Música
Recital de Piano | Sinos e recitativos: um diálogo entre o humano e o divino
O Lisboa Incomum tem o prazer de acolher o recital da pianista Taíssa Poliakova Cunha.
4 Abr 2025 | 19h30
Os sinos, tradicionalmente usados em contextos religiosos, marcam o tempo, anunciam eventos, e reúnem a comunidade, evocando um sentido de vínculo social e memória coletiva. Já os recitativos, frequentemente encontrados em óperas e oratórias, têm uma qualidade declamatória que se assemelha à fala, sendo usados para narrar enredos, criar tensão dramática, e ligar as diferentes secções de uma obra. Logo, os sinos podem ser associados ao divino e os recitativos – à dimensão humana; juntos, eles ilustram a dualidade entre o corpo e o espírito, o efémero e o eterno.
Este programa principia com os sinos festivos de Sposalizio de Liszt, uma obra inspirada no quadro (com o mesmo nome) de Raphael, que retrata o casamento da Virgem Maria com São José. Seguidamente, em Hilandarska zvona de Vuk Kulenovi?, os ecos dos sinos do mosteiro de Hilandar (no sagrado Monte Athos) evocam uma atmosfera de profunda espiritualidade. Em contraste, a Partita nº1 de Georgy Sviridov apresenta um toque triunfante de sinos emoldurados por uma violenta manifestação de sensibilidade e temperamento humanos. Para completar esta exposição campanológica, os Campanários de Luiz Costa trazem serenidade e reflexão à etapa final deste recital. Quanto aos recitativos – presentes tanto em Sposalizio quanto na famosa Sonata Dante de Liszt –, estes unem segmentos importantes das obras, revelando o seu amplo espectro dramático e ofuscando os contornos entre a voz e o piano. Na Partita de Sviridov, os recitativos aparecem sob a forma de diversos ritmos, andamentos e dinâmicas, criando várias atmosferas enquanto a obra se desenrola através dos seus sete andamentos.
A interação entre os sinos e os recitativos neste recital simboliza o diálogo contínuo entre o humano e o divino, o temporal e o eterno, oferecendo uma experiência musical rica em complexidade, contraste e significado. Através destas obras, o público é convidado a explorar a profundidade da emoção humana e a procura pela transcendência espiritual.
Entrada livre, mediante reserva para lisboaincomum@gmail.com