"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Teatro

"Amor é um fogo que arde sem se ver" de Hélder Mateus da Costa e Maria do Céu Guerra

No V Centenário do nascimento do poeta, um espetáculo d’A Barraca sobre a vida e obra de Luís Vaz de Camões, com dramaturgia e encenação de Hélder Mateus da Costa e a participação de Maria do Céu Guerra.

29 Nov a 1 Dez 2024

Centro Cultural de Belém
Praça do Império, 1449-003 Lisboa

Um espetáculo poético que remete para a História sabendo que entre a Poesia, a Verdade e a História há um belo mal-entendido.

Amor é um fogo que arde sem se ver, porquê?

Um espectáculo do género histórico/poético, não pode transportar cargas poeirentas e ultrapassadas.

Homenagear os clássicos é modernizá-los e torná-los acessíveis ao público dos nossos dias. É nessa dificuldade que consiste o prazer de conseguir demonstrar que as histórias antigas têm a ver com o sempre constante e irregular comportamento humano.

Camões é um dos símbolos mais importantes do nosso século de oiro, o século XVI. E é um testemunho vivo do intelectual moderno e progressista na linha de Erasmo e Tomas More, seus contemporâneos. Através dos séculos foi sempre referido como um patriota pelos liberais e Republicanos, e também utilizado pela famílias mais reaccionárias (descendentes dos mesmos que sempre o perseguiram e lhe negaram qualquer apoio e protecção económica).

Por isso, era necessário fazer uma “operação de limpeza” ao nosso Camões e mostrá-lo em toda a sua grandeza e independência. Para exemplo aos jovens e intelectuais dos nossos dias.

Não é minha intenção propor um novo olhar para o ícone Camões e para o período das grandes navegações portuguesas, mas é preciso conhecer todas as realidades que eram sonegadas e ocultadas. Na linha de Gil Vicente, Fernão Mendes Pinto, Damião de Góis e Chiado que denunciaram nessa mesma época que esse período áureo se devia ao trabalho de cientistas e ao povo que era arrastado para as naus. E que Descobrimento foi frequentemente sinónimo de roubo e massacres a nível Universal. A História não se pode corrigir, mas eu só posso gostar do meu país ( ou de qualquer outro) se conhecer os lados positivos e os condenáveis.

Mas, também muito importante e interessante, é pensar que esse importante texto épico – além de oferecer aos navegadores portugueses o Amor como prémio na Ilha dos Amores, também é a grande aventura da língua portuguesa.

Hélder Mateus da Costa

AMOR É UM FOGO QUE ARDE SEM SE VER (2024) conta a viagem de Luís Vaz, o navegador da Língua Portuguesa, transportando memórias de amores e desamores, muitas perdas e muitos maus tratos e prisões operados em sigilosos conluios por muitos inimigos seus contemporâneos. Tempo de disputas, glórias e intrigas, os perigos da inquisição ameaçaram sempre um dos homens mais livres do seu tempo e sem dúvida o seu maior poeta.

Depois de aventuras e desventuras que lhe vão acontecendo na sua pátria vai de viagem na rota de Gama. E consigo leva a Língua Portuguesa, ainda em construção.

Olhado como um texto épico Os Lusíadas são também o grande relato da aventura da língua portuguesa que nessa obra/ viagem se confirma e consagra. Perseguindo sempre a aventura mais arriscada, seja ela o amor, a viagem ou a poesia, na Índia conhece Garcia d’Orta, Diogo do Couto, apaixona-se, conhece Macau conhece a Ilha de Moçambique, Dinamene. Num naufrágio perde a amada e salva a nado o poema ao qual já dedicara anos de vida.

Salva-se regressa à pátria. Sempre mais rico, sempre mas mais pobre, sempre só. Trazendo consigo apenas o escravo Jau que o acompanhará até ao fim.

Em Portugal apresenta ao censor do Santo Ofício a obra que deseja ver publicada, embora com cenas eliminadas a obra é autorizada. A sua visão da” máquina do mundo” não é aceite e a cena da ilha dos amores é quase totalmente eliminada. O passo seguinte é mostrá-la a Dom Sebastião. O rei gosta dos Lusíadas e aprova a concessão de uma tença de sobrevivência ao poeta.

Não fosse a doença as coisas pareciam começar a correr melhor ao poeta e a vida começava a passar.

Tempo último…

Camões vai na manhã da partida das naus a Belém ver sair os barcos com D. Sebastião para Alcácer – Quibir. Ele está no fim. Já não pode ir de viagem e Portugal está perto do Desastre. Juntam-se as duas sortes.

Regresso a casa…

O poeta é apoiado pelo escravo Jau. Leva-o para casa, dá-lhe de comer, ajuda-o a subir a escada. No caminho cruzaram-se com a mãe do poeta, que desanimada com o tratamento da corte numa bela cena que cita Sophia de Mello Breyner, reclama do atraso da tença, que os obriga a viver de esmolas…

E o poeta do amor, como os marinheiros do Gama passa à eternidade embalado pela música do mar da ilha dos amores.

Momento feliz enfim. A Paz e o reencontro com a Beleza acompanham o regresso do poeta à sua ilha recuperada.

Maria do Céu Guerra 

Ficha artística
Espetáculo de Hélder Mateus da Costa e Maria do Céu Guerra
Encenação Hélder Mateus da Costa e Maria do Céu Guerra
Assistência de encenação Gil Filipe
Elenco Adérito Lopes, Beatriz Dinis e Silva, Érica Galiza, Gil Filipe, Luís Ilunga, Maria do Céu Guerra, Manuel Petiz, Rita Mendes Nunes, Samuel Moura, Sérgio Moras, Teresa Mello Sampayo, Vasco Lello, Maria Baltazar (estagiária)
Produção Inês Costa
Apoio à Produção Gil Filipe, Manuel Petiz, Teresa Mello Sampayo
Direcção Musical e Música Original Maestro António Victorino D'Almeida
Cenografia A Barraca
Conceção de Vídeo André Letria
Desenho de Luz Vasco Letria
Operação de Luz Ruy Santos
Operação de Som e Vídeo João Pecegueiro
Guarda-roupa Mestra Alda Cabrita
Adereços Tina Simões
Design Gráfico Inês Costa

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