Exposições
"Piero della Francesca e o políptico de Santo Agostinho"
O MNAA apresenta, em confronto, as pinturas Santo Agostinho, do acervo do MNAA, e São Nicolau Tolentino, pertencente ao Museo Poldi Pezzoli, de Piero della Francesca (c. 1412-1492), um dos expoentes da arte do Renascimento. Ambas faziam parte do políptico do convento de Santo Agostinho de Borgo Sansepolcro, a terra natal e de residência de Piero, uma obra contratada em 1454, mas só concluída em 1469.
11 Out a 15 Dez 2024
Piero della Francesca: Um génio do Renascimento
O historiador de arte Mário Salmi chamou a Piero «o génio solitário de Sansepolcro». Génio foi certamente, mas apesar de ter nascido, vivido uma grande parte da sua vida, ocupado cargos públicos e falecido na pequena cidade de Borgo Sansepolcro, Piero della Francesca (c. 1412-1492) esteve longe de ficar confinado à sua pequena cidade, então com pouco mais de 4000 habitantes. Filho de um comerciante, sem ligações artísticas familiares, Piero fez os estudos básicos em Borgo, e deve ter feito a aprendizagem artística com o pintor da cidade vizinha António de Anghiari (ativo 1430-1462) e, em Florença, com Domenico Veneziano (c. 1410-1461), mestres com quem colaborou. Mas, desde cedo, Piero foi requisitado por algumas das mais refinadas cortes renascentistas. Desde 1438 trabalhou para os Este, duques de Ferrara e Senhores de Mântua, foi requisitado pelo Papa Pio II em 1468, trabalhou em Ancona, no Palazzo Ferretti, e em Rimini, para Sigimondo Malatesta. Mas foi sobretudo na corte de Urbino, de Frederico Montefeltro, que se pôde dedicar a importantes estudos de matemática, geometria e perspetiva. A pintura de Piero, rigorosa e erudita, aplicou de uma forma radical os princípios do Renascimento, tanto no rigor histórico das narrativas, como na exata construção do espaço e das figuras.
O Retábulo dos Ermitas de Santo Agostinho de Piero della Francesca
Piero contratou o retábulo dos Ermitas de Santo Agostinho de Sansepolcro a 4 de novembro de 1454. Foi-lhe dado um prazo longo para a sua execução – oito anos –, mas só o terminou em 1469. Piero tinha em mãos, por esses anos, algumas das suas obras maiores: os frescos da Santa Cruz, na igreja de São Francisco de Arezzo (1452-1457), o altar da Misericórdia de Sansepolcro (1460-1462) e o retábulo de Santo António de Perugia (1467-1469), para além de trabalhos para o duque de Urbino e para o papa Pio II.
A encomenda de Santo Agostinho foi difícil. O mercador Angelo di Giovanni di Simone, que a custeou, comprara aos franciscanos uma estrutura antiga, de cerca de 1430, que ficara por pintar pela doença do pintor Sasseta, e Piero, viu-se assim limitado pela obra de marcenaria tardo-gótica. O futuro do altar não foi menos atribulado. Em 1555, os Agostinhos venderam o convento, o retábulo foi remontado na igreja paroquial e disperso no século seguinte. A tábua central, dedicada à Virgem, desapareceu, sobrando quatro pequenos painéis da predela e das prumadas, mas conservam-se felizmente as tábuas maiores: Santo Agostinho, o arcanjo São Miguel, São João Evangelista, o santo patrono de Sansepolcro, e São Nicolau Tolentino. Santo Agostinho, o mentor da Ordem, e São Nicolau Tolentino, o seu mais novo santo, canonizado em 1443, iniciavam e fechavam o corpo central do retábulo, cuja qualidade faz jus às palavras de Vasari que, em 1550, escrevia serem as pinturas «coisa muito de louvar».