Museus, Bibliotecas e Arquivos
Museu do Caramulo
Com mais de 60 anos de existência e visitado por mais de um milhão e meio de pessoas, o Museu do Caramulo alberga no seu espólio uma coleção de arte, uma coleção de automóveis, motos e bicicletas e uma coleção de brinquedos antigos.
Do sonho e da vontade de Abel de Lacerda em transformar o Caramulo em pólo de atração dedicado ao turismo, cultura e saber, deixando para trás o estigma da sua vivência enquanto sanatório, nasce o Museu do Caramulo, primeiramente designado por Museu de Arte Antiga e Moderna, inaugurado a 27 de setembro de 1953 sob o lema da palavra generosidade.
Todos os colecionadores, artistas e amigos doam as suas peças de arte sem nada receber em troca, apenas a inscrição do seu nome junto da peça doada.
A morte inesperada de Abel de Lacerda, em 1957, fez evidenciar o nome de outra personalidade que ficou com os destinos do Museu do Caramulo nas mãos: João de Lacerda, médico, irmão do fundador do museu e responsável pelo aparecimento da coleção de automóveis no seu acervo.
Certo dia, em 1955, encontra um Ford T em estado de quase sucata. Pára e compra-o. Estava iniciada a melhor coleção de automóveis antigos que alguma vez se constituiu em Portugal, coleção esta que revela um profundo conhecimento da história do automóvel e da sua evolução, além de rigorosos critérios na aquisição e restauro dos diferentes veículos, respeitando as suas características de origem.
Sobre os fundadores do Museu do Caramulo
Abel de Lacerda (1921-1957): Fundador do Museu do Caramulo
por João de Lacerda
Abel de Lacerda nasceu em 1921. Bisneto, neto e filho de médicos, mas sem vocação para a medicina, decidiu cursar Ciências Económicas e Financeiras. Seu pai, Jerónimo de Lacerda criou, no Caramulo, a maior estância sanatorial da Península da Ibérica. Em 1945, morre subitamente e Abel de Lacerda é obrigado a suspender o seu curso para poder continuar a obra do pai. Irá prosseguir os estudos, em regime livre.
A paixão de Abel de Lacerda é desde sempre a arte e, pouco a pouco, ainda que com escassos recursos, vai colecionando obras e procurando relacionar-se com artistas e colecionadores. Em 1953 tem a ideia utópica de criar, no nosso país, com características absolutamente originais, um museu de colecionadores amantes das artes plásticas. Com os amigos que com ele partilhavam a mesma paixão, começa a reunir um núcleo de obras valiosas, sempre com elevado critério e cujo conjunto evidencie rigorosa harmonia.
Em curtíssimo espaço de tempo congrega cerca de cem personalidades e perto de cento e cinquenta peças, o que lhe permite fazer uma magnífica exposição no Palácio Foz, em Lisboa, inaugurada pelo Chefe de Estado, General Craveiro Lopes, e por membros do Governo. Esta exposição lança para o conhecimento do grande público o que virá a ser o Museu do Caramulo, que ele queria dos particulares e da generosidade. De imediato, começa a pensar nas instalações que irão albergar a coleção em crescimento, decidindo-se pelo Caramulo.
Viaja, estuda, planeia e inicia a construção. Morre prematuramente, num trágico acidente, em 1957. Não teve tempo para consolidar a sua obra nem para criar o seu suporte jurídico. Mas era imparável a dinâmica e a energia gerada. Em 1958, amigos e doadores criam a Fundação Abel de Lacerda e dão personalidade jurídica à sua vontade. Em 1959, com o estatuto de utilidade pública, é inaugurado, com pompa e circunstância, o Museu do Caramulo – Fundação Abel de Lacerda, que vem acrescentar ao património nacional um valor inestimável.
Em seis anos estava realizado o sonho. Parecia utópico mas, pela primeira vez em Portugal existia, na realidade, um pequeno grande museu constituído por obras excecionais. Graças à iniciativa e ao empenho de Abel de Lacerda e ao mecenato dos portugueses que com ele acreditaram no projeto, foram trazidas para Portugal obras que estavam dispersas pelo Mundo e que, de outra forma, dificilmente teriam voltado para o território nacional. São disso exemplo as célebres tapeçarias manuelinas, de Tournai.
O Museu do Caramulo foi já visitado por mais de um milhão de pessoas. Sempre independente, pertence aos seus doadores, cujo número todos os anos se renova. Dispõe de um notável acervo de peças cuja escolha obedece ainda aos critérios de qualidade e valor impostos por Abel de Lacerda, o que lhe permite manter a mesma harmonia e interesse, pouco vulgares em instituições que aceitam dádivas ou mesmo heranças.
Abel de Lacerda com Pablo Picasso em 1957
João de Lacerda (1923-2003): Continuador da Obra
por Pedro Corrêa de Barros
João de Lacerda nasceu em 1923, no Caramulo. Após completar o liceu decide seguir a tradição dos seus antepassados e forma-se na Faculdade de Medicina de Lisboa. Desde logo inicia a sua especialização em Pneumologia, trabalhando com tisiologistas de renome. Terminados os estágios, assume a função de Diretor Clínico da Estância Sanatorial do Caramulo.
Com a morte de seu irmão Abel, em 1957, num trágico acidente, no qual ele fica gravemente ferido, vê-se na contingência de assumir a Direção da Estância e abandona a medicina.
Como desde pequeno sempre teve a paixão das obras, fruto de um acompanhamento permanente de seu pai, assume também a direção da Junta de Turismo do Caramulo e dinamiza de uma forma imparável o crescimento e embelezamento da sua terra, o Caramulo. Dava assim continuidade à grande obra de seu pai, o Dr. Jerónimo de Lacerda, que foi pioneiro na criação de uma povoação modelo para a altura, com água canalizada ao domicílio, eletricidade a partir de uma barragem própria, rede de esgotos com ETAR, sistema de recolha de lixos com forno crematório e jardins e verde numa proporção nunca vista. Com justiça pode-se dizer que se Jerónimo de Lacerda criou o Caramulo, João de Lacerda deu-lhe a projeção que o tornou conhecido no país e fora dele.
Trabalhador incansável, dedica todo o seu tempo e força à sua terra, completando e dando forma à ideia iniciada pelo seu irmão Abel, a construção do edifício do museu, o que consegue em tempo recorde. É João de Lacerda que cria a Fundação Abel de Lacerda, em homenagem a seu irmão, e é ao seu carinho e empenho que se deve, quase que exclusivamente, aquilo que é hoje o Museu do Caramulo.
Certo dia, encontra um Ford T em estado de quase sucata. Para e compra-o. Estava iniciada a melhor coleção de automóveis antigos que alguma vez se constituiu em Portugal. Perfecionista e criterioso, reconstrói meticulosamente os automóveis que vai adquirindo, dando-lhes a grandeza e autenticidade dos tempos em que circulavam pelas estradas do nosso País.
Na sequência de uma sugestão do Presidente Américo Thomaz, a quando de uma visita ao Museu do Caramulo, decide expor a sua coleção e cria aquilo que fica conhecido como o Museu Automóvel do Caramulo, inicialmente instalado no piso térreo do edifício da Fundação Abel de Lacerda e mais tarde em edifício próprio, construído a expensas próprias e com a ajuda de algumas empresas de petróleo e inaugurado, com pompa e circunstância, em 1970, pelo governo.
Com a sua enorme dinâmica, João de Lacerda leva, por convite, os seus automóveis a participar numa centena das mais conhecidas e prestigiadas provas para automóveis antigos e de coleção, como sejam o London-Brighton, a Louis Vuitton China Run, o Bordeaux-Paris, as Mille Miglia, o Rally de Monte-Carlo, entre outros, onde acumula prémios e louvores. A sua arte de conduzir e o impecável estado das mecânicas, com que apresenta os automóveis, granjeia-lhe a ele e ao Museu do Caramulo enorme respeito e prestígio internacional.
João de Lacerda nas Mille Miglia (Itália) no Mercedes Benz 300 SL de 1955. Ao fundo está Enzo Ferrari.
O Museu do Caramulo está aberto todo o ano, exceto na véspera de Natal e dia de Natal de manhã, dia 1 de janeiro de manhã, Domingo de Páscoa de manhã e Segunda-feira de Páscoa.
Horário de verão: Das 10.00 às 13.00 e das 14.00 às 18.00.
Horário de inverno: Das 10.00 às 13.00 e das 14.00 às 17.00.