"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Personalidades

Gil Vicente

Distrito: Braga
Concelho: Guimarães

Tipo de Património
Personalidades
Biografia

Nasceu em Casal do Lage, freguesia de Urgueses, perto de Guimarães, cerca de 1470, e provavelmente terá falecido na sua Quinta do Mosteiro, em Torres Vedras, no final de 1539 ou início de 1540; por sua determinação testamentária os seus restos mortais foram trasladados para junto dos da sua esposa, D. Branca Bezerra, na Igreja de S. Francisco de Évora; era filho de Martim Vicente, ourives de prata, em Guimarães e, segundo outros, era filho de Luís Vicente, irmão do ourives Gil Vicente, ambos filhos de Gil Fernandes, também natural desta localidade. De origem humilde, foi no conhecimento sobre crendices e superstições do povo que construiu toda a sua obra literária. Efectuou os seus primeiros estudos nas escolas da Colegiada da Oliveira e, simultaneamente, terá aprendido todos os segredos de ourivesaria com seu pai e outros familiares. Mais tarde, terá ido para Lisboa, com o objectivo de continuar os seus estudos, acompanhado por seu tio e padrinho de baptismo.

Na Universidade revelou logo ter vocação para a poesia, embora se destinasse ao estudo da Jurisprudência, que mais tarde abandonou para se dedicar exclusivamente à arte e aos trabalhos literários. Através das suas obras é notória a cuidada educação que recebeu na florescente época do Renascimento. Embora fôsse estimado em toda a Corte, alguns dos seus contemporâneos menos honestos contestaram-lhe os seus méritos artísticos e literários.

Casou duas vezes, primeiro com Branca Bezerra, oriunda de uma família ilustre de Torres Vedras, a qual faleceu cerca de 1514, em Évora, a quem Gil Vicente compôs em sua memória um talentoso epitáfio. O seu segundo casamento foi com Melícia Rodrigues. Destes enlaces teve, pelo menos, os seguintes filhos: Belchior, que foi moço da capela real; Paula Vicente, que foi tangedoura e moça da câmara da Infanta D. Maria, e que obteve o privilégio da impressão das obras de seu pai, em 1561; Luís Vicente, moço da câmara do Príncipe D. João, em 1552, e que dez anos mais tarde publicou as obras de seu pai; e, por último, Valéria, que no início de 1553 já estava casada com o moço da câmara de El-Rei, Pedro Machado, de quem deve ter enviuvado pouco tempo depois. Casou pela segunda vez, com D. António de Almeida, de quem teve sete filhos. Desconhece-se quando é que Gil Vicente entrou ao serviço de D. Leonor, viúva de D. João II. No final de Fevereiro de 1509, foi nomeado vedor de todas as obras de ouro e prata mandadas executar para o Convento de Tomar, Hospital de Todos os Santos de Lisboa e Mosteiro de Belém.Por carta de D. Manuel, datada de Évora em 4 de Fevereiro de 1513, Gil Vicente foi nomeado Mestre da balança da moeda da cidade de Lisboa, tal como o tinha sido até aí Fernão Gil. Em 1521, transitou do serviço de D. Leonor para o de D. João III.

No entanto, nem toda a complexa vida deste artista é conhecida. Sabe-se que o período da sua actividade artística e literária decorreu entre 1502 e 1536, época em que se fêz notar, tendo participado nas festas da Corte promovidas por D. Leonor, D. Manuel e D. João III, quer nos paços da Ribeira quer nos do Castelo ou de Santos-o-Velho, assim como noutras localidades por ocasião dos longos estágios em Almada, Almeirim, Caldas da Rainha, Coimbra, Tomar e, sobretudo, em Évora.

O enorme talento poético e artístico de Gil Vicente teve início a 7 de Junho de 1502, por ocasião do nascimento do príncipe D. João, depois de D. João III, em honra do qual escreveu e representou o Monólogo do Vaqueiro ou da Visitação, no paço real, na Câmara da Rainha, quando do seu parto.
A primeira representação agradou tanto à Infanta D. Beatriz, mãe de D. Manuel, que pediu de imediato ao poeta que repetisse a mesma cena, pelas matinas do Natal. Como o autor a achava um pouco simples, escreveu outra melhor, para a substituir, com o título Auto Pastoril Castelhano, no mesmo ano, onde uma vez mais pôs o seu talento em evidência. Obteve muitos outros sucessos, tendo sido encomendado outro auto para o dia de Reis - Auto dos Reis Magos.

Subscreveu, sucessivamente, 44 trabalhos, em 34 anos, sendo 16 em português, 11 em espanhol e 17 em bilingue. Viveu, com a Corte, durante longos períodos em Évora, nos Paços Reais de S. Francisco, onde terá escrito e representado alguns dos seus mais notáveis autos, entre os quais: Comédia de Rubena (1521); Auto Pastoril Português (1523); Fragoa de Amor (1524); Auto das Ciganas (1525); Acmagem de Agravados (1533); Auto de Mofina endes (1534); Floresta de Enganos (1536). Este brilhante autor é considerado o fundador do Teatro Português.

Fonte de informação
CNC / Patrimatic
Data de atualização
18/11/2008
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