Literatura
Diga 33 - Poesia no Teatro | Zetho Cunha Gonçalves
A poesia não é de agora, nem sequer desses tempos em que Gutenberg revolucionou a palavra impressa. Anterior às edições em pergaminho e papiro é a poesia. Se aceitarmos que o “Épico de Gilgameš” é o mais antigo livro de que há memória, então a poesia já se fixava em placas de barro na escrita de babilónios e assírios. Mas estamos em crer que também anterior a essas doze placas, conservadas em assépticas salas de museu, era já a poesia. Há toda uma tradição oral que nos remete para os tempos primitivos da arte poética, essa arte de dizer como tudo pode ser outra coisa. Como tudo é outra coisa.
17 Set 2024 | 21h30
Zetho Cunha Gonçalves (Huambo, Angola, 1960) passou a infância e a adolescência no Cutato, pequena povoação na Província do Cuando-Cubango a que chama a sua «pátria inaugural da Poesia». Estudou no Colégio Alexandre Herculano, na cidade do Huambo, e Agronomia na extinta Escola de Regentes Agrícolas de Santarém. Poeta, autor de literatura para a infância e juventude, ficcionista, tradutor de poesia, exerceu variadíssimas profissões. Foi coordenador da página literária «Casa-Poema da Língua Portuguesa» no jornal Plataforma, de Macau, e da secção cultural da revista África 21. É membro da União dos Escritores Angolanos. Traduzido em várias línguas, tem participado em colóquios e encontros literários de vários países. A ele devemos também um relevante trabalho de organização das obras poéticas de outros autores, de que são exemplo “Uma faca nos Dentes”, de António José Forte, ou a “Obra Poética 1953-1993”, de Luís Pignatelli. Em 2018, o seu nome foi proposto para Prémio Nobel de Literatura. Em 2019, “Noite Vertical”, obra publicada em 2017, foi galardoada com o I Prémio dstangola/Camões. A sua obra está reunida no volume “Noite Vertical. Poemas Reunidos (1979-2021)”, edição da Maldoror, Lisboa, 2021.
Com Zetho Cunha Gonçalves vamos falar do seu singular percurso poético, das aproximações possíveis à ancestralidade, da Angola de infância, da sua relação mais ou menos próxima com os autores invocados nos poemas em prosa de “A Labareda Inconspurcável”, desse trabalho minucioso e criativo que consiste em trasladar da tradição oral para uma forma fixa aquilo que é “Sem Remédio” (Tradição oral engouda): «Sem remédio / é a velhice. // Porém, / a nenhum desmemoriado / se lhe olvida — a boca.»