Forte Qal’at al Bahrain (e Museu)
O emirato do Bahrain ocupa hoje um arquipélago composto por 35 ilhas na costa oeste do Golfo Pérsico, a noroeste do Qatar, com uma área total de 750 km2, das quais apenas 3 são habitadas: Barein, Umm Nassam e Al Muharraq. Segundo uma estimativa de 2009, a sua população ronda os 790 000 habitantes.
Nos nossos dias, a abastada economia do Bahrain baseia-se na exploração petrolífera, que representa cerca de 60% das suas exportações totais. Todavia, muitos séculos antes da descoberta de petróleo no seu território, o arquipélago do Bahrain era já cobiçado por diversos povos, devido à sua posição geo-estratégica no seio do Golfo Pérsico e à sua abundância dos seus recursos naturais.
Por altura das primeiras conquistas portuguesas no Golfo Pérsico, o Bahrain pertencia ao sultanato de Ormuz. Os portugueses cedo se aperceberam das vantagens de ocupar esta ilha, que para além de constituir um dos principais pontos de passagem das rotas da Índia e da China rumo à Europa, era já famosa pela abundância de aljôfar (pérolas) nas suas costas.
Após a conquista da ilha, em 1521, a Migrin Ibn Zamil, os portugueses ocuparam uma fortaleza já existente a norte da ilha, construída nos finais do séc. XIV, princípios de XV, confiando a administração da praça a um governador local, Badr al Din. A escassos metros desta fortaleza, existia uma outra, provavelmente originária do séc. III e abandonada no séc. XIII, a que os portugueses deram o nome de “Fortaleza da Costa”. Alguns materiais pertencentes a esta antiga fortaleza terão sido utilizados para as obras de ampliação e reforço da nova fortaleza portuguesa.
As obras já se encontrariam terminadas em 1529, altura em que Badr al Din move uma revolta contra o domínio português, que seria esmagada nesse mesmo ano por Simão da Cunha. Mas a ameaça não apenas interna. Na década de 50, Murad, emir do Bahrein, e D. Antão de Noronha repeliram as investidas dos Turcos, sob a égide de Paxá Mustafá, que tentavam apossar-se da ilha. A ameaça à vida era também uma constante.
Nesse contexto, Inofre de Carvalho, o arquiteto responsável pelas obras da fortaleza de Ormuz, foi incumbido de dirigir as obras de reformação e reforço da fortaleza do Bahrain. Os trabalhos iniciaram-se em 1561 e prolongaram-se por cerca de sete anos. Pela excelência técnica e de execução, o resultado final assemelhar-se-ia a outros trabalhos desenvolvidos por este arquiteto ou a ele atribuídos e é convergente com o programa de edificações militares de inspiração renascentista desenvolvido pelos portugueses em outros pontos do império, como Tânger, S. Salvador da Baía, Diu e Mazagão.
Abandonada em 1650, quase meio século após a expulsão dos portugueses por Abbas I, em 1602, a fortaleza entrou em processo de ruína. O complexo de Qal’at al Bahrain, tal como o encontramos hoje a cerca de 10 km a oeste de Manama, capital do emirato, é resultado de várias campanhas de escavações arqueológicas e de recuperação da estrutura da fortaleza, levadas a cabo entre 1954 e 1970, por equipas dinamarquesas, entre 1977 e 1987, por uma equipa francesa dirigida por Monik Kervan e, a partir de 1989, por Pierre Lombard, em cooperação com as autoridades baranis. Mais recentemente, a Fundação Calouste Gulbenkian patrocinou uma nova intervenção de conservação do edifício.
Apresentando testemunhos da presença humana na ilha de Bahrein desde o ano de 2300 a.C., o lugar de Qal’at al Bahrain foi considerado Património Mundial da Humanidade pela UNESCO em 2005.
Forte: aberto diariamente das 08h00 às 18h00
Museu: aberto de Terça-feira a Domingo das 08h00 às 20h00
Custo da entrada: 500 fils (visitas guiadas gratuitas mediante reserva antecipada
in série de guias "Portugal e o Mundo: o Futuro do Passado - 8 - Portugueses no Golfo Pérsico"
Vários autores: José Eduardo Franco, Maria Manuel Baptista, Ísis Halim, Ricardo Ventura, Luís Brites Pereira, Guilherme d’Oliveira Martins
CNC/Leya/D.Quixote - 2012