Tradição
Vila do Conde: há 20 anos a "queimar Judas" e a convocar liberdades
Há um burburinho que se começa a sentir por Vila do Conde e quem vive neste lugar sabe bem do que se trata: são os preparativos da Queima do Judas.

19 Abr 2025 | 22h30
A essência de um evento como a Queima do Judas de Vila do Conde reside no tudo que acontece meses antes e que culmina na noite de Sábado de Aleluia, anterior ao Domingo de Páscoa. É um acontecimento comunitário, onde habitantes e artistas criam, em uníssono, laços, conhecimento e memórias através da linguagem contemporânea do circo e do teatro, da música e das artes plásticas. As oficinas artísticas são o laboratório humano e criativo destas experiências que, este ano, se materializam durante o mês de março e abril. Neste momento, a Nuvem Voadora já se encontra a trabalhar a dramaturgia que irá dar corpo à performance coletiva de cerca de 200 participantes da edição “20 Primaveras”.
Cada edição da Queima do Judas é dedicada a um tema e homenageia um artista ou comunidade ligados a Vila do Conde. Ao longo de 20 anos, muitos foram os nomes e elementos que inspiraram o imaginário deste acontecimento. Bacalhau, rendas de bilros, o aqueduto da cidade, o mercado municipal e os antigos estaleiros navais foram alguns dos temas que ficaram gravados para sempre no álbum de memórias do evento. Assim como os escritores Agustina Bessa-Luís, José Régio, o poeta-carpinteiro, Joaquim Moreira da Silva, e também a população chinesa (Vila do Conde concentra a maior comunidade do país) e os emigrantes. A edição de 2025 é uma revisitação original dos momentos, personagens e performances mais marcantes. Segundo Pedro Correia, diretor da Nuvem Voadora, a celebração deste ano será também “uma homenagem à comunidade e um agradecimento profundo a todas as pessoas que participaram generosamente ao longo destas duas décadas e tornaram tudo isto possível”.
A Queima do Judas é um ritual pagão, ressignificado pelo Cristianismo na ressuscitação de Jesus, que celebra a renovação da vida através da chegada da primavera. Simbolicamente, a despedida do inverno é um dizer adeus às entidades que nos prendem, magoam e desumanizam, queimando-as numa fogueira para se transformarem nas cinzas que servirão de fertilizante a uma nova vida de liberdade e criação. Em Vila de Conde, este rito de passagem tem tido, ao longo de duas décadas de existência, uma participação crescente da comunidade vila-condense que contribui com os seus testemunhos, regados a sátira e crítica social, para a autenticidade e riqueza do evento, imprimindo na história e cultura da região a força de uma identidade coletiva, em constante transformação.
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