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Exposição dos artistas Pedro Tudela & Sérgio Fernandes.

23 Jan a 8 Mar 2025
economia digital (e a competição mediática no mundo da arte), entrevemos nesta exposição o horizonte de uma gravidade ancorada nas formas concisas de uma
fatura de rigor oficinal face aos labirintos da criação, na lentidão do engendramento impercetível das subjetividades e de uma certa benevolência, contra o pano de
fundo de um silêncio que transporta a violência dos séculos e a dor calada. Uma espécie de indiferença paisagística – indistintamente arcaica e urbana – que
podemos qualificar de existencial, ascética ou portadora de um anseio espiritual, mas invariavelmente participativa num esclarecido diálogo com a cultura técnica e
a história das disciplinas.
Os dois artistas estabelecem nesta mostra um diálogo fraterno que congrega a pintura, o desenho sobre papel, a fotografia, o vídeo e objetos escultóricos, convocando ainda matérias como o metal fundido, o vidro soprado e o som. A aproximação das duas obras permite a iluminação mútua dos respetivos reportórios sob perspetivas renovadas e surpreendentes. Os motivos orgânicos ou vegetalistas nas telas de grande formato de Sérgio Fernandes, por exemplo, recordam alguma da pintura inicial de Pedro Tudela, em meados da década de 80, marcada pelo vocabulário sobrecarregado de um sensualismo (não sem ironia) barroco; enquanto a investigação sonora neste autor (mesmo se vertida em forma escultórica como os cinco galhos vazados em latão que evocam o pentagrama da notação musical) elucida sobre a dimensão tímbrica dos jogos de perceção cromática (as atmosferas, as texturas, as notas de cor, a “luz interior” que o brilho das velaturas em óleo por vezes oferece) em toda a amplitude do leque de reverberações sensíveis na pintura de Sérgio Fernandes.
Excerto do texto ‘AS MATÉRIAS TEMPORAIS’ de João Sousa Cardoso