Centros Históricos
Centro Histórico de Gouveia
GOUVEIA - UM CONCELHO COM HISTÓRIA
Gouveia foi elevada a cidade a 1 de fevereiro de 1988
A região de Gouveia foi habitada pelo homem desde épocas bastante remotas, existindo mesmo alguns vestígios pré-históricos, cujo exemplo mais significativo é o Dólmen da Pedra da Orca, na freguesia de Rio Torto, datado do final do período Neolítico.
Existem igualmente vestígios de civilizações castrejas, Romana e Muçulmana que aqui deixaram a sua marca. Gouveia foi palco de lutas entre Cristãos e Muçulmanos, estando em ruínas quando o rei D. Sancho I a tentou repovoar, em 1186.
Diz-se que Gouveia terá sido povoada pelos Túrdulos no século VI a.C. e, posteriormente pelos Luso-Romanos. A rainha D. Teresa doou-a em couto, no ano de 1125, os freires da Ordem de São João de Jerusalém, radicados no Mosteiro de Águas Santas, na Maia.
Gouveia apresenta um orgulhoso património, com diversos monumentos, igrejas, solares e bairros antigos de ruas tradicionais serranas. Destacam-se a imponente Igreja Matriz do século XVII, bem próxima da bonita Casa da Torre, que prima pelos seus elementos manuelinos, como as janelas, a Igreja de São Pedro, ou a interessante Igreja da Misericórdia datada do século XVIII, o Pelourinho, a Fonte de São Lázaro de 1779 ou o Solar Serpa Pimentel (século XVIII).
A natureza é um dos grandes bens patrimoniais de Gouveia, que possui belos espaços verdes e variados locais de lazer, como o Parque Zoológico, possuindo igualmente bonitos pontos como o Monte Calvário com um templo setecentista e uma vista panorâmica de excelência, assim como no Miradouro do Paixotão, ou o histórico Convento de São Francisco, hoje em dia propriedade privada, que terá sido edificado pelos Templários.
Gouveia foi elevada a cidade por lei de 1 de fevereiro de 1988.
A cidade de Gouveia tem duas freguesias. São Julião, pela sua distribuição espacial e pelo tipo arquitetónico predominante é, em boa parte e sobretudo, um aglomerado de bairros operários e populares.
De São Julião era originária a maior parte da mão de obra têxtil, que fez de Gouveia um importante núcleo fabril da região, nos séculos XIX e XX. Entre o património edificado, devem salientar-se o Convento de São Francisco, com remota fundação atribuída aos Templários; a Capela de São Miguel e a avenida Botto Machado, onde se localiza um mirante com o mesmo nome.
S. Pedro onde se destaca, entre outros, a Casa da Torre – um edifício quinhentista, com uma janela manuelina que é monumento nacional - que foi residência dos Silvas, Marqueses (velhos) de Gouveia, e que partilharam a sorte dos Távoras, seus familiares diretos, após o atentado ao Rei D. José; o Colégio dos Jesuítas, onde, funcionam hoje os serviços da autarquia, é um sumptuoso edifício, do século XVIII que foi construído como colégio para a Companhia de Jesus; a Igreja de São Pedro, que é uma pequena catedral com inúmeros detalhes e características barrocas em granito, na sua frontaria.
O Solar dos Serpa Pimenteis, Marqueses (novos) de Gouveia (hoje biblioteca Vergílio Ferreira), também com as suas evidências barrocas e que dão opulência à Praça onde se situa. Uma palavra para o Paço dos Condes de Vinhó, onde está instalado o Museu Abel Manta, com a sua magnífica coleção de arte contemporânea. Beneficiando do relevo, esta freguesia oferece dois mirantes, do Paixotão e do Senhor do Calvário, que oferecem uma perspetiva impar de toda a Beira Serra.
Mas não é só na cidade que há monumentos para ver. Mesmo ali ao lado fica Vinhó.
Pequena aldeia com 700 habitantes e que alberga história. Teve foral de D. Afonso III, em 1256. O Convento da Madre de Deus de Vinhó foi fundado em 1567 por Francisco de Sousa e sua mulher, D. Antónia de Teive, no espaço da quinta que o fidalgo possuía naquela localidade. O cenóbio foi entregue a uma comunidade de freiras clarissas, e as obras de edificação seriam concluídas em 1573.
Do conjunto conventual subsiste a igreja, atualmente sede da paróquia de Vinhó. O templo, disposto longitudinalmente, é composto pelos volumes da nave e da capela-mor, aos quais se adossam a torre sineira, do lado do Evangelho, junto à fachada principal, e uma capela lateral e a sacristia, do lado oposto. Tal como acontecia em todos os templos conventuais femininos, a entrada principal da Igreja da Madre de Deus fazia-se lateralmente, podendo atualmente ver-se o portal maneirista inserido em alfiz, sobre o qual foi colocada a pedra de armas dos fundadores.
Depois da extinção das ordens religiosas, o templo conventual foi adaptado às funções de sede paroquial, pelo que a fachada principal foi edificada no pano murário oposto à cabeceira. Apresenta portal simples, rasgado em arco abatido, com friso decorado e encimado por janela. Do lado esquerdo foi edificada a torre sineira com escada posterior.
O interior, de nave única, é coberto por teto de madeira dividido em caixotões, sendo parte deles pintados com figuras do hagiográfico. Esta cobertura foi executada no ano de 1698 a mando da abadessa Jerónima de São José. Com coro-alto em madeira, o templo possui cinco capelas laterais: do lado do Evangelho foram edificadas as capelas de Nossa Senhora de Lourdes e do Senhor dos Passos, ao lado da qual foi colocado o púlpito. Na parede oposta dispõem-se as capelas de Cristo Crucificado, com retábulo de talha dourada integrando uma Anunciação, a do Menino Jesus, fundada pela Tia Batista, freira com fama de santidade que viveu no convento na segunda metade do século XVIII e que se encontra sepultada neste espaço, e ainda a de Santo António.
O arco triunfal, em talha dourada, possui o intradorso pintado com motivos de brutesco, tendo inscrita a data 1739. É ladeado por dois altares colaterais dispostos em ângulo, com retábulos de talha dourada, o da esquerda dedicado a Nossa Senhora do Rosário, o da direita a Nossa Senhora de Fátima. A capela-mor é coberta com abóbada de berço de caixotões, também pintados com temas hagiográficos.
A mais célebre e conhecida religiosa daquele convento é Soror Batista do Céu Custódia, carinhosamente conhecida por Tia Batista. Foi para o convento ainda criança, tomou hábito aos 22 anos e morreu aos 88 e foi trasladada para o túmulo definitivo em 5 de fevereiro de 1778. Nos 83 anos de vida monástica, a Tia Batista, mulher alegre e espirituosa, desempenhou funções de vigária da casa, pomareira e mestra de noviças e teria sido eleita Abadessa se, para se escusar, não houvesse usado de um risível e conhecido subterfúgio.
Na capela onde está o seu túmulo, podemos encontrar o seu Menino Jesus. O “apaixonado” amor de que foi objeto começaria por ser o escoamento da atividade lúdica e, depois, a manifestação do frustrado instinto maternal. O menino Jesus da Tia Batista, era vestido com roupas feitas por ela.
in "Museus, espaços de memória"
revista integrante da edição do Jornal do Fundão do dia 6 de dezembro de 2012