Teatro
TEATROS DO PORTO
TEATROS-CINEMA RIVOLI E BATALHA
A qualidade arquitetónica destes dois teatros-cinema justifica uma referência conjunta, na medida em que, com a óbvia especificidade de cada um dos autores respetivos, ambos documentam uma idêntica renovação exemplar da monumentalidade vocacionada para o espetáculo. Teatros-cinema ou cineteatros, com maior ou menor rentabilização para cada uma das manifestações, constituem expressões coerentes de uma época e de uma sociologia da cultura e do lazer no âmbito da cidade.
O Teatro Rivoli é o mais antigo, e não faltou quem, ao longo dos anos, fizesse referencia à similitude da designação com o Tivoli, este de Raul Lino inaugurado em 1924. Ora o Rivoli é de 1932, segundo projeto de José Júlio de Brito. E se ambos rentabilizam a implantação respetiva, valorizando as fachadas e o acesso em gaveto, a verdade é que o Tivoli é dominado pela cúpula, ao passo que o Rivoli, sobretudo depois das alterações dos anos 40, aliás também concebidas e dirigidas por José Júlio de Brito, é dominado pelo belíssimo baixo-relevo de Henrique Moreira.
Ambos adotaram a organização interna clássica das salas de espetáculo, mesmo que menos adequada ao cinema: frisas/camarotes, porque mesmo quando o cinema domina ou dominou, não deixam de exibir espetáculos de teatro, música, ópera e bailado.
E importa lembrar que José Júlio de Brito é também autor do Coliseu do Porto, já analisado nesta série. José Manuel Fernandes cita ambos, referindo o Rivoli como “obra de excelente acabamento e pormenorização” e considerando-o “a sala central mais prestigiada da cidade”.
Em 1992 o Rivoli inicia um período de reconversão arquitetónica, orientada pelo Arquiteto Pedro Ramalho. A funcionalidade de espetáculo é ampliada com extensão para áreas anexas, permitindo hoje uma diversificação de manifestações e de rentabilização junto do público.
O Batalha deve-se ao arquiteto Artur de Andrade. Situa-se em frente do Teatro São João, também já aqui referido. A vocação dominante de cinema é mais acentuada. Mas a imponente fachada e a galeria de janelas, valoriza o edifício em si e permitiu uma muito maior rentabilização no ponto de vista funcional: bar, restaurante, amplos foyers e espaço de circulação.
Diz-nos Ana Tostões que “já desde 1945 que o Porto contava com projetos de uma inusitada modernidade, como o cinema Batalha de Artur Andrade”.
O cinema era, repita-se, a vocação das salas de espetáculo da época, num dimensionamento que tornou, a partir dos anos 70, mais difícil a sobrevivência: e logo nos lembramos, em Lisboa o que aconteceu ao Império, ao Éden e até ao Parque Mayer…
DUARTE IVO CRUZ