Teatro
CINE-TEATRO DE SÃO PEDRO DO SUL
AS MÁSCARAS DO TRÂNSITO
Talvez um dos aspectos mais interessantes deste levantamento do património teatral, resida, precisamente, na identificação de pequenas salas, fora dos circuitos mais percorridos da actividade cultural, mas relevantes no ponto de vista arquitectónico, social e mesmo na perspectiva histórica decorrente da sua implantação regional e actividade.
O Cine Teatro de São Pedro do Sul, na singeleza da sua sala à italiana, onde subsiste, com algumas alterações mas hoje recuperada, a estrutura original de plateia, frisas, e camarotes, representa este tipo de património, com a virtude de ter sobrevivido inclusive à sala que lhe serviu de modelo, o Teatro Avenida de Viseu, este desaparecido no final dos anos 60: tinha sido fundado por familiares da actriz Mirita Casimiro.
É de notar que São Pedro do Sul guarda desde o século XIX uma tradição assinalável de actividade cultural, determinada pelas termas, que mereceram, no século XIX, a visita da Rainha D. Amélia. O dramaturgo Jaime Gralheiro recuperou o historial do Teatro, inaugurado em 6 de Junho de 1925, por iniciativa de uma sociedade de empresários locais de produtos alimentares, Empresa Comercial Sampedrense. É de notar este tipo de intervenções da população e do empresariado local, comum em numerosas iniciativas de património teatral.
Como é comum a inauguração dos teatros ter sido feita pela Empresa Rey-Colaço – Robles Monteiro, como aliás vamos encontrando na memória mas também nas inscrições dos próprios edifícios, quando duram até hoje.
No início da década de 60, o São Pedro é objecto de uma intervenção destinada a melhor o adaptar a uma exploração cinematográfica mais rentável. Mas prevaleceu o bom senso de não destruir nem, a fachada, nem sobretudo a estrutura da sala, no que tinha de mais coerente com a época da fundação. Reduzem-se a duas, as frisas e integra-se a geral no prolongamento da plateia. Mas subsistiu o envolvimento dos camarotes, e a decoração exuberante de estuques dourados, com motivos florais e grinaldas e a decoração também exuberante do tecto.
A partir dos anos 30 é instalado o cinema sonoro. E nos anos 60 é fundada a Sociedade particular dos Amigos do Cinema, espécie de cine-clube que viabilizará a actividade da sala, a par das sucessivas estreias da importante obra de Jaime Gralheiro, dramaturgo e animador teatral.
O exterior é hoje dominado por uma composição de máscaras, em grande destaque na zona elevada do edifício, sobre a fachada eclética, e que reproduz curiosamente, a composição do sinal de trânsito indicativo do acesso aos teatros.
Jaime Gralheiro, “Breve Sumário do Cine-Teatro de São Pedro do Sul”;
Júlio Cruz, “Cine Teatro de S. Pedro do Sul” in “Sítios e Memórias”, Janeiro-Fevereiro de 1925;
Luís Soares Carneiro, “Teatros Portugueses de raiz Italiana”, teses de Doutoramento, policopado, FAUL 2002