Exposições
Entre Esquinas: A Resistência dos Restos
Labirintos urbanos. Solidão entre a multidão. Ruas, calçadas e vielas soturnas constituem o cenário da exposição Entre Esquinas: a Resistência dos Restos, de Sonia Távora, que vai ser inaugurada no Palácio Anjos, dia 27 de fevereiro.
27 Fev a 4 Mai 2025
Entre Esquinas: a Resistência dos Restos é uma instalação site-specific que parte de um estudo da arquitetura – da cidade e do próprio espaço expositivo – para criar um ambiente imersivo ao mesmo tempo denso e delicado, composto por matrizes de grandes dimensões esculpidas em papel cartão e a partir das quais são produzidas monotipias sobre papel de arroz. É a primeira exposição do Instituto Oscar Niemeyer em Portugal, em parceria com a Câmara Municipal de Oeiras e com o apoio da DGARTES.
A visualidade e o processo das obras assemelham-se à xilogravura, técnica introduzida no Brasil pelos colonizadores portugueses, em que a imagem é gravada sobre uma superfície de madeira, sendo subvertida pela artista, que cria a sua própria linguagem no campo poético.
A instalação propõe um diálogo com os lugares típicos dos centros urbanos - esquinas, calçadas, lugares de passagem onde a vida acontece, urgente, labiríntica, solitária, dialogante com a poética de grandes escritores como Guimarães Rosa e Fernando Pessoa, onde o sertão e a cidade são vislumbrados em dimensões universais. Sonia desafia a percepção do espaço urbano, mas também a compreensão da condição humana.
“O sítio onde eu feri, onde cortei, é onde a tinta não penetra, é o que traz a luz ao trabalho. Esses rastros/restos que caem no chão são resquícios de luz, é a memória da obra representada. O papel que está ali, cortado, caído, traz o espectador para o real, uma confirmação da visualidade de uma cidade ilusória”, explica Sonia Távora que explora a utilização do papelão há mais de uma década, para desvelar uma cidade por trás dos cartões-postais. Labirintos de uma iconografia urbana de papelão em grandes dimensões entre representações poéticas de calçadas, lampiões, fachadas, arcos, portais e janelas de sacada.
Entre Esquinas enfatiza o espaço real quando a artista incorpora as paredes e a volumetria da galeria, um espaço instalado disponível para ser ocupado imaginariamente pelo espectador. Os fragmentos dos papéis, resultado dos entalhes do x-ato no papel cartão, são deixados no centro da sala como resquícios de luz, porque “qualquer lugar que se fere emite luz”. De certo modo a artista, ao deixar “os restos” sobre o chão, “quebra a ilusão”, fazendo com que a virtualidade do espaço representado se apresente de facto como uma ilusão.
Sonia Távora apresenta uma cidade fragilizada, soturna, “entalhada e entintada” de negro. A delicadeza das monotipias, junto à opacidade dos papelões, acentua as contradições e os desafios da vida urbana. A vulnerabilidade de uns, a intransponibilidade de outros. Enquanto criadora, quer sair do atelier, quer andar na rua, e é nesse confronto com a realidade que, assegura, não pode ficar indiferente. “Vem de dentro, vem de um sentimento que brota, primeiro sinto, e vou fazendo. Depois distancio-me do trabalho para perceber as reflexões e os diálogos decorrentes do meu processo criativo.”
Quem é SONIA TÁVORA
Nascida em 1952, no Rio de Janeiro, Sonia Maria Seabra de Melo Távora é licenciada em Arquitetura e Urbanismo pelas Faculdades Bennett, Rio de Janeiro, Brasil. De 2005 a 2010, cursa a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro e, desde então, tem-se dedicado às artes plásticas, nas suas múltiplas linguagens: pintura, gravura, fotografia, escultura e vídeo. A arquitetura, o espaço, a humanidade têm sido o conceito central dos seus trabalhos. A artista, que expõe no Brasil e em Portugal, foi premiada no 46º Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba (SP) em 2014, e a sua obra faz parte da coleção pública da Pinacoteca Municipal Miguel Dutra, na mesma cidade.
+ info: https://www.soniatavora.com/