Centros Históricos
Alpedrinha
Alpedrinha está implantada na encosta Sul da Serra da Gardunha, numa cota de 550 m; a povoação domina as vastas planícies da Beira Baixa e apresenta um conjunto harmonioso de grande beleza, onde os elementos construídos formam um núcleo patrimonial notável com uma sóbria combinação de elementos populares e eruditos que se interpenetram no cenário ambiental.
Nos arredores são inúmeros os vestígios materiais e toponímicos de uma história antiga que remonta a épocas recuadas dos períodos pré e proto-histórico. Estes níveis de ocupação pré-romana foram incorporados na romanização a partir do séc. I quando a Egitânia (Idanha-a-Velha) se tornou um importante município da região e se construiu a via regional que ainda hoje pode ser identificada nalguns troços.
A beleza do sítio e a amenidade do clima propiciaram a fixação de uma nobreza regional detentora de propriedades e que aqui construiu as suas residências senhoriais e patrocionou o aparecimento de numerosas construções de carácter erudito de arquitectura religiosa e civil que ainda hoje se destacam pela sua grandiosidade e requinte, contribuindo para a imagem monumental e aristocrática deste conjunto histórico.
Embora a toponímia tenha raizes mais antigas que remontam ao final do império romano e à Alta Idade Média, com raízes num antropónimo derivado do proprietário de uma vila rústica que se manteve como casal medieval (Al Petratínia), a designação só se estabilizou com a criação do concelho. O seu desenvolvimento verifica-se sobretudo a partir do séc. XVI e, em 1675, foi instituído o concelho, numa fase em que a consolidação da independência exigia o reforço das regiões fronteiriças.
Durante o séc. XVIII, nos reinados de D. João V e D. José, atingiu nova prosperidade que lhe adveio da actividade agrícola que veio a reforçar-se com o surto industrial de outras localidades beirãs, nomeadamente, Fundão e Covilhã, ligados à exploração de minérios e à produção de lanifícios. A proximidade da estrutura viária regional e do eixo de ligação à capital, atrairam novos mercadores que construiram as suas habitações e espaços de pequeno comércio. A vila teve função de centro de veraneio e de residência de importantes famílias da aristocracia beirã que ergueram construções solarengas e edificaram equipamentos urbanos. Esta fase de grande vitalidade reflectiu-se na imagem do conjunto construído que apresenta ainda hoje a sua tipologia espacial de "rua direita" estruturante do percurso ao longo da encosta, à volta da qual se desenha um tecido irregular de vias estreitas. Nesta malha antiga foram-se erguendo construções simples, lado a lado com casas senhoriais onde prevalecem fachadas de dois e três pisos, com janelas e portadas bem rasgadas, grades nas varandas e elementos decorativos.
Apesar da extinção do concelho em 1855 com integração no do Fundão e da perda das funções administrativas de carácter concelhio, Alpedrinha manteve-se em destaque no panorama regional com um significativo número de habitantes e a coexistência de actividades rurais e comerciais. A ambiência aristocrática preserva-se na fisionomia do cenário construído e a vitalidade cultural mantém-se na dinâmica contemporânea testemunhada na Escola de Música, no núcleo museológico e na produção de artesanato.
No conjunto do património construído destacam-se:
A Igreja matriz, de raiz românica (séc. XII - XIII) remodelada na segunda metade do séc. XVI. Com fachada sóbria e portal clássico, enquadrada por duas torres sineiras, tem um qualificado espaço interior onde se evidenciam os altares com decoração clássica da época quinhentista e objectos litúrgicos ligados ao culto que deram origem a um pequeno conjunto museográfico de onde se destacam os paramentos do séc. XVI, alguns objectos de arte sacra e pinturas em tábua e tela do séc. XVIII.
A Igreja da Misericórdia, exemplar representativo da arquitectura maneirista do final do séc. XVI e do início do séc. XVII, com fachada simples onde se rasga um nicho com a estátua de Nossa Senhora do Socorro acima do portal e interiores ricamente decorados com talha e imaginária barroca.
A Capela do Leão de invocação de Santa Catarina, pequeno templo que apresenta elementos do gótico final e da renascença com destaque para a fachada onde ressalta o portal clássico de tipo renascentista com arcos de volta perfeita e medalhões clássicos atribuído ao escultor Nicolau de Chanterenne ou à sua oficina. Esta construção está ligada à figura notável do Cardeal D. Jorge da Costa (1406-1508) cuja família tinha raizes locais e ele próprio aqui nasceu e residiu temporariamente, tendo ficado conhecido como Cardeal de Alpedrinha e notabilizado pelo seu perfil de Humanista que o levou até Roma onde viveu e faleceu com 120 anos. Apresenta na fachada as armas do Cardeal e no interior um retábulo de madeira com painéis quinhentistas onde se representam os passos da vida de Cristo.
Capela do Espírito Santo - construção originária do séc. XIII, com transformações posteriores, de fachada simples e interior com altares decorados à maneira barroca.
Casa da Câmara - edifício dos antigos Paços do Concelho com fachada de cantaria onde ressaltam varandas com grades de ferro. Apresenta o escudo com as armas nacionais datado de 1680.
Casa da Comenda - grande construção senhorial com três torreões, apresenta uma estátua de raiz medieval embora possa ter sido construído posteriormente.
Palácio do Picadeiro - local panorâmico no cimo da povoação, trata-se de uma construção barroca do séc. XVIII, destinada a residência dos Jesuítas, mas que nunca ficou concluído. Pela sua escala, modo de implantação cenográfico e elementos decorativos da fachada (vergas das janelas, frontão circular, pináculos e fogaréus), pode considerar-se um notável exemplar do barroco regional.
A Fonte Monumental ou Chafariz D. João V- grande chafariz joanino construído na primeira metade do séc. XVIII, junto do acesso ao Palácio do Picadeiro com seis bicas, três delas vertendo sobre o grande tanque e emoldurado por dois lanços de escada. Em frente abre-se um grande terreiro. |
Fonte do Leão - fontanário com decoração emblemática e zoomórfica junto da Capela de Santa Catarina.
Pelourinho - testemunho das antigas funções concelhias, datado de 1675, apresenta um fuste octogonal implantado sobre plataforma em degraus e um capitel clássico do tipo jónico rematado por escudo, quinas e esfera armilar encimados por uma pirâmide.
Ermida de Santa Maria Madalena situada nos arredores da povoação é uma antiga capela. |
Ermida de S. Miguel Arcanjo - situada nos arredores da povoação é uma antiga capela com nave única e terreiro em frente da entrada.
Troço e vestígios da calçada romana.
A nível museográfico é significativo: o núcleo etnográfico constituído por objectos ligados aos usos e actividades tradicionais que testemunha aspectos da história local e que foi doado pelos habitantes e seus familiares e organizado pela junta de freguesia. O Artesanato e actividades tradicionais - é de grande interesse a oficina de móveis cujo mestre elabora peças originais e reproduções de obras antigas com grande minúcia e perfeição técnica. Património Ambiental e Paisagístico - a Serra da Gardunha é um cenário qualificado pela ambiência e pelas espécies arbóreas.