Teatro
Nova criação do Teatro Oficina "Crocodile Club" estreia em Guimarães
A estreia absoluta da nova criação do Teatro Oficina – que, em 2024, celebra 30 anos –, escrita e dirigida por Mickaël de Oliveira, é apresentada a 18 e 19 de outubro no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães.
18 Out a 19 Out 2024
Com estreia marcada no Grande Auditório Francisca Abreu do Centro Cultural Vila Flor, sempre às 21h30, “Crocodile Club” é sobre o novo (antigo) espectro político que assombra a europa e o mundo – a extrema-direita ou a direita nacionalista e populista. É também sobre a nova imagem dessa extrema-direita, que se autodefine muitas vezes como ‘direita descomplexada’, e sobre as maneiras de nos libertarmos da sua palavra vil e violenta. A proposta de Mickaël de Oliveira – que assume atualmente a direção artística do Teatro Oficina – é tratar esse novo (antigo) espectro, via uma história de amizade, em que se confronta a dimensão do afeto com a ideológica, focando aspetos literários e dramatúrgicos que tentam perceber como esta fala ‘vil’ se pode desenvolver, e os modos de a enunciar e – de certa forma – denunciar.
O criador de “Crocodile Club” está certo de que esta ficção – que decorre em Portugal – podia acontecer em qualquer parte do mundo. Num contexto em que os países e as suas populações estão tão íntima e digitalmente interligados, é sabido que modelos e ideias políticas migram rapidamente de geografias (agora e desde sempre). O próprio partilha que neste espetáculo “Fala-se de efeito espelho e dominó. A extrema-direita portuguesa é um decalque de tantas outras. Os ideários ou ideologias perpassam países. É próprio desse espectro o não conhecer fronteiras.” Nesta peça, Mickaël de Oliveira pretende convocar a linguagem cinematográfica e, com esse recurso, compor, destacar e detalhar a narração e o discurso para efeitos de real (verosimilhança) – como o cinema tão bem consegue produzir. Para isso, explora os códigos revisitados do cinema e do terror, até porque “a extrema-direita é dada a fantasmagorias”.
Os contornos desta ficção levam a uma narrativa que retrata um encontro de um grupo de amigos de longa data, reunidos na casa de campo da anfitriã, líder de um partido de extrema-direita e candidata às eleições legislativas (estando bem posicionada nas sondagens). O fim de semana serve a humanização da candidata de extrema-direita, através da realização de um minidocumentário com testemunhos dos amigos. Neste espetáculo, a ficção decorre em palco e também numa tela de cinema. Mickaël de Oliveira afirma que a estrutura é bastante clássica e propôs-se – sem grande pudor – a desenvolver várias linhas narrativas e a tornar a construção de personagem mais complexa e detalhada. A ficção de “Crocodile Club” relaciona ainda muitos tópicos e linhas temáticas, como a cultura de massas, o conservadorismo moral, o racismo, a indústria do espetáculo e o papel da comunicação social.
A cenografia desta nova produção é um elemento importante do espetáculo e oferece um território para o jogo entre os intérpretes e o realizador-operador de câmara em cena. “A ideia é construir uma casa em palco. Metade da casa é visível pelo espectador, a outra só se revela mediada pelos ecrãs.” Existe uma relação formal e técnica interdependente entre os dispositivos cenográfico, luminotécnico, sonoro, sonoplástico e vídeo, sendo esta relação um dos desafios do espetáculo. Não sendo a primeira vez que trabalha o género do terror e gore, com recurso à câmara e vídeo em livestreaming, Mickaël procura com esta opção “voltar àquilo que nos faz arrepiar, ao que nos assusta. De forma primordial, até. A figura do fantasma é poderosa porque nos abre as portas do invisível e das crenças religiosas, culturais e políticas que assentam nele.
Continuando um caminho traçado por anteriores criações da sua autoria, como é exemplo “Festa de 15 Anos” (2020, TNSJ) em que explora essa ideia de fantasma e de sobrenatural numa história de vingança pós-colonial, “Crocodile Club” dá continuidade, de certa maneira, a esse universo fantasmagórico, desta vez através de uma história que versa também sobre o racismo como arma eleitoral.
A nova criação do Teatro Oficina é uma produção do Teatro Oficina e do Colectivo 84, resultado de uma parceria entre as equipas para a conceção e execução de um projeto exigente em muitos aspetos de produção, técnicos e artísticos, contando com um elenco talentoso de atores formado por Afonso Santos, Bárbara Branco, Beatriz Wellenkamp Carretas, Fábio Coelho, Gabriela Cavaz, Luís Araújo e Inês Castel-Branco.
No dia 18 de outubro, a estreia absoluta de “Crocodile Club” no Centro Cultural Vila Flor terá uma conversa pós-espetáculo e a sessão de 19 de outubro conta com interpretação em Língua Gestual Portuguesa. Os bilhetes têm o valor de 10 euros ou 7,50 euros com desconto, podendo ser adquiridos online em aoficina.pt e presencialmente nas bilheteiras dos equipamentos geridos pel’A Oficina como o Centro Cultural Vila Flor (CCVF), o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), a Casa da Memória de Guimarães (CDMG) e a Loja Oficina (LO).
Texto e encenação Mickaël de Oliveira
Interpretação Afonso Santos, Bárbara Branco, Beatriz Wellenkamp Carretas, Fábio Coelho, Gabriela Cavaz, Luís Araújo, Inês Castel-Branco
Participação especial Francisco Ferreira e João Tarrafa
Desenho de vídeo e cinematografia Fábio Coelho
Cenografia e figurinos Pedro Azevedo
Desenho de luz Rui Monteiro
Apoio coreográfico Cristina Planas Leitão
Sonoplastia e composição Sérgio Vilhena e Rui Lima
Caracterização Catarina Santos
Direção de produção Gabriela Cavaz e Susana Pinheiro
Produção Hugo Dias e Héloïse Rego
Direção de cena Ana Fernandes
Direção técnica Carlos Ribeiro
Direção de comunicação Marta Ferreira
Comunicação Bruno Borges Barreto (Assessoria Imprensa), Pedro Magalhães e Rui Costa (Redes Sociais), Eduarda Fontes e Susana Sousa (Design gráfico)
Fotografias Bruno Simão e Ana Brígida
Produção Teatro Oficina e Colectivo 84
Coprodução Teatro Nacional São João, Teatro Aveirense
Parceria de criação e apresentação Fábrica ASA e Centro Cultural Vila Flor, Teatro Académico de Gil Vicente
Parceiro de design de interiores Angelourenzzo
Apoios à produção GrETUA, CIM do Ave, Belbrisa
Agradecimentos Teatro da Garagem, Pólo Cultural das Gaivotas, Leonor Figueiredo
Apoio Direção Geral das Artes - Ministério da Cultura