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Exposições

Exposição "Maria Silva"

A Galeria Belard apresenta uma exposição individual da artista multidisciplinar portuguesa Janis Dellarte, que marca um afastamento significativo das suas anteriores esculturas de malha em grande escala. 

27 Fev a 24 Abr 2025

Galeria Belard
R. Rodrigo da Fonseca 103B, 1070-239 Lisboa
Através deste novo corpo de trabalho, Dellarte integra a sua experiência têxtil numa prática de desenho renovada, estabelecendo um diálogo crítico entre o artesanato histórico e os processos mecânicos, fazendo a ponte entre o passado e o futuro num corpo de trabalho profundamente pessoal e politicamente carregado.

Em “Maria Silva”, Dellarte conjuga a sua experiência têxtil com prática de desenho, estabelecendo um diálogo crítico entre o artesanato histórico e os processos mecanizados, de forma a construir uma ponte entre o passado e o futuro num corpo de trabalho profundamente pessoal e político.

O título da exposição, “Maria Silva” - indiscutivelmente o nome feminino mais comum em Portugal - transforma o nome de nascimento de Dellarte (Maria Ana Duarte Silva) numa declaração concetual. Esta anonimização intencional transforma a sua identidade individual numa identidade colectiva, evocando uma herança nacional que tem sido historicamente relegada para as margens da memória cultural. Informada pela sua imersão em comunidades têxteis ancestrais, desde o interior de Portugal a aldeias remotas do Nepal, o seu trabalho nasce da tensão entre o desejo de preservação ancestral e a submissão à evolução.

O processo de Dellarte é simultaneamente cíclico e intensivo. Trabalha com tecidos herdados, muitas vezes marcados pelo uso e pelo tempo, borda e cose estes tecidos, antes de fotocopiar estas intervenções para criar novas superfícies onde as imagens têxteis se fragmentam e multiplicam. A artista volta então a costurar, sobrepondo pontos sobre restos impressos e objectos colados, com constante oscilação entre o analógico e o mecânico, o encontrado e o construído, o criado e o reproduzido.

Reconhecendo a inevitabilidade do avanço tecnológico, Dellarte subverte deliberadamente os processos industriais, introduzindo falhas e recusando controlos automatizados. Ao recusar o pedal de bordar e ao forçar a máquina de costura a “ziguezaguear” erráticamente ao ritmo da sua mão, cria uma coreografia imprevisível de movimento em que as linhas cosidas se tornam registos de fricção e expressividade.

Há um sentido de humor e ironia subjacente em “Maria Silva”. Através do uso de expressões populares portuguesas, bordadas de forma errática ao longo das suas peças, Dellarte contraria qualquer tendência para o lamento nostálgico. A sua paleta pálida de vermelhos, brancos, rosas e verdes - evocando a vulnerabilidade da carne, das nódoas negras e das cicatrizes - esconde camadas de complexidade e de luta por baixo de superfícies aparentemente delicadas. Os motivos recorrentes de agulhas, tesouras, linhas, rosas e perfurações sugerem tanto sexo como violência, feridas e reparação.

Embora a exposição inclua duas performances formais, a verdadeira performance reside no seu ato solitário de criação. A perda de visão de um olho na infância de Dellarte aprofundou a sua intimidade na abordagem sensível que tem ao tecido e à linha, intensificando o pulsar da máquina de costura sincronizada com a sua respiração, consumindo o tempo neste seu ritual de criação.

Em “Maria Silva”, Dellarte transforma as práticas têxteis domésticas numa potente linguagem crítica. Ao trazer objectos íntimos para o espaço da galeria e ao subverter as técnicas tradicionais, a artista derruba as fronteiras estabelecidas entre o público e o privado, a arte e o artesanato, o mecânico e o feito à mão. O seu trabalho opera no espaço carregado entre a submissão e a insurgência, onde cada rutura técnica se torna um ato de resistência. Através deste processo, Dellarte cria uma cartografia íntima da experiência feminina - que fala tanto da memória pessoal como da herança colectiva - ao mesmo tempo que oferece uma meditação complexa sobre a feminilidade, a identidade e o poder numa era de reprodução mecânica.

Inauguração: 27 de fevereiro das 18h às 21h.
Performance: 12 de março, às 19h.
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