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V.E.R. - Vocação Elementar Reconstruída
Explorando a interseção entre a medicina e a arte, esta exposição celebra a obra de Mário Botas, Gracinda de Sousa, José António (de Melo Gomes) e Claude Yersin. Homenageando Artur Bual, no diálogo das obras destes artistas reflete-se sobre o modo como o rigor, os métodos e as ferramentas do universo clínico moldam e inspiram o processo artístico.

8 Fev a 8 Mar 2025
A mostra propõe uma reflexão sobre como o olhar clínico, treinado para o diagnóstico, pode ser redirecionado para a produção visual, revelando um novo território de expressão que cruza os limites da medicina.
Mário Botas, que após ser diagnosticado com leucemia decidiu abandonar a medicina para se dedicar inteiramente à pintura, expôs internacionalmente, incluindo uma individual em Nova Iorque em 1978. A sua obra tem sido amplamente revisitada pela Perve Galeria, em exposições realizadas desde 2010.
Gracinda de Sousa, médica especialista em Imuno-hemoterapia, falecida em 2018, desenvolveu a sua produção artística em paralelo com a carreira clínica, explorando o desenho a tinta-da-china, o pastel e técnicas mistas para refletir sobre a condição humana. O incentivo de Mário Botas, com quem partilhou uma forte amizade desde 1975, foi determinante para o seu aprofundamento artístico.
Claude Yersin, após uma carreira consolidada na medicina, passou a dedicar-se à arte passou a dedicar-se plenamente à arte, uma prática que já desenvolvia paralelamente, abraçando diversos meios plásticos. Reformado, o artista suíço radicou-se em Portugal em 2015, dedicando-se a tempo inteiro à sua produção artística, e em 2019 com maior veemência aos recortes de papel, inspirando-se na paisagem alentejana e em temas históricos, lendários e patrimoniais.
José António (de Melo Gomes), cuja presença nesta mostra assinala a sua estreia em galeria, tem conciliado a prática médica com uma formação artística contínua. Médico reumatologista, frequentou cursos na Sociedade Nacional de Belas Artes e na Cascais School of Arts & Design, desenvolvendo um trabalho que se desdobra entre o desenho, a pintura. Produziu milhares de desenhos ao longo das décadas, muitos deles registados em diários gráficos, e publicou livros onde cruza palavra e imagem.
Cada um desses artistas incorpora de forma única o olhar clínico e os métodos próprios da medicina na construção das suas obras. A diversidade de técnicas — que vão da pintura à découpage — revela como a arte e a medicina se entrelaçam, com a observação clínica a enriquecer o processo criativo e a criar formas de comunicar a experiência humana.
A exposição presta ainda homenagem a Artur Bual (1926-1999, Portugal), artista que teve uma grande influência sobre os diretores da Perve Galeria, Carlos Cabral Nunes e Nuno Espinho da Silva, na fundação desta instituição. Destaca-se, em particular, o seu apoio à organização de uma exposição pioneira dedicada a médicos pintores portugueses em 1997, na galeria do Auto-Clube Médico Português, onde expôs ao lado de Gracinda de Sousa, uma das artistas presentes nesta mostra.
Gracinda de Sousa, por sua vez, foi uma das grandes impulsionadoras da Perve Galeria desde o seu início, participando em várias exposições coletivas e deixando um legado significativo. A sua presença nesta exposição, ao lado de colegas como Mário Botas e José António, reforça o elo entre medicina e arte e celebra a sua contribuição artística, ao mesmo tempo que homenageia a sua memória.
Dando início às celebrações dos 25 anos da Perve Galeria, “V.E.R.” marca assim um elo importante entre o passado e o presente da instituição.