Teatro
TEATROS DA COVILHÃ E TRADIÇÃO VICENTINA
A referência à Covilhã, na “Tragicomédia Pastoril da Serra da Estrela”, de Gil Vicente, confere à cidade uma dimensão cultural já na altura alavancada no que viria a ser o grande factor ide desenvolvimento económico: “E Covilhã muitos panos finos que se fazem lá”: Notável, esta documentação da tradição industrial, que indicia, repita-se, uma hoje não menos relevante expressão cultural, literária, universitária.
Um conjunto muito recente (Junho 2009) de estudos de que citaremos os que mais directamente se ligam ao património de espectáculo, realçam essa tradição, sobretudo reafirmada ao longo dos séculos XIX e XX ; veja-se designadamente o que resta por exemplo dos projectos e dos edifícios de Korrodi, ou a feliz reconversão do edifício da Universidade da Beira Interior , ou ainda o que resta da judiaria e do casco medieval.
No que respeita a teatros, assinalamos aqui o Teatro Caleya, inaugurado em 1898: o edifício está de pé e alberga a sede de um Partido político. No início dos anos 10 do século passado, surge um efémero Hermínia Terrasse, que deu lugar, em 1924, a um edifício mais consistente, o Teatro Covilhanense, inaugurado pela Companhia Lucília Simões Eriço Braga, nada menos que com “A Casa da Boneca” de Ibsen, notável para a época e para a sociedade local.
De acordo com pesquisa e documentação de Manuel Macedo Campos Costa, tratava-se de um edifico em colunata, com sugestões de art deco, mas de certa qualidade interior, num conjunto de camarotes e dois balcões que fazem lembrar, de acordo com fotografias da época, o Tivoli de Raul Lino, inaugurado exactamente também no mesmo ano.
E é no local exacto deste Teatro Covilhanense que se inaugura em 1954 o actual Teatro-Cine da Covilhã, projecto de Raul Rodrigues de Lima. José Manuel Fernandes analisa a implantação no contexto da renovação do centro cívico da cidade: “na sua época, a mais forte renovação do lugar central de uma pequena cidade portuguesa”. E evoca, na estrutura interior e na polivalência do terraço, o modernismo do Capitólio de Cristino da Silva, cujo projecto é de 1925 tendo sido inaugurado em 1931.
Na mesma linha e no mesmo local, Joana Brites analisa com detalhe o conjunto urbano do centro cívico, envolvendo a Câmara Municipal, que aliás recuperou o Teatro-Cine, o próprio Teatro-Cine, o edifício dos CTT e a Caixa Geral de Depósitos. E descreve minuciosamente o interior do edifício, realmente notável na dimensão e no luxo, diga-se assim mesmo, da decoração, da volumetria e da estrutura espacial interna. Refere a decoração interna e externa, de Martins Correia, de João Tavares E recorda finalmente que existiu um outro projecto, da autoria do arquitecto Carlos Ramos, que nunca foi construído.
Marta Frazão salienta a diferenciação das duas fachadas. E, escrevemos nós, “o conjunto é domina por uma grande torre em forma de paralelipípedo que remata a curva da fachada principal de acesso e é animada por um baixo relevo de Martins Correia. A sala tem 1000 lugares em plateia e balcão. No interior destacam-se painéis de ferro forjado e uma bela tapeçaria alegórica das artes do espectáculo em lã, referência à vocação secular da indústria, da economia e da cultura da cidade”.
José Manuel Fernandes, “Covilhã, uma Leitura de Síntese: Estrutura Urbana, Conjuntos Edificados e Arquitecturas, sua Evolução”, in Monumentos, ed. IHRU, Julho 2009; Joana Brites, “Um Uníssono a quatro Vozes: Arquitectura(s) do Estado Novo na Praça do Município da Covilhã”, idem, idem; Duiarte Ivo Cruz, “Teatros em Portugal – espaços e Arquitectura” (2008), onde se citam textos de Marta Frazão e Manuel Macedo Campos Costa.