Teatro
COLISEU MICAELENSE: TIPOLOGIA E SIGNIFICADO DA RECUPERAÇÃO
Um aspecto interessante do movimento de reorganização da infra-estrutura do património teatral, reside na recuperação dos grandes edifícios de teatro-circo, pujantes na transição dos séculos XIX – XX e progressivamente abandonados, quando não demolidos, a partir dos anos 50 do século passado, com o movimento de implantação dos cine-teatros.
E agora (início de séc. XXI), o que vemos é a demolição dos cine-teatros, por incomportáveis nos excessos de lotação e porque a centralidade urbana os torna extremamente vulneráveis a certa especulação imobiliária. Não nos cansamos de o dizer, assinalando no entanto que começam a surgir políticas, quase sempre municipais, de recuperação desses grandes edifícios, alguns de notável qualidade arquitectónica, e na respectiva reconversão em centros culturais polivalentes. É digno de registo este movimento, a que o Ministério da Cultura tem dado apoio, sobretudo quando se respeita não só a traça arquitectónica exterior, como também – o que, convenhamos, é mais difícil mas por isso mesmo mais meritório – a própria configuração das salas à italiana, com a estrutura de camarotes.
Mas mais interessante então será a recuperação dos chamados teatros-circo, estes mais difíceis de manter pela dimensão e pela necessidade de garantir a reconversibilidade dos espaços, susceptíveis de se transformar, de teatros à italiana em arena para espectáculo “de cavalinhos”, como se dizia há 100 anos…o que obriga ainda a um dimensionamento adequado do próprio edifício, para alojamento de animais circenses! E tudo isto vem a propósito dos teatros circos que sobreviveram, caso do Coliseu dos Recreios de Lisboa, modelo para quase todos os posteriores, mas sobretudo dos que foram recentemente recuperados: o Theatro Circo de Braga, ou o mais recente Coliseu do Porto.
O projecto original de construção do Coliseu Avenida, da autoria do Arquitecto António Ayala Sanches obedeceu à tipologia então dominante: uma sociedade de notáveis da cidade, neste caso concreto presidida por Pedro Lima Araújo. Sala desmesurada, sobretudo para a população da época, assumiu um protagonismo na vida cultural e social da Ilha, com espectáculos de teatro, música, circo e cinema, este sonoro a partir de 1932, mas também de festas e bailes, numa tradição que sobreviveu a tudo.
A partir de 1950, o teatro circo é dirigido por Francisco Luís Tavares, agora com o nome de Coliseu Micaelense e em parceria com o recém reconstruído Teatro Micaelense, projecto, este de Raul Rodrigues de Lima. Ambas as empresas integram ou estão relacionadas com os Carregadores Açorianos, que durante décadas garantiram o transporte marítimo para o Arquipélago. Mais tarde, assume a direcção António dos Santos Figueira. Mas em 1988 o Coliseu Micaelense encerra e mantém-se praticamente desaproveitado até 2002, ano em que a Câmara Municipal de Ponta Delgada o adquiriu à Fundação dos Botelhos de Nossa Senhor da Vida.
Vimos pois que o Coliseu Avenida/Micaelense foi construído no modelo do Coliseu dos Recreios. O exterior domina a área urbana, numa fachada de gaveto que se desenvolve em sucessivas portas e janelas de arco, num estilo eclético com elementos de arte decorativa discreta.
O interior faz efectivamente lembrar o homólogo de Lisboa, na sucessão de balcões, três ordens de camarotes e geral, num envolvimento tendencialmente circular que remata no palco: todo o dispositivo permite a conversão em arena, pela mobilidade da plateia. As balaustradas e as divisórias dos camarotes, como a própria plateia, e ainda todo o envolvimento de foyers e escadarias de acesso são também notáveis no recurso a elementos estruturais e decorativos do ferro. A sala é dominada por uma cúpula, menor do que a do Coliseu dos Recreios.
O palco é encimado por um belíssimo conjunto escultórico de Canto da Maia, com duas figuras alegóricas reclinadas, e o pano de boca é de Domingos Rebelo, também numa cena alegórica de Columbina, Arlequim, dois Pierrots, um “truão”, um Hércules…
Devidamente modernizado, o Coliseu Micaelense tem hoje uma lotação total de 1700 lugares.
Finalmente: em 2007 é inaugurado, na geral do Coliseu Micaelense, um pólo museológico que reúne elementos e documentos historiográficos desde 1912.
Ora, nesse aspecto, apraz referir o notável trabalho de recuperação do Coliseu Micaelense, inaugurado em Ponta Delgada, com a designação de Coliseu Avenida, em 10 de Maio de 1917. Vinha de 1912 a exploração de cinema e de circo ao ar livre.
A reabertura verifica-se em 30 de Janeiro de 2005, segundo projecto do Arquitecto Rogério Cavaca, que basicamente respeitou a traça original, devidamente equipada no ponto de vista tecnológico e modernizada no que respeitas às condições de espectáculo. Rogério Cavaca é também autor da recuperação do Coliseu do Porto.
Escritório das 9h às 12h30 e das 14h00 às 17h30.
Bilheteira: das 15h00 às 20h00 e em dias de espectáculo, das 15h00 às 22h00.
telefone da bilhiteira: 296 209 502
e-mail: bilheteira@coliseumicaelense.pt
BIBLIOGRAFIA – José Andrade – Coliseu Avenida – Símbolo duma Geração –ed. Coliseu Micaelense – 2005; Márcia Dutra, “Coliseu Micaelense” in Portugal Património, ed. Circulo de Leitores Vol .X ; revista “Coliseu Micaelense” (fotos e historial –Maio 2007).