Personalidades
António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz
Nasceu em Avanca, na Beira Litoral, a 29 de Novembro de 1874, vindo a falecer em Lisboa, a 13 de Dezembro de 1955. Foi no seu tempo, um dos mais ilustres homens da ciência, tendo ainda orientado as suas excepcionais capacidades intelectuais para outros sectores, nomeadamente, a diplomacia, a política, as letras e o professorado. Com o pai ausente Moçambique, Egas Moniz é por essa razão, educado pelo tio, abade da aldeia onde nascera. Ingressa no Colégio Jesuíta de São Fiel, mas acaba por não seguir a vida eclesiástica. Com 17 anos matricula-se na Universidade de Coimbra, e aos 25 anos, faz o doutoramento na Faculdade de Medicina desta cidade. Pouco tempo depois, em 1902, é nomeado professor substituto, desta instituição. Em França frequenta as clínicas neurológicas de Bordéus e Paris, tendo trabalhado com ilustres neurologistas - Pitres, Abadie, Régis e Raymond, Pierre Marie, Déjerine e Babinski. Faz parte, em 1911, do corpo docente da Faculdade de Lisboa (da qual seria director a partir de 1929), como professor catedrático, onde rege a cadeira de Neurologia, criada na altura pela Reforma Universitária da República. Em 1927, realizou a primeira angiografia cerebral humana, que permitiu a visualização das artérias e vasos sanguíneos do cérebro e deu a conhecer, a sua complexidade funcional, a patologia e a localização de tumores cerebrais. Em 1935 concebeu e executou uma intervenção cirúrgica cerebral, a leucotomia pré-frontal, operação esta, que possibilitava o tratamento de certas doenças mentais e contribuía para o início da cirúrgia psiquiátrica, rapidamente adoptada pelas principais clínicas da especialidade, no mundo. Recebeu os mais honrosos galardões e prémios pelas suas investigações, dos quais se salientam: o Prémio da Faculdade de Medicina de Oslo, em 1945; pela investigação no campo da angiografia cerebral, e o Prémio Nobel da Medicina e Fisiologia, em 1949, pela descoberta da leucotomia pré-frontal. Foi membro honorário de prestigiadas instituições científicas, nacionais e estrangeiras, e por diversas vezes, em diferentes anos, exerceu a presidência da Academia das Ciências de Lisboa. Trabalhou intensamente até ao fim da sua vida na clínica particular e no hospital de Santa Marta, onde estabeleceu uma autêntica escola de neurologia e neuro-cirúrgia. Entre a sua extensa bibliografia científica e médica, destacam-se as obras: A Neurologia na Guerra, (Lisboa, 1917); Diagnostic des tumeurs cérébrales et épreuve de l'encephalographie artérielle (com prefácio de Babinski, Paris, 1931); L'angiographie cérébrale, ses applications et résultats en Anatomie, Physiologie et Clinique (Paris, 1934); Tentatives Opératoires dans le traitement de certaines Psychoses (Paris, 1936); Clinica della Angiographie Cerebral (Torino, 1938); Die Cerebrale Arteriographie und Phlebographie (Berlim, 1940); Trombosis y Otras Obstrucciones de las Carotidas (Barcelona, 1941); Conferências Médicas (Lisboa, 1945-47). Publicou ainda numerosos trabalhos em revistas de carácter científico. Dedicou-se também a escritos fora do âmbito da medicina, designadamente, biografias de personalidades históricas e do mundo das artes, discursos políticos e académicos. Relativamente à política, onde se iniciou bastante cedo, Egas Moniz foi imbuído pelo espírito liberal de certas correntes político-sociológicas, tendo sido eleito deputado por diversas vezes entre 1903 e 1917. Devido às suas ideias, em determinado momento desse período, em 1916, foi preso, e no ano seguinte, com vários dissidentes do Partido Unionista, fundou o Partido Centrista, que durou até ao início do governo de Sidónio Pais. Chegou a embaixador de Portugal em Madrid, presidiu a delegação portuguesa à Conferência de Paz, em Versalhes, e exerceu o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros, em 1918.