Teatro
PEQUENO TEATRO-CLUBE DE PENAMACOR
EXEMPLO DE UMA INTERIORIZAÇÃO DA CULTURA TEATRAL
Não restam muitos destes exemplos de interiorização do espetáculo e da cultura teatral adequados à época em que são construídos e hoje, “sobreviventes” de um período em que a cultura ou se desenvolvia no próprio local, ou se estiolava por inacessibilidade.
Nesse sentido, importa realçar situações de património construído que, muito embora desativado, constitui, não só documento de outras épocas de intervenção e criação cultural descentralizada, mas também, uma potencialidade de recuperação no ponto de vista do edifício e da sua vocação teatral. E isto, mesmo em edifícios em si mesmo modestos, inclusive pela dimensão e lotação – ou talvez também por isso…
Penamacor, nos séculos XIX / XX, não era propriamente um centro de desenvolvimento cultural acessível. Esse tipo de isolamento conduziu entretanto, pelo grande interior, à criação de estruturas locais de animação por vezes efémeras, mas outras, com raízes que vinham de trás: e consubstanciadas em edifícios e património próprio.
O Clube de Penamacor é herdeiro de um mais antigo Clube Penamacorense. É fundado, com a designação referida, em 1884. Em 1912, é entretanto construído o Teatro-Clube, designação programática que encontramos, pela mesma época, em edifícios de diverso porte e qualidade – e por todos, recorde-se o impressionante Teatro Clube de Esposende, da traça de Ventura Terra, devidamente recuperado pela Câmara Municipal, ou o de Alpedrinha, este descaracterizado.
O Teatro Clube de Penamacor é um edifício de pequenas dimensões, verdadeiro teatro de câmara, em razoável estado de conservação, não obstante o descaso: tem servido de arrecadação e ainda sofreu uma desastrada intervenção nos anos 60. Mas muito embora: a estrutura interior, à italiana, conserva a sua ordem de camarotes e galeria, com os varandins respetivos e um espaço aberto no que foi a plateia e o palco, e que se pode facilmente reordenar e rentabilizar. O exterior, pelo contrário, apresenta ainda uma fachada de portas e janelas em arco com qualidade arquitetónica na sua singela dimensão.
E fica a memória do espetáculo de inauguração do Teatro Clube de Penamacor com um repertório de indiscutível qualidade – e extensão: “O Morgado de Fafe em Lisboa” de Camilo, “D. Beltrão de Figueiroa”, de Júlio Dantas e uma opereta ”O Senhor Bexiga”! Ora seria bem interessante reavivar o teatro e até a tradição ocultista dos chamados falsos D. Sebastião, que deixaram eco e vestígio no teatro português, sendo o primeiro deles conhecido precisamente por “O Rei de Penamacor”. Não mereceu a dramatização: mas já o mesmo se não diga dos restantes falsos pretendentes, objeto de peças de Francisco Maria Bordalo (“Rei ou Impostor” – 1847), de Augusto de Lacerda (“O Pasteleiro de Madrigal” – 1924) e sobretudo de Natália Correia (“O Encoberto” – 1969), este, um belíssimo poema dramático de impressionante carga ocultista/sebastianista.
José Manuel Landeiro - “O Concelho de Penamacor na História, na Tradição e na Lenda” 3ª ed.;
Duarte Ivo Cruz - “Teatros em Portugal - Espaços e Arquitetura”, ed. Centro Nacional de Cultura e Mediatexto, 2008;
Duarte Ivo Cruz - “O Teatro Português - Estrutura e Transversalidade”, ed. Universidade da Corunha, 2005.