Exposições
Trechos de uma paisagem interrompida
Exposição de Arne Kaiser e Leonor Hipólito.

29 Abr a 17 Mai 2025
Há muito que a paisagem portuguesa se retalhou em variadas intervenções urbanas, fazendo com que locais menos povoados, como as vilas e as aldeias atuais, sirvam de testemunho ao modo como grande parte dos seus habitantes se relaciona com a terra e sua vegetação remanescente por entre pilares de betão, auto-estradas e viadutos, pedreiras, centrais elétricas e barragens; de como vivem, o que priorizam, o que negligenciam, como pensam; que perspetiva se constrói ou se retorce à volta da índole humana.
Quem percorre o país encontra de tudo um pouco: há quem cuide da terra e quem a destrua, quem viva de quase nada e quem tudo ocupe; vê que a mão humana intervém em toda a parte numa caótica composição. Perante tal panorama, é inevitável desejar que os campos intercetados por sucata, habitações e zonas industriais se pudessem ligar aos próximos, restabelecendo-se com isso a sensação de que a natureza é o que ainda é natural da região.
Arne Kaiser tem desenvolvido, ao longo dos anos, um trabalho fotográfico que se caracteriza pelo seu olhar atento à intervenção humana tanto na paisagem urbana quanto na paisagem que se preserva mais natural. Em 2016, publicou naturally, um livro que reúne 68 fotografias no formato de passeio visual pelo Jardim da Tapada das Necessidades, em Lisboa. Mais recentemente, tem desenvolvido o seu interesse pela Região do Centro de Portugal, da qual surgem as fotografias que escolheu para juntar às esculturas de Leonor na exposição Trechos de uma paisagem interrompida.
Leonor Hipólito combina, em três esculturas, três aspectos que considera fundamentais do ser: paisagem-corpo-casa, e fá-lo apropriando-se do efeito de fragmentação enquanto estímulo à habilidade humana de reavaliar, recompor e reintegrar, que são ações necessárias caso se pretenda mudar o estado das coisas ou o estado em que nos encontramos.