Teatro
MINAS DE SÃO DOMINGOS -TEATRO, INDUSTRIA, ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL
A Fundação Serrão Martins e a Câmara Municipal de Mértola desenvolvem um meritório trabalho de investigação e conservação do património histórico-museológico das Minas de São Domingos. Não obstante a desactivação, há décadas, da actividade mineira, estamos perante um caso interessante da conservação e recuperação de arqueologia industrial, e de reconversão e valorização económica de uma população e de um património urbano.
No ponto de vista de ligação entre a actividade industrial e o património cultural construído, não é caso único: a seu tempo veremos os teatros por exemplo da Vista Alegre, de Marinha Grande, de Silves, do Fundão, construídos ou adaptados para apoio directo à actividade cultural de populações e de unidades fabris.
No caso das Minas de São Domingos, não interessa tanto o edifício do teatro em si, aliás valorizado por uma exposição permanente da actividade da mina no ponto de vista histórico: de facto, o salão, que está de pé, e mantém actividade, não se impõe pelo interesse arquitectónico, ao contrário por exemplo da antiga e sede da Administração, hoje unidade hoteleira, que soube conservar o tom marcadamente britânico oitocentista. E a Igreja actual, aberta ao culto desde 2 de Dezembro de 1951, pois a anterior ardeu, é interessante num neo-gótico muito da época.
Mas São Domingos conserva viva, num meio urbano primorosamente preservado e valorizado para certo “turismo fluvial” e de arqueologia industrial,, uma tradição de cultura popular que vem, no que respeita património teatral, desde 1856, com três salas sucessivas. E com uma Rua do Teatro, que em 1974 passou a chamar –se Rua da Liberdade.
A Fundação mantém um Centro de informação e documentação (Casa do Mineiro) onde se encontra o espólio museológico da tradição de animação cultural, em fase de investigação mas já documentado por publicações. Aí encontramos noticia dos teatros, da Filarmónica criada em 1894, da imprensa: mas também, do inconformismo social e laboral das populações, da tradição reivindicativa dos mineiros antes e depois do 25 de Abril, até que a mina fechou nos anos 60 do século XX.
O “Guia de Portugal” de Raul Proença fornece-nos uma descrição pormenorizada das minas e da povoação em 1927, no pleno apogeu da exploração mineira . Historia o desenvolvimento económico e urbano, esclarecendo que “em 1859 existia aqui apenas uma única casa, erecta no local onde se acha hoje a farmácia. Actualmente (1927) há cerca de 2000 ( e há) biblioteca , teatro, campos de futebol e de ténis”…
Os vestígios da exploração mineira em si são, em qualquer caso, muito interessantes no ponto de vista, repita-se, da arqueologia industrial. E algumas dessas ruínas fazem lembrar um cenário expressionista, na força dramática que simboliza o drama, insista-se, para uma população de dimensão considerável, o encerramento da actividade económica exclusiva.
E drama também o houve na viagem aventurosa e funesta que Jorge, marido de Luísa, esta, prima de Basílio, faria para as Minas, e que Eça de Queiroz descreve em 1877:
“Era Engenheiro de minas, no dia seguinte devia partir para Beja, para Évora, mais para o sul, até S. Domingos: e aquela jornada, em Julho, contrariava-o como uma interrupção, afligia como uma injustiça.”
Mal ele sabia como!
BIBLIOGRAFIA – Eça de Queiroz, “O Primo Basílio” cap. I ; Raul Proença, “Guia de Portugal – Estremadura, Alentejo, Algarve”, 1927” ; Ferreira de Castro, “História da Velha Mina” in jornal Republica, 30 de Maio de 1974; Heitor Domingos, “Velhos são os Trapos” - , 1999; Jorge Guerreiro Castanho, “Minas de São Domingos – 150 Anos de História” - 2009.