Centros Históricos
Vila de Sintra, um verdadeiro Tesouro Histórico
O micro clima da Serra de Sintra, a proximidade do mar e do estuário do Tejo, e a fertilidade das terras em redor, favoreceram a presença humana nesta região desde épocas muito recuadas. São disso testemunho os povoados neolíticos de S. Pedro de Penaferrim e da Rua das Padarias, o povoado calcolítico de Penha Verde, a tholos da Bela Vista e o povoado da Idade do Bronze do Castelo dos Mouros.
Mais tarde, os romanos da tribo Galéria estabeleceram aqui villae; numerosos vestígios foram encontrados na área compreendida entre Sintra e Mafra, principalmente pedras epigrafadas (cipos e aras) que se podem observar no Museu Arqueológico de Odrinhas e que constituem uma das mais ricas coleções do país, no seu género.
Na Vila de Sintra detetaram-se vestígios que apontam para a presença de um povoado ocupado desde o séc. II-I a.C. ao séc. V d.C..
O período muçulmano está bem documentado, sendo vulgares ainda hoje, os topónimos de origem árabe em Sintra e no seu termo, que nos recordam a influência que teve aqui aquela cultura.
Existem referências de autores árabes, como a do geógrafo Al-Bacr (séc. X), que mencionam a povoação dependente de Lisboa no Andaluz, e próxima do mar; outras definem-na como o núcleo populacional mais importante desta região, logo a seguir a Lisboa. São também referidos os seus excelentes pomares que produziam frutos de assinalável tamanho.
Dois castelos existiam em Sintra neste período: um, que ainda subsiste, conhecido por Castelo dos Mouros (ou de Sintra) aproveitou um dos pontos altos e estratégicos da Serra; o outro, no sopé, sobre o provável povoado proto-histórico romanizado, onde se localizaria a vila e alcáçova muçulmana, foi bastante transformado ao longo dos tempos, dando origem ao Paço da Vila.
O primeiro, é uma construção provavelmente do séc. IX, destinado a servir de atalaia e defesa de uma região que foi disputada até ao séc. XII por mouros e cristãos. No seu interior encontram-se silos árabes escavados na rocha.
Recorde-se que o castelo dominava férteis várzeas agrícolas onde trabalhavam os habitantes do campo - çahroi -, palavra que derivou em "saloio" e que ainda hoje serve para designar as populações rurais dos arredores de Lisboa que tradicionalmente cuidam das hortas e pomares.
Pouco tempo depois da conquista de Lisboa (1147), com a ajuda dos cruzados o castelo de Sintra rende-se ao primeiro rei português D. Afonso Henriques. Uma pequena ermida românica foi edificada por ordem deste monarca no perímetro das muralhas, a fim de assinalar a tomada do castelo. Muito cedo ficou em estado de ruína, em parte devido à construção no séc. XVI, da nova matriz de S. Pedro na base da Serra e mais próxima do núcleo populacional.
Com o objetivo de incentivar o povoamento do aglomerado, em 9 de Janeiro de 1154 foi outorgada Carta de Foral à Vila de Sintra, cujos privilégios seriam confirmados por D. Sancho I em 1189. O concelho viria a ter quatro freguesias, respetivamente: S. Pedro de Penaferrim, cuja matriz ficava junto do castelo; S. Martinho, com a matriz no centro da Vila; e posteriormente, Santa Maria e S. Miguel, com sedes paroquiais no Arrabalde. Após a Reconquista coabitavam no município, judeus, mouros e cristãos. Sabe-se que existiu uma Judiaria, e que um importante núcleo de mouros libertos se havia fixado em Colares, pelo menos até ao reinado de D. Dinis.
A Vila foi por diversas vezes propriedade de rainhas, mas esta situação deixou de se verificar a partir da dinastia de Avis. D. João I (1385-1433) realizou importantes remodelações no Paço de Sintra, transformando-o numa construção gótico-mourisca onde se destacam duas imponentes chaminés cónicas.
As experiências arquitetónicas complementares feitas neste Paço Real de raiz árabe, espelham uma nova realidade - a de um monarca que é o senhor de Ceuta após a tomada da praça marroquina em 1415, cuja data marca o início da expansão portuguesa e da formação do império.
Foi também no Paço que nasceu e morreu D. Afonso V (1433-1481) monarca que conquistou diversas praças do Norte de África, e que foi aclamado rei D. João II (1481-1495) cuja visão política e estratégia permitiram o desenvolvimento das Descobertas.
A Vila e o seu termo sofrem um novo impulso com D. Manuel I (1495-1521). O Paço teve obras e constituiu até finais de seiscentos, um dos principais lugares de residência de reis e Corte. Sintra durante esta época torna-se um centro visitado por artistas e humanistas que espelham uma vida palaciana culta. O Paço de Sintra está também ligado à queda do império; foi aqui que D. Sebastião decidiu empreender o combate aos mouros em Alcácer Quibir (1580), fatídica empresa da qual este rei não regressaria, deixando vago o trono português e que teve como consequência a perda da independência face à Espanha.
Depois da Restauração da Independência em 1640, Sintra deixa de ser o núcleo onde era habitual a estadia do rei, passando a ser no período barroco, o Palácio de Mafra, e mais tarde o Palácio de Queluz, ambos relativamente próximos de Sintra.
Outros factos da História de Portugal desenrolaram-se no Paço - o desditoso rei D. Afonso VI foi deposto e passou ali os restos dos seus dias encarcerado.
Com o terramoto de 1755, grande parte da Vila Velha necessitou ser reconstruída, tendo sido feitas no antigo traçado urbano várias alterações.
Nos finais do séc. XVIII e o séc. XIX, viajantes, escritores, aristocratas e burgueses instalam-se em Sintra e desenvolvem nela um ambiente romântico pejado de exóticos jardins, palácios e chalets, que fazem do lugar um sítio único e referencial.
No séc. XIX, os diversos planos de desenvolvimento agrícola e a criação de eixos viários - estrada para Cascais e caminho-de-ferro para Lisboa -, originam uma significativa expansão urbana na Vila. O Bairro da Estefânia, construído já neste século é um dos núcleos principais que adquire importância após a inauguração da linha férrea. Entre este bairro e a Vila Velha foi construída, no início do séc. XX, a Câmara Municipal. Esta área apesar de constituir um centro cívico e administrativo, contudo não fez desaparecer como espaço social o antigo largo do Paço. Atualmente são três os principais núcleos habitacionais- a Vila Velha, a Estefânia e S. Pedro.