Personalidades
Mário de Sá-Carneiro
Pelas três da tarde de 19 de Maio de 1890 nasce, no 3º andar do nº 92 da rua Conceição em Lisboa, Mário de Sá-Carneiro. É baptizado a 22 de Junho de 1892 na Rua Igreja de S. Julião e dois anos depois passa a viver com os avós na Quinta da Victória em Camarate. Com apenas nove anos de idade escreve as suas primeiras peças de teatro, que ele próprio representa para a família e para os empregados da quinta. Depois de ingressar no Liceu do Carmo, actual Escola Veiga Beirão, começa a escrever poesia.
Em 1903 muda-se para a Travessa do Carmo e no ano seguinte viaja pela Europa com o seu pai. A sua primeira publicação chegaria nesse mesmo ano com o jornal “académico com pretensões a humorístico” o Chinó. Em 1905, com apenas 15 anos de idade, Sá-Carneiro traduz poesia de Victor Hugo e o Clarim de Déreulède e vê proibida a venda do Chinó pelo pai, por este o considerar demasiado “humorístico” para certos professores. Em 1906 começa a frequentar o Liceu de S. Domingos e traduz Goethe, Heine e Schiller e escreve ainda monólogos cómicos em verso. No ano seguinte participa numa récita a favor das vítimas do incêndio da Rua da Madalena, representando o papel de Marquês de Montfier na peça, D. César de Bazan e escreve três poemas que não publica. Em 1908 inicia as suas colaborações na revista Azulejos, onde viria a publicar alguns dos seus poemas e contos. É autor, nesse mesmo ano, da peça teatral «A Morte da Louca», sob o nome de Sirconera (anagrama de Sá-Carneiro). Já no liceu Camões, Sá-Carneiro escreve o poema «Curtes aí no Leito» que dedica ao colega Milton de Aguiar e principia a escrever a peça «Amizade», porventura a sua primeira grande criação, em conjunto com Tomás Cabreira Júnior, seu amigo e colega de liceu, que viria a suicidar-se em 1911.
Em 1910 publica em O Século o artigo «O Eterno Obstáculo» onde faz um elogio ao Liceu Camões. Com o suicídio, Tomás Cabreira Júnior destrói todos os seus escritos, e só por mero acaso, o manuscrito de a «Amizade», não estava consigo, mas sim com Sá-Carneiro. Antes de concluir o liceu, profere a conferência sobre “A situação poética nacional”, organizada pela Associação Académica do Liceu Camões. Em 1911 ingressa na Faculdade de Direito em Coimbra e nesse mesmo ano, o autor de «A Confissão de Lúcio», escreve o poema “A um Suicida”, dedicado a Tomás Cabreira. Por essa altura, abandona Coimbra e o curso e regressa a Lisboa, escreve ainda o monólogo «Beijos». A sua actividade literária continua e cresce nos anos seguintes com a publicação nomeadamente do volume de novelas «Principio». Conhece Fernando Pessoa mas parte para Paris onde se inscreve no curso de direito. Nesta cidade convive com Santa-Rita Pintor e escreve a peça «Alma» em parceria com A. Pence de Leão, publica ainda «A Confissão de Lúcio» e o livro de poemas «Dispersão».
1914 é o ano em que Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, Almada Negreiros e Luís de Montalvor concebem em Lisboa a revista Orpheu da qual sairão dois de três números. No terceiro número da revista, participam Ângelo de Lima, Mário de Sá-Carneiro, Raul Leal, Violante de Cysneiros, Luís de Montalvor, Fernando Pessoa e Álvaro de Campos, texto que foram publicados por falta de verbas. «Céu em Fogo» chega em 1915 ano em que regressa a Paris onde se corresponde com Fernando Pessoa. No ano seguinte conhece uma mulher que procura demovê-lo de um suicídio já anunciado há muito. No dia 26 de Abril, às 8 da noite, Mário de Sá-Carneiro suicida-se, ingerindo cinco frascos de arseniato de estricnima.
Fim
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza…
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro!
~ Mário de Sá-Carneiro