Teatro
Cineteatro Louletano
Bem podemos dizer que as décadas de 30 a 60 do século passado marcaram a grande fase de construção de cineteatros e assistiram também à destruição de numerosos teatros vindos do século XIX e até aí em grande parte funcionais: aliás, a implantação dos novos edifícios muitas vezes efetuou-se precisamente no local dos antigos, pois os teatros no século XIX são construídos nos centros urbanos respetivos.
A demolição de dezenas de antigos teatros à italiana, com a sua estrutura clássica de frisas e camarotes, é obviamente lamentável: mas, apesar de tudo, é de registar que as novas salas de espetáculo muitas vezes são representativas de modelos arquitetónicos contemporâneos em si mesmo de qualidade, e não poucas, projetadas por grandes nomes da arquitetura portuguesa do século XX.
Vejamos o caso de Loulé.
Em 1908, Sousa Bastos regista, no “Diccionário de Theatro Português” a existência de um Teatro Gil Vicente, propriedade da Câmara Municipal, em condições aliás algo insólitas. “Está por concluir, faltando-lhe camarotes e as bancadas da plateia. Já ali têm trabalhado algumas companhias, tendo apenas duzentos lugares de plateia que dão o rendimento de sessenta mil reis”…
Mais acrescenta que “a obra tem sido feita pelo plano do arquiteto Costa Campos”. E ainda esclarece que o teatro, não obstante faltarem os camarotes, “de cenário tem suas salas ricas, uma pobre e duas vistas de bosque”…
Decorrem menos de 20 anos, e em 1925 encontramos uma “sociedade de capitalistas”, como na época se dizia, intitulada precisamente Sociedade Teatral Louletana, a qual empreende a construção de um Teatro. Este acaba por ser inaugurado em 1930, com o nome de Teatro Avenida, segundo projeto do Arquiteto João Batista Mendes, num espetáculo da Companhia Ilda Stichini, à época uma das mais representativas do meio artístico português.
A Sociedade iria durar dezenas de anos, alternando a produção de espetáculos de teatro e de cinema. Entretanto, em 2003 a Câmara Municipal adquire o Cineteatro, entretanto denominado Louletano.
E é este Cineteatro Louletano que hoje se mantem em atividade, marcado pela fachada curiosa em gaveto, com porta principal dominada por uma imponente varanda. Com lotação de cerca de 900 lugares, conservou, do projeto inicial e apesar da sua forçada simplificação, uma estrutura complexa de frisas, plateia e três ordens de balcão, muito ao gosto e aos hábitos sociais da época. No interior, destaque para a escadaria, notável pelo lançamento e pela decoração.
A implantação do teatro em gaveto é em si mesmo interessante. E tal como refere Fernando Mota de Matos, “a volumetria geral do edifício denuncia exteriormente a caixa do palco, que se eleva acima da cimalha do edifício, cintada por cornija” o que mais impõe a “presença” do Cineteatro na malha urbana, e mais reforça a sua originalidade arquitetónica - um teatro em esquina não é habitual…
Teria António Aleixo, na sua vida difícil e agitada, frequentado o Cineteatro Louletano? Seria natural. Mas o certo é que hoje a estátua de Aleixo valoriza a memória e o património cultural e urbano de Loulé. E o reconhecimento da sua obra, felizmente iniciado em vida do poeta, marca também e de que maneira, o património cultural da cidade.
E até no teatro: o “Auto da Vida e da Morte”, o “Auto do Curandeiro” e o “Auto do Tio Joaquim”, este incompleto, retomam uma tradição profunda de teatro popular que, pela qualidade, ocupa espaço na própria literatura dramática portuguesa.
Duarte Ivo Cruz
Terça a sexta-feira - 13h00 às 18h00
Sábado e feriados - a partir das 16h00
Domingo - a partir das 15h00
Reservas
As reservas podem ser efetuadas através do telefone 289 414 604 ou e-mail cinereservas@cm-loule.pt
Os bilhetes deverão ser levantados até 24 horas antes do início do espetáculo, caso contrário a reserva será anulada.
Pagamento: só são aceites pagamentos em numerário.
Sousa Bastos - Diccionário do Theatro Português - 1908;
Isilda Maria Renda Martins - Loulé no Século XX - 2001;
Suzana Carrusca - Loulé - 2001;
João Barrento - António Aleixo - A Dor faz Cantar - 2003;
Joaquim de Magalhães - Ao Encontro de António Aleixo;
Fernando Mota de Matos - Cineteatro Louletano in Portugal Património - vol. IX - 2006;
Duarte Ivo Cruz - Teatros de Portugal - Espaço e Arquitetura - 2008