"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Exposições

"Happily Ever After" de Hugo Brazão

Hugo Brazão explora a relação entre o otimismo, a apatia e a obsessão cultural pelo progresso linear. Partindo do conceito de “otimismo cruel” 1de Lauren Berlant, a exposição desconstrói a crença generalizada numa resolução final—um ponto singular em que tudo finalmente se alinha. 

7 Fev a 15 Mar 2025

Balcony - Contemporary Art Gallery
Rua Coronel Bento Roma, 12A 1700-122 Lisboa
Preço
Entrada livre
Em vez disso, o trabalho de Brazão posiciona este ideal como uma ficção insustentável, um enquadramento narrativo que obscurece os padrões cíclicos inerentes à experiência humana e reforça as pressões de uma positividade tóxica: a imposição social de manter o otimismo e a ilusão de que o esforço individual, por si só, pode superar desafios sistémicos.

A exposição apresenta uma série de esculturas de parede de pequena escala, que materializam narrativas imaginadas: um cão preso num anseio perpétuo enquanto observa pela janela (FOMO); um urso absorto num livro sobre tomada de decisões, mas irremediavelmente distraído; ou gestos evocativos de afastar o azar, como bater na madeira ou cruzar os dedos. Estas obras funcionam como artefactos especulativos de uma psicologia coletiva moldada por condições de precariedade.

No núcleo da exposição está Happily Never After, uma instalação em têxtil que evoca os ritmos cíclicos do calendário lunar. Contrariando o encerramento linear prometido pelos finais de contos de fadas, as fases da lua sugerem uma interação contínua de crescimento e declínio, de renovação e desgaste. Esta referência cosmológica desestabiliza a narrativa do tempo como um trajeto unidirecional, propondo, em vez disso, uma lógica temporal de retorno. Aqui, o ciclo lunar torna-se uma metáfora para uma contra-narrativa—uma que resiste à resolução e celebra a persistência da incerteza e do fluxo.

Ao posicionar gestos de esperança e atos de manutenção como mecanismos de estase, em vez de mudança, o trabalho de Brazão reflete uma luta coletiva com a incerteza, expondo as tensões entre os ideais culturais e as realidades de aspirações inacabadas e cíclicas. O que persiste quando a promessa do “felizes para sempre” se dissolve numa repetição infinita de finais adiados?

Hugo Brazão (n. 1989, Madeira) vive e trabalha em Lisboa.
A sua prática artística estabelece-se entre a pintura, escultura e têxtil e desenvolve-se a partir do paradoxo ficção/realidade, reimaginando o material encontrado na sua pesquisa e procurando as possibilidades técnicas e as diferentes narrativas que são criadas em sua volta. Brazão concluiu o mestrado em Artes Plásticas com distinção na Central Saint Martins em Londres (2015) e licenciatura em Pintura na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa (2013). Recebeu o VIA Arts Prize 2018 em Londres, o Helen Scott Lidgett Studio Award em 2015 e participa regularmente de residências artísticas internacionais.
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