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Casa do Brasil recebe exposição de fotografia sobre construção do caminho-de-ferro brasileiro

A exposição fotográfica, ‘A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB) no Interior de São Paulo (Brasil) nos Prelúdios do Antropoceno. Imagens das Alterações Ecológicas e Humanas no Início do Século XX’, vai estar patente ao longo de um mês na Casa do Brasil/Casa Pedro Álvares Cabral, em Santarém.

15 Jan a 15 Fev 2025

Casa do Brasil/Casa Pedro Ávares Cabral
Rua Vila de Belmonte, 2000-091 Santarém

A mostra, organizada pelos investigadores Fábio Paride Pallotta e Hugo Silveira Pereira, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, viaja até ao passado da antiga colónia portuguesa, mostrando imagens que registaram os primeiros passos da implantação da estrada de caminho de ferro no Noroeste do Brasil. Os curadores da exposição contam que o “caminho-de-ferro estratégico de 1906, visava integrar o Estado do Mato Grosso e suas riquezas agrícolas no território do Brasil, pondo fim ao seu isolamento”. Com 1400 quilómetros de extensão, a linha provocou graves crises ambientais, sobretudo “médico-sanitárias e humanas sobre os indígenas Kaingang do ramo paulista, habitantes da região. Estes acontecimentos e graves crises, no prelúdio do Antropoceno, a Era do Homem, ainda se repetem no Brasil e no mundo, exigindo atenção e cuidados das sociedades atuais”.

A exposição recorda que no início do século XX, a partir da cidade de Bauru, teve início a construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, uma longa ferrovia estratégica que atravessava o Estado do Mato Grosso, terminando na cidade de Corumbá, fazendo parte da antiga província rica em produtos agrícolas, que quase fora perdida na Guerra do Paraguai, conflito que se estendeu entre 1864 e 1870. Os trabalhos duraram apenas quatro anos, entre 1906 e 1910: “somente na secção paulista da ferrovia, foram destruídos 13 410 quilómetros quadrados de florestas nativas, representando mais de cinco por cento da cobertura vegetal da região, em especial da floresta tropical da chamada Mata Atlântica. “A tragédia ambiental foi seguida por uma tragédia médico-sanitária de zoonoses que deixaram seu meio natural para infectar os trabalhadores da ferrovia e os habitantes de Bauru”, que passaram a ser afetados por doenças como a malária ou a febre amarela. As maleitas “causaram milhares de mortes e ainda são doenças endémicas no país”, indica ainda o texto que acompanha a exposição.

A situação deu origem a um “trágico prelúdio”, que quase exterminou os indígenas Kaingang do ramo paulista, que foram as principais vítimas de uma crueldade que os levou a serem caçados como animais pelos homens conhecidos como “bugreiros”, indivíduos contratados pela própria companhia ferroviária. “Hoje, a cidade de Bauru e o Brasil esquecem-se dessas tragédias que se reproduzem nas novas fronteiras agrícolas do país, na construção de novas linhas-férreas, na exploração mineral ilegal, na agressão e morte das populações indígenas, tal como no prelúdio do Antropoceno, a Era do Homem”, concluem os organizadores.

A exposição pode ser visitada de terça-feira a sábado, durante a manhã entre as 9h00 e as 12h30, e de tarde entre as 14h00 e as 17h30.

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