Teatro
TEATRO POLITEAMA DE LISBOA
VENTURA TERRA, ARQUITETO DE TEATROS - O CASO DO POLITEAMA
Importa fazer uma abordagem do património histórico e da arquitetura teatral numa perspetiva dos seus criadores. O caso do arquiteto Ventura Terra surge-nos nesse aspeto paradigmático de uma intervenção modelar, da qual resta um exemplo em plena laboração, e mais dois que pelo menos mantiveram a qualidade arquitetónica e encontraram um destino cultural adequado. Referimo-nos ao salão nobre do teatro de São Carlos, ao antigo Teatro Clube de Esposende, hoje Museu Municipal depois de muitas peripécias, ao teatrinho do Palácio da Brejoeira em Monção: um dia os revisitaremos.
Hoje falaremos então do Politeama, como bem sabemos, um dos teatros, em Lisboa e no país, de atividade constante e exponencial, valorizada ainda por uma recuperação arquitectónica também assinalável: mérito em larga medida de Filipe la Feria.
A sala data de 1912 e o primeiro facto notável a assinalar é a conservação, da fachada, dominada pela varanda e pela decoração art deco, imponente no contexto da rua estreita mas notabilizada, diga-se assim, pelo conjunto de teatros que a cerca: o Condes, que vinha do seculo XVIII no mesmo local, o Coliseu, o que resta do Odéon e do Olimpia e, do outro lado da praça, o imponente Éden ou o que resta dele - e felizmente resta a fachada mais ou menos conservada como no original. E mais adiante, a formidável fachada arte nova do antigo Animatographo do Rossio.
O Politeama sofreu alteração na sala: ainda nos lembramos de ver frisas. Mas felizmente a harmonia arquitetónica e decorativa manteve-se e tem sido mesmo valorizada por um exemplar trabalho de restauro e conservação. Foi construído por iniciativa de José António Pereira, “brasileiro de torna viagem” como na época se dizia e a expressão tinha mais de admirativo do que de pejorativo…
A decoração do teto e da sala, hoje também felizmente restaurada, é de Veloso Salgado e de Benvindo Seia.
Foi desde logo um teatro importante no ponto de visita de repertórios, de companhias e de elencos. Lá foram representados autores de primeiríssima ordem, de D. João da Câmara a Raul Brandão, Julio Dantas, Alfredo Cortez, Ramada Curto… E atores e companhias como Amélia Rey Colaço, Ângela Pinto, Adelina e Aura Abranches, Palmira Bastos, Chaby Pinheiro, Vasco Santana, António Silva, a própria Amália ou Laura Alves… E não lhe ficam muitas vezes atrás os que hoje fazem teatro, por vezes de manhã, tarde e noite no Politeama!
Começou a exibir filmes em 1914 e transformou-se em cinema em 1927. Mas nunca deixou de ser teatro, na fachada, na sala e no palco devidamente modernizado. E hoje é um dos principais teatros de Lisboa.
E o público não deixou de lá ir, hoje talvez mais do que nunca!
Iremos ver, na altura própria, o Teatro Clube de Esposende, que foi armazém de tecidos, a seguir Biblioteca Municipal - mas felizmente conservado mais ou menos, no exterior, como Ventura Terra o concebeu, e também o teatrinho do Palácio de Brejoeira.
Jose Augusto França - A Arte em Portugal no Séc. XIX - vol. I ed. Liv. Bertrand 1966;
Rute Figueiredo - Arquitetura e Discurso Critico em Portugal (1893-1918) ed. Colibri e FCT - 2007;
Duarte Ivo Cruz - Teatros de Portugal ed. Inapa - 2005 e Teatros em Portugal - Espaços e Arquitetura -ed. Mediatexto 2008