Personalidades
André de Resende
Célebre antiquário e humanista, nasceu cerca de 1500 (1506?) e faleceu a 9 de Setembro de 1573, sendo sepultado no claustro do Convento de S. Domingos, onde iniciou a sua vida de eclesiástico. Filho de Pedro Vaz de Resende e de D. Ângela Leonor de Góis, ficou órfão de pai com apenas dois anos. Embora com grandes dificuldades, sua mãe dá-lhe a melhor educação. Mais tarde, ingressou na Ordem de S. Domingos. O seu comportamento valeu-lhe a estima e protecção dos padres-mestres, que se orgulhavam de o ter como pupilo. Assim, mandaram-no completar os seus estudos nas universidade de Alcalá e Salamanca, onde teve por mestres António Lebrija, Aires Barbosa e Nicolau Clenardo, os quais lhe deram lições de latim, grego e hebraico.
Após se ter doutorado em Salamanca, e já famoso, ingressou na Universidade de Paris, onde voltou a triunfar. D. Pedro de Mascarenhas, embaixador de Portugal junto de Carlos V, deu-lhe a honra de o apresentar junto do poderoso soberano, que apreciava o convívio com homens ilustrados. No entanto, regressou subitamente a Portugal, segundo uns por ter falecido sua mãe, segundo outros por ter sido chamado por D. João III, para ingresar como lente na Universidade de Coimbra.
Presume-se que tenha regressado em 1534, pois no anterior assistiu em Bruxelas às festas de gala promovidas pelo embaixador de Portugal naquela Corte, em honra do nascimento do infante D. Manuel, durante as quais pronunciou a oração em latim.
Em Outubro desse ano pronunciou a oração de sapiência na abertura da Universidade, na altura em Lisboa. Contudo, encontrou certa hostilidade num sector da Corte, o qual não aceitava bem a expansão cultural deste humanista, adquirida ao longo de vários anos de estudo, e o convívio com as maiores sumidades europeias do seu tempo.
D. João III forçou-o a utilizar-se da sua vasta erudição em línguas clássicas como mestre dos infantes D. Afonso e D. Duarte. Assim, para melhor desempenhar a sua missão, obteve autorização do Papa para se transferir da Ordem de S. Domingos para clérigo secular. Ao mesmo tempo, superintendia a cadeira das Humanidades na Universidade.
No acto inaugural de 1551, ainda pronunciou a oração de sapiência mas, após mais quatro anos deixou a cátedra por imposição. Nessa altura, fixou-se definitivamente em Évora, onde criou uma aula de Humanidades numa casa que mandara construir, na actual Rua Mestre Resende onde, segundo a tradição, terá nascido. Aí também guardava os cipos e lápides latinas que ia adquirindo, tendo sido considerado o primeiro museu de Évora. Após a criação da Universidade Henriquina, em 1559, foi dada ordem régia para a dissolução de todas as aulas particulares, para evitar a concorrência com os estudos oficiais, com excepção de Mestre André de Resende, que não aceitou. A partir dessa altura, dedicou-se aos estudos arqueológicos. A ele se devem os primeiros estudos epigráficos romanos em Portugal. No Sínodo diocesano de Évora, convocado em 1565 pelo arcebispo D. João de Melo, pronunciou um sermão, mais tarde impresso. O Cardeal D. Henrique encarregou-o de elaborar os decretos do concílio provincial de Lisboa, em 1566. Por encargo de D. Diogo de Sousa, arcebispo de Braga, compôs um poema sobre a fundação desta cidade.
A 30 de Julho 1839, por diligências da Câmara Municipal, as suas cinzas foram trasladadas para um novo jazigo, com um epitáfio em latim da autoria do dr. Cunha Rivara.
Deixou diversas obras manuscritas, entre as quais: Crónica Lusitana, de que se serviu Frei Bernardo de Brito; tradxução do Livro de Arquitectura, de Leão Baptista; dois livros sobre Aqueductos, escritos em 1543, quando D. João III mandou reparar o aqueduto de Sertório, em Évora; a Vida do Infante D. Duarte, entre outras.
Publicou um epicédio, em 1533, pela morte de um príncipe estrangeiro (Bolonha), que em 1600 se imprimiu em Colónia; Genettriacon, relação em latim das festas celebradas em Bruxelas, em honra do nascimento do infante D. Manuel; História da Antiguidade da Cidade de Évora (1553); A Santa Vida e Religiosa Conversão de Fr. Pedro, porteiro mo mosteiro de S. Domingos de Évora; Vida de S. Fr. Gil, em latim, que Leitão Ferreira diz ter sido copiado de um manuscrito de autor contemporâneo do Santo.
Após a sua morte, foram publicadas algumas obras manuscritas: De Antiquitalibus Lusitanae, considerada obra capital, constituída por quatro livros (1593), em Évora.
Foi, também, compositor de música de mérito.