Teatro
TEATRO SÁ DE MIRANDA DE VIANA DO CASTELO
QUALIDADE DO RESTAURO
O Teatro Sá de Miranda merece destaque, no seu estilo neoclássico de teatro à italiana, com estrutura tradicional em frisas, três ordens de camarotes e galeria. O pano de boca de Luigi Manini executado por Hercole Lambertini e as alegorias do teto de João Baptista do Rio, figurando um céu azul rodeado de retratos, em medalhão, de dramaturgos, contrastam de certo modo com o exterior austero, na fachada de três portas de acesso, frisos verticais, frontão e uma lira decorativa. O conjunto marca a época mas também a qualidade arquitectónica do edifício e da sala de espectáculos.
O Teatro constitui como que um modelo histórico mas também actual de uma política de conservação de património e de afirmação cultural descentralizada. Desde logo pelo próprio historial, através da criação, em 1875, de uma Companhia Fomentadora Vianense, destinada a “promover os melhoramentos materiais (…) e especialmente se proceder á edificação de um theatro”. Foram responsáveis pela iniciativa nomes relevantes da política nacional e local do constitucionalismo, entre eles José Afonso Espergueira, José Alves de Sousa Ferreira e o Conselheiro Rocha Páris.
Recuperava-se, em termos modernos, a tradição dos velhos Teatros da Alfandega e da Caridade, este instalado a partir de 1793 no Imponente Asilo homónimo, por sua vez “herdeiro” do velho Convento de Santana, “para que nela (sala) se pudessem representar dramas, já para aguçar as companhias de cómicos que vierem de fora”., nada menos!
O Sá de Miranda, entretanto, levaria 10 anos a construir, sob a traça do arquitecto José Geraldo da Silva Sardinha, sendo inaugurado em 29 de Abril de 1894 com a opereta “Bocaccio” de Soupé. Ora bem: se no século XIX a construção deste e de muitos outros teatros se ficou a dever a iniciativas locais, juridicamente organizadas numa espécie de fontismo cultural, a sua recuperação nos séculos XX-XXI fez-se nos termos e nos quadros de uma economia concertada do Estado, do poder local e de mecenato privado.
E finalmente: a evocação de Sá de Miranda, o “bom Sá” de que fala António Ferreira, homenageia este introdutor do renascimento teatral em Portugal, nascido em Coimbra em 1481, humanista com permanência na Europa culta da época de 1521 e 1526, amigo de Ariosto e Lope de Vega, autor das comédias Estrangeiros (1528) e Vilhalpandos (1538), que se fixou no Minho em 1527 e aqui morre em 1558, auto classificando-se como “homem de um só parecer dum só rosto, duma só fé, / antes de quebrar que de torcer”…
Municipalizado em 1985 e restaurado no âmbito da Rede de Teatros Históricos do MC (mecenato da Tabaqueira SA) a partir do início do século XXI, agora segundo projecto do arquitecto Marques Franco, o Teatro Sá de Miranda, que já tinha sido objecto de obras em 1957, foi agora recuperado e ganhou espaço através de uma sala de ensaios e de um Café Teatro, além do restauro do envolvimento da sala principal, foyer em três salas contíguas e zonas de circulação e do palco e tecnologia de cena.
Mas o mais relevante, neste projecto de restauro será a conservação e o respeito pela linha geral do edifício oitocentista, completamente renovado mas sem prejuízo do modelo e da estrutura e da funcionalidade que se mantém adequada à vocação original dos espectáculos de teatro de e de música. De facto, não é muito funcional assistir à projecção de um filme na segunda fila de um camarote lateral: mas à conta dessa constatação, e da especulação imobiliária, destruíram-se dezenas de teatros da transição dos séculos XIX – XX , para pouco hoje se aproveitar, passada que está a rentabilidade dos desmedidos cine-teatros, tantos deles sem qualquer préstimo ou interesse arquitectónico, cultural e patrimonial.
Bilheteira
Segunda a Sexta-feira - 09:00 às 19:00 (em dia de espectáculo até inicio da sessão)
Sábado, Domingo e Feriados - duas horas antes do início do espectáculo
Reservas pelo telefone: 258 809 382
Carla Soares Barbosa, “”Viana do Castelo – o Teatro Sá de Miranda no Espaço Musico-Cultural da Cidade – 1885-1914”;
Amadeu Costa , “Teatro Sá de Miranda” in Cadernos Vianenses, 1985;
Luis Soares Carneiro, “Teatros Portugueses de Raiz Italiana” , tese de Doutoramento , ed. Policopiada, FAUP 2002;
Duarte Ivo Cruz, “Teatros de Portugal”, ed. INAPA 2005 e “De Volta aos Teatros”, ed. Civilização 2008