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Centros Históricos

Sortelha

Distrito: Guarda
Concelho: Sabugal

Localização
Sortelha é uma freguesia portuguesa do concelho do Sabugal
Tipo de Património
Centros Históricos
Época(s) Dominante(s)
Medieval, Moderna
Descrição

Freguesia do concelho e comarca do Sabugal, situada a 14 km a Sudoeste da sede do município, Sortelha foi uma das mais antigas vilas do país, cabeça de concelho integrado até 1855 no distrito e bispado de Castelo Branco. A vila foi erguida a uma altitude privilegiada, de 760 metros, permitindo um domínio amplo do vale do Coa e da Serra da Malcata. A paisagem envolvente caracteriza-se por uma estrutura montanhosa coberta por vegetação de transição com carvalhais e grandes extensões de coníferas, e ainda vestígios de matas de composição mediterrânica. Trata-se de uma região intermédia entre o planalto da Guarda-Sabugal, abrangido pela Meseta Ibérica, e as planuras da Beira Baixa. Tendo a Sudoeste a Serra de S. Cornélio, elevada a cerca de 1000 metros, Sortelha localiza-se numa zona com encostas muito declivosas, onde os terrenos agrícolas ricos contrastam com os solos graníticos e escarpas vincadas.


Portas da vila de Sortelha

Pelos vestígios arqueológicos encontrados, pode concluir-se que o povoado foi reduto fortificado desde o Neolítico, transformando-se, mais tarde, em castro lusitano aculturado pela romanização. Alguns vestígios da ocupação romana, nomeadamente parte da estrutura viária (Viam Veterum), desde a Porta Poente até ao Chafariz da Azenha, revelam a importância que a povoação tinha no quadro da estrutura administrativa e da economia regional. A tipologia de castro lusitano-romano haveria de ficar para sempre marcada na imagem do conjunto, onde o natural e o construído se interpenetram. A muralha, apesar de sucessivas reconstruções, apresenta ainda alguns núcleos com sistema construtivo rudimentar de pedras sobrepostas e articuladas de acordo com os modelos das fortificações ibéricas pré-romanas. A própria toponímia, tal como o brasão de armas, traduzem bem as antigas funções e atividades guerreiras dos seus habitantes. Sortija ou Sortília foram as designações antigas que originaram Sortelha, vocábulo que se refere a um jogo antigo de cavaleiros que consistia em enfiar a ponta da lança num arco decorado com pedras preciosas. Tratava-se de um ritual bélico e lúdico de grande valor simbólico. Esta identificação ajustava-se também à forma redonda do perímetro muralhado.

Num território devastado pela reconquista e pelas lutas entre os reinos medievais ibéricos, a povoação foi refúgio de quantos nela se recolheram, perante as investidas de mouros e cristãos. A pacificação dstas terras só se verificou a partir do século XIII, com o estabelecimento definitivo das fronteiras em terras de Riba-Coa. Para defender aquela zona raiana do território português, primeiro dos exércitos de Leão e depois das tropas de Castela, D. Sancho II ordenara já a reedificação do castelo de Sortelha e concedera foral à vila em 1228, atribuíndo-lhe privilégios especiais que reforçavam o povoamento da região, atraindo populações minhotas, especialmente de Valença. Assim, a história da vila ficaria sempre ligada à função agregadora e defensiva do seu castelo, sobretudo até à assinatura do Tratado de Alcanices, em 1297, quando a fronteira nacional avançou para Nascente e a fortificação perdeu a sua importância estratégica. Duarnte a Idade Média, a vila teve uma gafaria ou hospital com funções assistenciais aos moradores da região e aos peregrinos que passavam para Santiago de Compostela. A população, dedicada à agricultura e à pastorícia, concentrou-se no interior das muralhas em casas de granito implantadas em ruas irregulares e muitas delas incrustadas nas muralhas e na penedia, constituindo a ambiência que ainda hoje se mantém.

O castelo recebeu obras de restauro nos reinados de D. Dinis, D. Fernando e D. Manuel I, que concedeu novo foral a Sortelha em junho de 1510, reforçando a centralidade autárquica e mandando construir o Pelourinho. Nesta fase quinhentista e seiscentista, implantou-se a Misericórdia sobre o antigo hospital e algumas famílias da nobreza regional construíram as suas casas solarengas, junto do castelo e em quintas no Arrabalde. No decorrer da Guerra da Restauração, o castelo foi revalorizado, retomando a sua dinâmica defensiva. No século XIX, a reforma administrativa do Liberalismo extinguiu o concelho histórico e integrou a freguesia de Sortelha no do Sabugal, em 1855.


Praça e Pelourinho, em Sortelha

Na perspetiva socioeconómica, a vila de Sortelha tem vivido da agricultura de subsistência que, ainda hoje, ocupa grande parte da população. Na década de 60, começou a verificar-se uma grande recessão populacional, na sequência da emigração para a Europa e do êxodo para as cidades litorais. A freguesia conta atualmente com cerca de 700 habitantes, na sua maioria idosos, e no interior das muralhas têm apenas residência 34 habitantes. Alguns investimentos ao nível do comércio e turismo, e artesanato tradicional, têm ressurgido. Na década de 80 foram criadas duas associações para a promoção da cultura e atividades recreativas locais: a Associação Etnográfica e o Núcleo Cultural e Desportivo.

No que concerne ao património construído, importa caracterizar Sortelha como um notável conjunto de raiz tradicional. Sobre uma encosta bastante íngreme, que no sopé apresenta um estreito vale colorido por plantações de centeio e pequenos bosques em alameda, as ruas são sinuosas e convergem na zona intramuros, adaptando-se claramente à orografia local. A estrutura espacial do aglomerado histórico situado no interior das muralhas, apresenta uma fisionomia medieval de traçado irregular e orgânico. As ruas acidentadas, nalguns casos articuladas com escadinhas e ladeiras, são estreitas e os espaços públicos mais significativos ficam à entrada da povoação, junto do pelourinho e em frente da Igreja Matriz.

A preponderância do granito e a a sua utilização na maioria das construções, cria uma harmonia paisagística apenas pontualmente quebrada no Arrabalde (extramuros). Do património arquitetónico religioso da freguesia, merecem referência alguns elementos. Para além de um conjunto de capelas e ermidas tradicionais, como as de S.Sebastião, Santa Catarina e S. Genésio, são dignos de referência os edifícios monumentais como a Igreja da Misericórdia ou de Santa Rita, junto à Porta Poente da muralha e a Igreja Matriz de Nossa Senhora das Neves, de 1573, situada no centro da velha vila, com teto "mudéjar" na capela-mor e o altar-mor barroco. Também na zona intramuros mantem-se uma pequena capela ou estação dos Passos, do século XVIII. Dos edifícios públicos civis, destacam-se a antiga Casa da Câmara, quinhentista, reformulada no século XVIII, o antigo Hospital da Misericórdia, sobre a velha gafaria do período medieval, e ainda as Fontes do Mergulho e da Azenha. Algumas casas de habitação, mantêm um cunho tradicional, nomeadamente a Casa Paroquial, edifício medieval iniciado no século XII, a Casa Árabe, com inscrições na fachada, e a Casa do Vento que Soa. As construções solarengas do centro e do Arrabalde, apresentam características regionais como o Solar de Nossa Senhora da Conceição (séculos XV a XVII), a Casa de Santo António (séculos XVII-XVIII), e a Quinta da Corredoura (século XIX). Algumas destas habitações, localizadas tanto dentro como fora das muralhas, foram restauradas e são atualmente utilizadas para turismo no espaço rural, o que cria melhores condições para uma paragem nesta aldeia histórica.


Sortelha, vista para o Campanário

Fonte de informação
CNC / Patrimatic
Data de atualização
05/12/2012
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