90 do século passado. A partir de 2006 inicia-se a reconversão em hotel, com o mérito de se ter restaurado a impressionante fachada.
O que resta do teatro e do cinema? Antes de mais, como se disse, a esplendorosa fachada. Mas mais alguma coisa - e sobretudo, a memória urbana, desde logo, na parede, placas recuperadas assinalando espetáculos “memoráveis” para a época… Mas também um arquivo fotográfico que recorda a harmonia da sala à italiana, com as frisas e camarotes antes das primeiras obras e fotografias da fachada, marcante na beleza estilística e decorativa, mas num estado de conservação duvidoso: felizmente, nas obras de restauro e adaptação a hotel, houve o bom senso e bom gosto de recuperar o esplendor e rigor estilístico do edifício, hoje notável no ponto de vista arquitetónico.
E vale a pena recordar que no Porto viveu e trabalhou o pioneiro do cinema português, Aurélio da Paz dos Reis (1862-1931) cujos primeiros filmes datam dos finais do século XIX. Pais dos Reis foi influenciado, digamos mesmo, impressionado pelas exibições que um tal Edwin Rousby, denominado pelos jornais da época “o eletricista de Budapeste”, assim mesmo, organizou em 1895 no portuense Teatro Sá da Bandeira, à época Teatro Príncipe Real. E é no Porto que, de 1918 e 1924, funciona a Invicta Filme, produtora cinematográfica primordial na história do cinema português.
E também funcionou como teatro de ópera, como o atesta designadamente uma placa alusiva à representação da “Tosca” em 4 de março de 1911. E vemos ainda outra placa, esta de homenagem a Ângela Pinto, em 10 de Setembro de 1913.
Essa tradição de cineteatro e mesmo de ópera, manter-se-ia no antigo Águia d’Ouro, até que em 1989, fechou portas e desistiu dos espetáculos. Mas ainda lá está o edifício e a fachada, em muito boas condições como património arquitetónico da cidade.
Foi transformado num Hotel.
GPS N41º 8.7481', W008º 36.4052'
Sandra Vaz Costa – Arquitetura Moderna Portuguesa. – 2004;
Ana Tostões – Sob o Signo do Inquérito in Inquérito á Arquitetura de Portugal no Seculo XX – 2006. Alvaro Duarte de Almeida e Duarte Belo (coord. – Portugal Património vol. I- 2007;
Sobre cinemas e cineteatros do Porto - António Horta e Costa – Subsídios para a História do Cinema Português (1896-1949);
Luís de Pina – A Aventura do Cinema Português – 1977;
M. Felix Ribeiro – Filmes, Figuras e Factos da História do Cinema Português – 1983;
José Manuel Fernandes – Cinemas de Portugal - 1995