Exposições
Do chão das ilhas ao som da alma
A exposição convida-nos a mergulhar na obra de Kiki Lima, um artista que traduz a identidade cabo-verdiana através de cores intensas e formas em movimento.

15 Fev a 15 Mar 2025
As suas telas são um testemunho vivo da relação entre o povo e a sua terra, onde o “chão das ilhas” representa as tradições, o labor e o quotidiano, enquanto o “som da alma” se manifesta na expressão musical e corporal, pilares da cultura cabo-verdiana.
Dividida em três núcleos, a exposição aborda temas centrais da vida insular. No primeiro núcleo, explora-se o quotidiano do mar, o dinamismo dos mercados, a força da mulher, a espontaneidade da infância e a expressividade da dança e da música, revelando a riqueza de um povo que encontra na simplicidade do dia a dia a sua maior inspiração.
No segundo núcleo, uma instalação composta por múltiplas peças de digigrafia, em parceria com o CPS – Centro Português de Serigrafia, que para a ocasião produziu uma série limitada de 71 peças, correspondente à idade do artista como homenagem.
Esta instalação dialoga com uma obra original, criando uma ponte entre a tradição e a contemporaneidade, entre a materialidade do chão e a imaterialidade da alma. Explora ainda uma técnica de reprodução em massa, que homenageia a extensa produção de serigrafias de Kiki Lima ao longo da sua carreira, refletindo como a sua obra se disseminou por milhares de lugares, levando a cultura cabo-verdiana para diferentes partes do mundo e ampliando o seu alcance através da multiplicação de imagens.
O terceiro núcleo apresenta a tela “Bói Popular”, criada em 2021 para a exposição De Dentro e Fora na UCCLA – União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, acompanhada por um vídeo da concretização da peça que documenta o processo de criação da própria obra, desde o início até à sua finalização, proporcionando ao visitante uma compreensão mais profunda do processo criativo do artista.
A harmonia entre cor, forma e movimento convida-nos a sentir a energia e a paixão que permeiam a cultura cabo-verdiana, reforçando a ideia de que o som e a imagem são inseparáveis na construção da identidade do arquipélago. O som da música do próprio autor ecoará pela exposição, revelando a multiplicidade do artista e a sua capacidade de transitar entre diferentes formas de expressão artística.
Esta exposição é uma celebração da alma cabo-verdiana, refletida no trabalho de Kiki Lima, um artista que continua a dar voz às ilhas através das suas pinceladas.
Sobre Kiki Lima:
Kiki Lima, de nome completo Euclides Eustáquio Lima, nasceu em 1953 na cidade de Ponta do Sol, Ilha de Santo Antão, Cabo Verde. Licenciado em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, frequentou ainda os cursos de Desenho e Pintura no CEC e de Escultura no Centro de Arte e Comunicação Visual, ambos em Lisboa. Atualmente, vive e trabalha em Cabo Verde.
Pintor, escultor, designer e músico, compositor e intérprete, Kiki Lima iniciou o seu percurso nas artes plásticas em 1969. Ao longo da sua carreira, realizou mais de 200 exposições individuais e participou em mais de 160 exposições coletivas. O seu trabalho pictórico distingue-se pelo uso de cores vibrantes e uma pincelada gestual, retratando figuras em movimento e espaços emblemáticos da cultura cabo-verdiana, onde a música desempenha um papel central. As suas telas luminosas captam a alegria popular em cenas de rua, mercados, recantos e danças tradicionais.
Kiki Lima assume-se como um artista impressionista e expressionista, explorando variações das técnicas tradicionais. Prefere usar uma mesa em vez de uma paleta e privilegia pincéis largos, recorrendo frequentemente a cores alegres, com destaque para o laranja e o azul ciano.
Ao longo da sua trajetória, recebeu várias distinções e prémios, entre os quais se destacam o 1.º Grau da Medalha de Mérito Cultural do Governo de Cabo Verde (2017), a 1.ª Classe da Medalha do Vulcão, no âmbito do 25.º aniversário da Independência de Cabo Verde, atribuída pelo Presidente da República de Cabo Verde; o Prémio Selo Morabeza (2015); o título de “Personalidade 2002“ em Artes Plásticas, atribuído pelo Núcleo de Estudantes Universitários Africanos em Portugal; e o “Prémio Prestígio AI-UÉ” – Pintura (1992). O seu nome está representado no painel de pintores cabo-verdianos da Assembleia Nacional de Cabo Verde.
Entre as suas obras de arte pública mais relevantes destacam-se o frontispício do Pavilhão de Cabo Verde na EXPO’98 e a peça “Receção de Emigrantes”, situada no Aeroporto Amílcar Cabral, na ilha do Sal. O seu trabalho integra diversas coleções nacionais e internacionais, tanto públicas como privadas, em Portugal e noutros países. Algumas das suas obras encontram-se em coleções particulares de figuras proeminentes, como os ex-presidentes portugueses Mário Soares, Jorge Sampaio e Cavaco Silva, o Rei de Espanha, os Presidentes da África do Sul, Timor-Leste e China, bem como a ex-primeira-dama dos EUA Hillary Clinton.
Como escultor, produziu várias obras em bronze, incluindo bustos, troféus e medalhas comemorativas.
Em 2019, Kiki Lima celebrou os seus 50 anos de carreira com a exposição “50 anos de musicalidade pictórica”, realizada no Palácio da Cultura Ildo Lobo, uma homenagem ao seu percurso artístico multifacetado e à sua contribuição para a arte cabo-verdiana.
Horário: Terça a quinta, das 12h às 18h30, sexta e sábado, das 13h às 19h30.