Teatro
Do outro lado do muro: pode o teatro ter um papel na inclusão?
Um acidente grave pode transformar radicalmente o quotidiano, mas não apaga as aspirações, os afetos, o desejo de parentalidade ou rotinas mais simples, como ir às compras ou sair com amigos.

9 Mai a 18 Mai 2025
“Do Outro Lado do Muro”, com estreia marcada para 9 de maio no Teatro Variedades, no Parque Mayer, explora o poder do teatro como ferramenta de empatia e de inclusão ao mostrar-nos uma história de alguém que, ao passar a deslocar-se numa cadeira de rodas, se depara com novos desafios. Com o apoio da Associação Salvador, “Do Outro Lado do Muro” conta com texto e encenação de Tiago Torres da Silva e interpretações de Ricardo Carriço, Rita Ribeiro e Baltasar Marçal. A peça tem o Alto Patrocínio da Presidência da República e estará em cena até 18 de maio.
Há muito que Ricardo Carriço e Tiago Torres da Silva desejavam trabalhar juntos. Quando finalmente se cruzaram com tempo e propósito, rapidamente perceberam que queriam dar palco a um tema que os movia: a realidade das pessoas com deficiência motora. O teatro, acreditam ambos, é o veículo ideal para provocar reflexão, quebrar estigmas e contribuir para a mudança de mentalidades.
O ponto de partida foi claro: ouvir quem vive essa realidade. Integraram desde cedo Salvador Mendes de Almeida, fundador da Associação Salvador, escutando com atenção não só a sua história, mas também a de outras pessoas cujas vidas mudaram de um dia para o outro. “O que mais me tocou,” partilha Ricardo Carriço, “foi quando o Salvador nos disse: – as pessoas em cadeira de rodas não têm as luzes viradas para elas, e é importante que isso aconteça.”
“Desde o início, percebi que não se tratava de mais uma história sobre deficiência, mas sim de uma verdadeira vontade de aprofundar um tema ainda rodeado de muitos tabus”, conta Salvador Mendes de Almeida. “O que me cativou foi precisamente essa abordagem frontal, transparente e honesta que eles queriam dar à peça. Não queriam romantizar nem dramatizar em excesso — queriam a verdade. E foi nesse espírito que me envolvi. Para além de partilhar a minha visão e experiência pessoal, contribuí também fornecendo contactos de outras pessoas com deficiência motora que pudessem dar o seu testemunho direto. Acreditava — e continuo a acreditar — que ouvir várias perspetivas reais era fundamental para construir uma narrativa autêntica, rica e profundamente humana”, afirma o fundador da Associação Salvador.
A personagem central desta peça é Rodrigo, um jovem cantor jovem no auge da sua carreira, interpretado em dois momentos distintos da vida por Baltasar Marçal e Ricardo Carriço – antes e depois de um acidente em palco que o deixa tetraplégico. Confrontado com uma nova realidade, Rodrigo entra num processo de autodescoberta e de transformação. Rita Ribeiro dá vida à mãe, uma figura simultaneamente forte e vulnerável, que volta a ser o seu apoio em todas as horas e que, acima de tudo, não o vai deixar esquecer quem ele é. A atriz, que foi durante vários anos voluntária numa cooperativa de ensino especial, salienta este importante papel de cuidadora: “esta vida muda drasticamente, mas fica patente o amor incondicional da mãe, (…) uma das funções do teatro é abrir consciências e alertar-nos para outras realidades, as pessoas nem sempre pensam que pode acontecer-lhes a elas, a um filho”.
Tiago Torres da Silva, autor e encenador desta peça, quis mostrar de forma mais abrangente e simbólica, através do texto, que nem sempre são apenas as barreiras físicas que nos dificultam a vida ou que colocam entraves àquilo que desejamos fazer. Mas, por outro lado, escolheu trazer até ao público aspetos relacionados com a deficiência motora mais particulares e nem sempre tão conhecidos como os sentimentos por vezes ambivalentes do cuidador, a sexualidade ou a parentalidade – é “importante conhecermos o dia-a-dia destas pessoas; vivemos todos em bolhas, para mim é importante trazer mundos invisíveis para o palco, o teatro é um desses raros lugares onde podemos trabalhar a empatia”, afirma o autor.
Contribuindo ativamente para a inclusão do público com mobilidade condicionada, o Teatro Variedades, no Parque Mayer, trabalha de forma contínua para melhorar as suas condições de acessibilidade. O acesso das pessoas com cadeiras de rodas faz-se pela entrada principal ou pela entrada lateral junto da cafetaria até ao foyer, onde existe uma bilheteira adaptada e entrada direta na sala de espetáculo até aos respetivos lugares. O elevador do público conduz às casas de banho adaptadas situadas no 1º piso. É ainda possível adquirir bilhetes com 20% desconto na bilheteira online e na bilheteira física do Teatro Variedades, sendo permitido o acesso de um assistente pessoal com entrada gratuita.
DO OUTRO LADO DO MURO
Esta peça conta com o Alto Patrocínio da Presidência da República
Local: Teatro Variedades, Parque Mayer, Lisboa
Datas: 9 a 18 de maio de 2025 | quarta a sábado, 21h | domingo, 16h
Bilhetes: À venda em MEO Blueticket e nos locais habituais. 1€ por cada bilhete reverte a favor da Associação Salvador.
Duração: 80 min. | Classificação etária: A classificar pela CCE
Sessões com audiodescrição: 16 (21h) e 18 de maio (16h). Reconhecimento de palco 1h antes.
Ficha técnica
Texto e encenação Tiago Torres da Silva | Assistente de encenação Baltasar Marçal | Elenco Baltasar Marçal, Ricardo Carriço e Rita Ribeiro | Direção Musical Manuel Rebelo | Música Tim e Manuel Rebelo | Cenografia e figurinos Catarina Amaro | Desenho de Luz Tiago Torres da Silva e Catarina Amaro | Produção executiva Rebeldexclusivo | Texto e encenação Tiago Torres da Silva | Assistente de encenação Baltasar Marçal | Elenco Baltasar Marçal, Ricardo Carriço e Rita Ribeiro | Direção Musical Manuel Rebelo | Música Tim e Manuel Rebelo | Cenografia e figurinos Catarina Amaro | Desenho de Luz Tiago Torres da Silva e Catarina Amaro | Produção executiva Rebeldexclusivo
Sinopse
“Do Outro Lado do Muro”, com texto e encenação de Tiago Torres da Silva, conta a história de Rodrigo, um cantor no auge da carreira, cuja vida muda drasticamente após um inesperado acidente em palco.
Confrontado com uma nova realidade, a da deficiência motora, Rodrigo embarca numa jornada de autodescoberta, revisitando o jovem sonhador que um dia foi. Entre memórias e desafios, a peça revela a transformação humana diante da adversidade, num exercício de reencontro consigo mesmo.
A mãe é o alicerce de Rodrigo nesta caminhada: confidente, cuidadora e amiga, dividida entre a força e a fragilidade.
Com interpretações de Ricardo Carriço, Rita Ribeiro e Baltasar Marçal, e o apoio da Associação Salvador, esta peça leva ao palco do Teatro Variedades um olhar realista, sensível, por vezes até humorístico, sobre a inclusão de pessoas com deficiência motora.