Teatro
TEATROS ROMANOS EM PORTUGAL – O ANFITEATRO DE BOBADELA
por Duarte Ivo Cruz
Os vestígios da expressão teatral e de espetáculo na Lusitânia não são numerosos nem especialmente relevantes no território hoje português. Vimos, designadamente, em noticia anterior, o que resta do Teatro Romano de Lisboa, ainda assim considerável e em fase muito interessante de pesquisa e documentação. Não faltam estudos sobre Conimbriga e os seus recintos de espetáculo, adequados ao esplendor e dimensão da cidade e mesmo do que dela temos já acessível: mas, como veremos mais tarde, das áreas de espetáculo quase nada resta.
Ocorre, como bem sabemos, que a dimensão atual das estações arqueológicas romanas não corresponde à relevância da cidade original. O exemplo das ruinas de Bobadela, no concelho de Oliveira do Hospital documenta bem essa óbvia realidade. Os vestígios, em notável estado de recuperação e conservação arquitetónica, envolvem hoje uma monumentalidade que documenta não só a dimensão relativa da cidade na sua época de origem, como particularmente um sentido de conservação e adaptação funcional, ao longo dos séculos.
Destaca-se desde logo o arco romano, datável do seculo II e que, então como hoje, marca o acesso à área urbana: intervenções posteriores não o descaracterizam. Aarão de Lacerda cita-o como um dos poucos que subsiste em Portugal, talvez porque “assenta sobre pedraria em bossagem”. Deve integrar o pórtico de acesso à cidade e mesmo de acesso imediato ao fórum. E também subsiste uma fonte romana e numerosos objetos, lápides e inscrições incorporadas na Igreja Paroquial e em outros edifícios, ou expostas no interessante Museu Municipal, instalado na antiga Casa dos Godinhos de origem manuelina.
Mas o mais relevante é o Anfiteatro, ainda “funcional” como monumento, sem dúvida, mas também como área de espetáculos, para a qual foi criado. Data do século II e sofreu uma primeira recuperação no século IV. Uma recuperação recente mantém a estrutura original e torna-o operacional e devidamente utilizado.
Carlos Fabião, em estudo publicado em 2011, destaca "a estrutura muito simples, com paralelos conhecidos em outras províncias do Império romano. Um muro perimetral, com cornija, erguido em silhares graníticos, delimita a elipse da arena; as bancadas seriam edificadas com madeira (e) o edifício terá sido construído sob a dinastia flávia, no contexto de uma significativa remodelação que a cidade conheceu, tendo implicado a demolição de uma área residencial anterior”.
E terminamos com outra referência, da autoria de Maria da Conceição Lopes, em estudo publicado em 2009:
“O Anfiteatro de Bobadela é, por ora, o único monumento deste tipo a ser escavado em Portugal. Trata-se de um edifício simples e modesto, cuja implantação aproveitou e se adaptou a uma depressão natural. Tirando partido da topografia, a sua construção apenas implicou cortes de rocha, enchimento de terra e a construção de um muro elíptico, para delimitar a arena, além da construção da entrada, tribuna no eixo menor e rede de escoamentos”.
Pois simpres e modesto que seja e sem dúvida que o é, constitui um modelo histórico-arqueológico de recuperação e funcionalidade.
Entrada Livre
Ao fim de semana horário do Museu Municipal Dr. António Simões Saraiva
(na Rua João Borges de Brito, n.º 4)
Sábados e domingos das 10h00 às 12h00 e das 14h00 às 19h00.
BIBLIOGRAFIA CITADA – Aarão de Lacerda – “História da Arte em Portugal” - 1942: Carlos Fabião- “A Herança Romana em Portugal” – 2006; Maria da Conceição Lopes – “Expressões Artísticas Anteriores à Formação de Portugal” in “Arte Portuguesa da Pré-História ao Século XX”, dir. Dalila Rodrigues – vol. I - 2009