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Música

Há Fado no Cais com Aldina Duarte

Pela primeira vez Aldina junta em palco as pessoas que colaboraram no disco. Capicua, Bernardo Romão na guitarra portuguesa, Rogério Ferreira na viola, a Ana Isabel na harpa e a Joana no piano.

24 Mai 2025  |  19h00

Centro Cultural de Belém
Praça do Império, 1449-003 Lisboa
Texto por Miguel Lobo Antunes

Em 2004, estava eu há pouco tempo na Culturgest, ouvi na telefonia do carro um fado por uma fadista que eu não conhecia e que correspondia ao que eu na altura esperava que um dia aparecesse. Uma voz nova que não cantava fados da Amália nem se exibia  em habilidades vocais melismáticas ou outras. A letra eu não conhecia e era muito bonita e diferente  do que outras fadistas cantavam, a melodia, vim mais tarde a saber, era de um fado tradicional. Eu não sabia o que era um fado tradicional. Agora já sei, mas não digo.

Por essa altura, ouvi e vi a Aldina Duarte   a ser entrevistada pela Ana Sousa Dias na televisão e o que a Aldina dizia e revelava de si era intenso e maravilhoso. Revelava uma mulher inteligente, sensível, culta, arguta, que se exprimia muito bem e o que dizia entusiasmava-me, não eram banalidades, fazia pensar.

Decidi, esta artista tem de ir cantar à Culturgest. Falei do assunto ao Jorge (Silva Melo). É claro que ele conhecia a Aldina! Que a iniciação dela no fado estava ligada ao Jorge. Claro que achou ótima ideia.

Chamou-me a atenção para o facto de ela ser fadista de casa de fados, que nunca tinha cantado num auditório. Disse-me que a ajudaria a ocupar o palco.

Falei para o agente da Aldina, eu gostava que ela cantasse na Culturgest, mas  antes  queria conhecê-la e conversarmos sobre o concerto.

Esta ideia foi com o Fausto (Bordalo Dias) que aprendi. Nessa altura eu estava no CCB, queria que o Fausto lá fosse e ele respondeu que primeiro me queria conhecer. Tinha toda a razão. Eu é que, por timidez, escondia-me.

A partir daí passei sempre a conversar com os artistas antes de os contratar.

Foi nessa conversa, em que estava também o então agente da Aldina, Paulo Salgado, com quem trabalhei em várias ocasiões, que conheci a Aldina Duarte  .

O concerto foi ótimo, a sala não esgotou, nem esperava tal coisa. A Aldina não era conhecida como hoje é.

Foi na Culturgest, enquanto lá estive, que apresentou, em concerto, todos os discos que ia lançando. E foi assim que a partir de uma relação profissional se construiu uma amizade fortíssima, para a vida toda. Já lá vão 20 anos, quase 21, carambitas.

Hoje em dia a Aldina é reconhecida como uma grande fadista do nosso tempo (para mim, a maior) e tem um público largo, em Lisboa e pelo país fora. É natural que a apresentação do seu último disco, depois de ter passado em vários teatros pela nossa terra fora, venha agora ao CCB.

Os discos da minha amiga são todos especiais e em todos ela arrisca soluções novas. Neste, Metade /Metade teve a ideia de convidar para escrever as letras uma rapper, Capicua. Trabalharam intensamente, que isto de escrever letras de fados tem muito que se lhe diga. Algumas coisas ela me ensinou.

Convidou a excelente harpista Ana Isabel Dias, que a acompanha no fado Araucária, árvore da sua devoção, e no A Dúvida, melodia de Alfredo Marceneiro, e a Joana Sá, pianista de enorme talento, inclassificável porque a música que faz não se encaixa nas categorias tradicionais, para a acompanhar no fado que encerra o disco, Eterno Retorno, também de Marceneiro. Que bem fica ali o piano contemporânea da Joana.

Pela primeira vez Aldina junta em palco as pessoas que colaboraram no disco. Capicua, Bernardo Romão na guitarra portuguesa, Rogério Ferreira na viola, a Ana Isabel na harpa e a Joana no piano.

Bem sei que o concerto é só em Maio. Mas o tempo passa depressa e às vezes, se não nos antecipamos, depois é ó tio ó tio que queria um bilhete e já não há.

Nesta fotografia lá vai ela toda despachada, como a Vitória de Samotrácia, peito aberto, braços a voar. Não pára.

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