Teatro
TEATRO MASCARENHAS GREGÓRIO
SILVES: DAS FÁBRICAS DE GREGÓRIO MASCARENHAS AO TEATRO MASCARENHAS GREGÓRIO
Duarte Ivo Cruz
A tradição cultural de Silves realça desde logo a herança da cultura árabe e, de certo modo, a relativamente tardia integração no Reino de Portugal. David Mourão Ferreira traduziu um belíssimo poema do século XI, atribuido ao Rei Mutamid de Sevilha, onde o “Alcácer” e os Lares e o Palácio são evocados com “perpétua nostalgia”… Essa tradição subsiste de certo modo na belíssima malha urbana e tem aliás uma muito interessante expressão museológica na Casa da Cultura Islâmica, instalada desde 2007 num antigo matadouro de 1914, ele próprio de estilo revivalista árabe, hoje recuperado pelo Arquitecto José Alegria.
Mas não é de revivalismo árabe que aqui se trata agora, mas da curiosa recuperação arquitectónica e cultural de um empreendimento industrial corticeiro, iniciativa do algarvio Gregório Mascarenhas, do catalão Arturo Barris e do inglês Henri Avern.
A fabrica iniciou a laboração em 1894 e duraria 105 anos, no exacto local onde se encontra hoje o conjunto cultural denominado “Fabrica do Inglês” , e nos edifícios, devidamente adaptados com respeito à traça original da indústria e do comércio corticeiro.
No que era antes a estrutura de transformação e comercialização da cortiça, está efectivamente implantado um vasto campus cultural e turístico, envolvendo uma área de museologia industrial mas também galeria de arte, auditório, restaurantes, centro de documentação. Tudo exemplarmente restaurado pelo Município. O projecto, da Arquitecta Margarida Simões Gomes com ordenamento museológico de Jorge Custódio e Manuel Castelo Ramos, ganharia o prémio Luigi Micheletti para o Melhor Museu Industrial – 2001.
E bem próximo, o Teatro Mascarenhas Gregório, assim mesmo com uma inexplicável inversão do nome… fundado em 1909 sob traça do Arquitecto Júdice da Costa e hoje restaurado pelo Município tal como a “Fábrica”, reinaugurado em 2005 com projecto do Arquitecto José Pedro Castanheira, ocupa um quarteirão urbano e impõe-se pelo estilo eclético com um belo frontão encimando três janelas em arco e uma linha harmoniosa de cobertura ondulante, ao longo das fachadas com elementos de art deco e de arquitectura do ferro.
O interior conservou três ordens da camarotes, tendo assim resistido à tentação da rentabilidade e da melhor visibilidade: mas os camarotes têm sempre um grande valor epocal e cenográfico…
Alexandra Rodrigues Gonçalves, “A Componente Cultural do Turismo urbano como Oferta Complementar ao Produto Sol e Praia – O Caso de faro e Silves”, ed. GEPE e IFAP 2003;
Duarte Ivo Cruz “Teatros em Portugal – Espaços e Arquitectura” , ed. Mediatexto e Centro Nacional de Cultura, 2008;
Manuel F. Castelo Ramos, “Silves no Século XX – a Industria Corticeira e a Cidade” e José Manuel Fernandes, “Silves na Tradição dos Séculos XIX e XX – Aspectos Urbanos e Arquitectónicos” , ambos in Monumentos, ed. DGEMN, Setembro 2005;
Paulo Almeida Fernandes, in “Portugal Património” ed. Circulo de Leitores, vol. IX 2008.