Teatro
Theatro Circo de Braga
O Theatro Circo de Braga, modelo de recuperação arquitetónica e cultural
O chamado “teatro-circo”, corresponde a um modelo de espaço convertível, entre o teatro à italiana e o então chamado “circo de cavalinhos”, utilizado com alguma frequência, na transição dos sécs. XIX/XX, em expressões e construções arquitetónicas variadas – desde o barracão improvisado, tantas vezes referido no exaustivo (à época – 1908) Diccionário do Theatro Português de Sousa Bastos, até edifícios de grande porte e qualidade arquitetónica. Destes, restam hoje 4: o Coliseu dos Recreios de Lisboa (1890), o Theatro Circo de Braga (1915), o Coliseu Micaelense de Ponta Delgada (1917) e o mais tardio Coliseu do Porto (1952). Todos eles sofreram ou beneficiaram de intervenções, com destaque para os Teatros Circo de Braga e de Ponta Delgada, ambos restaurados já na presente década por iniciativa municipal.
O Theatro Circo de Braga deve-se à traça de Moura Coutinho de Almeida d'Eça, arquiteto que de certo modo faz a ligação entre as gerações de Ventura Terra e de Marques da Silva. Citam-se estes grandes nomes da arquitetura de espetáculo porque ambos, de uma forma ou de outra estiveram ligados, senão à obra, pelo menos ao projeto e ao concurso público do Theatro Circo: mas Moura Coutinho, na altura Diretor de Obras Publicas do Distrito, assumiu o projeto, que dirigiu desde a edificação original á exploração artística e até às alterações que a certa altura introduziu para maior adequação à expansão da malha urbana.
A sala funcionou até aos anos 90, com cinema desde a década de 20 e sonoro desde 1932, tendo sido instalada em 1974 uma pequena sala-estúdio. Mas tudo isto em condições cada vez mais deficientes, até que em 1999 se inicia o processo de restauro.
O Theatro-Circo de Braga, no seu esplendor hoje recuperado segundo projeto do arquiteto Sérgio Borges, constitui um notabilíssimo referencial de espaço e monumento das artes do espetáculo. Desde logo, pela dimensão, pela lotação na estrutura à italiana, com… lugares na plateia e três ordens da camarotes da sala principal, agora completada, no restauro de 1999-2006,com uma sala Estúdio de 240 lugares no subsolo à vertical de 11 metros, o que é notável no ponto de vista de engenharia. Mas mais notável é a coerência de estilo e decoração do interior, restaurado com rigor, na coerência exuberante próximo de uma arte-deco afrancesada mas notável na beleza decorativa, hoje escrupulosamente recuperada: profusão de máscaras doiradas, espelhos, figuras decorativas … distribuídas por zonas sucessivas de circulação e de espetáculo - sala principal, sala estúdio, Salão Nobre convertível em sala com lotação de 200 espectadores, foyers e segundo a terminologia da época, “fumoir” e mesmo um inseperado “avan-foyer”…
E tudo isto marcado por um arquitetura e decoração notáveis, na colonata interior, nos gessos e nas pinturas, designadamente do pano de boca.
Recuperou-se também o vermelho vivo dominante dos teatros da época, restauraram-se as pinturas e a formidável cúpula de vidro da sala principal.
O exterior, hoje numa nova centralidade urbana, domina nos cinco corpos e nove portas entremeadas com mascarões e colunas em capitel. Mas sobretudo, modernizou-se de forma exemplar o espaço de espetáculo e tecnologia de cena.
E só se lamenta que o próprio Mora Coutinho de Almeida d’Eça tenha permitido, aí pelos anos 20, a demolição de uma bilheteira, de que ficaram imagens notáveis na pureza do seu estilo arquitetónico, da melhor arte decorativa.
Duarte Ivo Cruz
Segunda a sexta
10h00 às 19h00
Sábado
14h30 às 19h00
Em dias de espetáculo
Segunda a sábado encerra 30 minutos após o seu início.
Em espetáculos a realizar aos domingos e feriados, a bilheteira abre 1h antes do espetáculo, encerrando 30 minutos após o seu início.
BIBLIOGRAFIA – Carneiro,, Luis Soares – “Teatros Portugueses de Raiz Italiana”, tese de Doutoramento, policopiado, FAUL, 2002;
Chaves, Jorge e Pinto, Alexandre, “Restauro e Recuperação do Theatro Circo de Braga”, in “Engenharia e Vida” Novembro 2007;
Cruz, Duarte Ivo , Teatros em Portugal – Espaço e Arquitectura”, ed. Centro Nacional de Cultura e Mediatexto , 2008; idem “De Volta dos Teatros”, ed. Livraria Civlilização e Tabaqueira, 2008;
Macedo, Ana Maria Costa “Theatro Circo, Oito Décadas de um projecto Colectivo da Cidade”, Braga