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Património Material

Embarcações Tradicionais da Ria de Aveiro

Distrito: Aveiro
Concelho: Aveiro

Embarcações Tradicionais da Ria de Aveiro
Tipo de Património
Património Material
Descrição

 

Esta região teve sempre, desde épocas remotas, contacto com outros povos e sofreram mesmo a colonização e influência de civilizações marítimas mediterrânicas muito desenvolvidas (fenícia, grega, romana e árabe), tendo o barco desempenhado sempre um papel preponderante e, desta forma, evoluído para um tipo de embarcação "sui-generis".

As condições físicas da Ria, com fundos baixos e canais abundantes, influenciaram a construção das embarcações, sempre de fundo chato ou levemente arqueado, sem quilha, calando pouca água, costado de tabuado liso, proa e popa recurvadas e erguidas, tendo vela alta de pendão. O tipo de embarcações mais semelhante só era possivel encontrar no rio Mondego.

Atualmente, existem três tipos de barcos nessa zona: o barco do mar, denominado igualmente "meia-lua", devido ao seu perfil em crescente, e o "moliceiro" de apanha de moliço na ria de Aveiro, encontrando-se em várias localidades (Furadouro, Torreira, Vagueira, Mira e Tocha), a"bateira" do mar, a qual só se encontra no Furadouro.

O "Barco do Mar" tem, geralmente, duas "proas", com pequeninos cobertos, para combater a ondulação quase constante daquela zona do mar, protegendo-se bastante da rebentação , não só à saída como no regresso da faina, pelo seu fácil movimento basculante. O fundo chato relaciona-se com as praias arenosas esparceladas onde trabalha, sendo impossível utilizar uma quilha. Pode dizer-se que são embarcações de uso diurno por só trabalharem durante o dia, de preferência com maré baixa ou meia maré, facilitando a largada devido à fraca rebentação que tem nessa altura. São poucos os lances diários de arrasto para terra que se efetuam (um ou dois, raramente três) quando o mar está muito produtivo. Trabalham entre abril e outubro, ocasião em que o mar é melhor e mais rico em carapau, sardinha, sarda, entre outras espécies costeiras. Este tipo de barcos não atingem os 15m de comprimento, têm 1,3 de pontal e 3,4 de boca. A proa apresenta uma forma aguçada, com a bica bastante elevada, contrastando com a largura do corpo, dando-lhe um aspeto invulgar. A bica da cruz geralmente é ornamentada com uma cruz ou estrela, um ramo de flores com laço de fitas de seda e, por vezes, com a imagem de um santo. A bica da popa tem menos de metade da altura da bica da proa. A pintura é de cores vivas, às faixas, apresentando painéis esguios na proa e na popa, local onde, respetivamente, é representada uma imagem votiva num círculo, a matrícula e um emblema identificador, sendo reservada a faixa central do costado para colocar o nome de batismo do barco. No castelo da proa encontra-se escrito o nome do construtor e a data da sua feitura. Utilizam dois grandes remos, os quais auxiliam bastante na largada; não possuem leme. Hoje estão todos equipados com um motor fora-borda inserido num poço à popa, o qual só é utilizado no final da travessia da rebentação e na faina. A tripulação é de cerca de 14 a 16 homens, tendo cada um uma missão específica na faina da arte de xávega e propulsão do barco. Ainda hoje estes barcos são lançados à água por juntas de bois ou até com um trator, o qual reboca o barco do limite superior das marés com a ajuda de cabos ligados aos arganéus de vante e deslizando sobre rolos. O movimento é orientado e impulsionado no fim da entrada com a muleta, apoiada num descanso próprio, na roda da popa. Este auxílio é muito importante para que se abique bem à ondulação, evitando atravessar-se ou virar-se. No entanto, estes barcos são uma pequena amostra dos existentes ainda há cerca de 20 anos, os quais tinham mais de 19m de comprimento, 1.7 de pontal e 3.5 de boca, 3.4 de altura da bica da proa e só 1.9 da bica da ré. A tripulação, por vezes, atingia 46 homens. Tinham, então, quatro longos remos com cerca de 12m, cada qual necessitando de oito homens para ser facilmente manejável.

Outro tipo de barco característico desta região denomina-se "Bateira do Mar" e é semelhante ao barco do mar, igualando os mais pequenos em comprimento e sem o exagero das bicas erguidas. Têm cercade 9m de comprimento, 2,2 de boca e 0,7 de pontal, com apenas dois remos, cada um deles manobrado por três homens, sem leme e só com arganéus à proa. Nestes barcos a pintura apresenta-se mais sóbria, reduzida a duas faixas coloridas, tendo o nome do barco escrito na porção central do costado e pinturas singelas nos painéis da proa. Utiliza-se a arte da mugiganga como aparelho de pesca de arrasto, mais simples e pequena do que a da xávega, servindo para a apanha do caranguejo. Para além das embarcações do mar existem as embarcações da ria. As "Bateiras Pequenas" são as de menores dimensões; o comprimento entre bicas varia entre 3,5 e 6,5m e quanto maiores são mais arrebitadas são as bicas. A mais pequena é a caçadeira, com cerca de 4,6m de comprimento, 0,4 de pontal e 1,1 de boca, 0,75 de altura na bica da proa e 0,6 na da popa. Estas bateiras são pintadas com uma côr única e têm apenas uma lista diferente na borda, deixando reduzidos painéis brancos à proa e popa. Por vezes, armam vela mas, geralmente, utilizam remos e varas. Atualmente, quase todas utilizam motor fora-borda inserido num poço à ré. Estas pequenas bateiras são manobradas apenas por um ou dois homens. Existe, igualmente, a denominada "Bateira Chinchorra"; ainda se encontram algumas na Torreira e chamam-se "chinchorra" por utilizarem a arte da chincha, uma rede envolvente de arrasto. As mais pequenas têm cerca de 10m de comprimento, 0,75 de pontal e 1,95 de boca, sendo a altura da bica da proa mais alta cerca de 25cm do que a da ré.Esta bateira é do mesmo tipo que as outras, com o mesmo tipo de pintura, com uma tripulação de dois ou três homens. A "Bateira Berbigoeira" é usada na apanha do berbigão e utiliza a arte berbigoeira. Tem um sarilho para rebocar o aparelho de arrasto, com uma boca com dentes de ferro como um ancinho, a qual morde os bancos arenosos onde se encontram os bivalves. Este é um género de bateiras maiores, com 13,8m de comprimento, 0,78 de pontal e 2,3 de boca, a altura da bica da proa tem 1,5 e a da popa tem 1,4m. A pintura destas bateiras é variada e nos painéis da proa está escrita a matrícula e, por vezes, o nome, assim como figuras alegóricas dos santos votivos, emblemas e sinais particulares. A bica da proa é ornamentada com a imagem de um santo e um ramo de flores com fitinhas de seda. As velas são armadas de pendão, tem um par de remos e manobram-se com longas varas. Hoje em dia, quase todas têm motor e as que usam vela têm dois tostes, um a cada borda, que diminuem a deriva que todos estes barcos sofrem, especialmente quando bolinam. Tem um leme, como os barcos maiores, sendo a tripulação geralmente constituída por três homens. A "Bateira Erveira" já tem poucos exemplares, mesmo do tipo vulgar. Utilizam-se para transportar juncos e ervagens, cortadas à gadanha nas margens e ilhotas da ria, para as malhadas ou embarcadouros; outro tipo de bateiras vulgares utilizam-se para fazer o mesmo serviço. Têm um comprimento de 6m, 0,45 de pontal e 1,2 de boca. Utilizam vela, remos e varas nas suas pequenas deslocações e a tripulação geralmente é constituída por um ou dois homens (ou mais) durante a faina. São totalmente pintados a negro ou deixam-lhes pequenos painéis na proa e popa, pintados a branco, somente com a matrícula.

 

Morada
Rua João Mendonça n.9/11
3800–200 Aveiro
Telefone
+351 234 406 300 / 4
Fax
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Fonte de informação
CNC / Patrimatic
Data de atualização
14/10/2015
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