Património Material
Salinas da região de Aveiro
As suas origens são muito remotas e aparecem mencionadas num documento do ano de 959.
"Salinas", "Marinhas de Sal" ou "Marinhas" são os locais, com condições especiais, onde se procede ao fabrico de sal através do sistema de evaporação da água do mar. Esta atividade popular é considerada a mais antiga e a mais característica de Aveiro, ocupando os "Marnotos na Safra" durante quase todo o ano.
Esta atividade efetua-se da seguinte forma: começa por fazer-se a "defensão", espécie de muro de paredes paralelas, construída com "torrão", terra argilosa endurecida e cortada em paralelipípedos, aplicado com "lamas". Estas são constituídas pelo próprio lodo tirado à "baldeação", a faixa de terreno que rodeia a salina, na parte exterior. No espaço delimitado pela "defensão" é estendida a salina, sendo dividida em compartimentos intercomunicáveis; estes são agrupados em três "mãos": "comedoria", "mandamento" e "marinha".
A "comedoria" é composta pelo "viveiro" e pelos "algibés", os quais funcionam como reservatórios de alimentação para a salina. Por ocasião das marés vivas, abre-se a comporta da "defensão", possibilitando que a água da ria entre para o "viveiro" e deste, através da "trave do viveiro", para os "algibés". No "mandamento" existem os "caldeiros", os "sobrecaldeiros", os "talhos" e as "cabeceiras" - sucessão de outros compartimentos, interligados através das "bombinhas", nos quais a profundidade vai diminuindo, o grau de salinidade vai aumentando, o que permite a separação metódica de impurezas.
Na "marinha" encontram-se os compartimentos cristalizadores - os "meios de cima" e os "meios de baixo", onde se "rê o sal". No "malhadal" estão duas "eiras", nas quais o sal, depois de "rido", é acumulado em "monte". A "Safra" é o nome que se dá ao período de atividade nas salinas, dividindo-se em três fases, com datas próprias e sucessivas: a "limpeza", a "cura" e a "feitura".
A primeira efetua-se em meados de abril e os "marnotos" (homens que trabalham nas marinhas) executam os "trabalhos preparatórios"; depois faz-se o "fabrico do sal", fase intensiva de junho a setembro e a "colheita e conservação" em setembro.
Os objetivos da "limpeza" são: escoar as águas depositadas durante o inverno, na "comedoria" e no "mandamento"; reparar com "lamas" os estragos causados nas "barachas" que dividem aqueles compartimentos; remover as "lamas" do "entraval" para o "malhadal" ou "defensão"; regar e amanhar o "mandamento".
Para limpar os "meios" procede-se da mesma forma nas "andainas dos meios".
Durante a "cura" e a preceder a "feitura do sal", deve proceder-se ao endurecimento do "parcel" até que "aguente pé". Quando isto acontece, deixa de marcar "treita" ou sulco do respetivo instrumento. Procede-se, então, à "botadela" ou "botar a marinha a sal", consistindo em "meter moiras" nos compartimentos cristalizadores, águas concentradas de sal, já livres de matérias prejudiciais e, finalmente, "imoirar os meios", "tirar sal" e transportá-lo para as "eiras" através dos "passadoiros".
Cada porção de "sal rido" denomina-se "redura" e leva, normalmente, três dias a cristalizar.
A primeira canastra de sal que inicia o monte na eira chama-se "estrela".
A "feitura" consiste em "encher os montes" pela colocação do sal nas "eiras", sob a forma geométrica de um cone. Seguem-se os trabalhos de "achegar", ou seja, bater os "montes" de forma a ficarem lisos e comprimidos; "cobrir" para proteger das intempéries de inverno, com "junça" ou "bajunça", plantas nascidas nas margens da ria, junto das salinas. Terminadas estas tarefas faz-se o "alargar da salina", abrindo-lhe, durante a noite, as "bombas" que comunicam com a Ria, inundação que a submerge totalmente até à próxima primavera.