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Teatro

"Palimpsesto" põe em teatro o que se apaga de Lisboa e interroga o que escrever de novo

Peça de teatro, um projeto de criação sobre a ocupação dos lugares de Lisboa e as alterações sofridas nos últimos anos, que estará em cena na Biblioteca de Alcântara.

26 Jul a 3 Ago 2024

Biblioteca de Alcântara
Rua José Dias Coelho 29, 1300-327 Lisboa

Com direção de Lucas Resende França e dramaturgia de Maria Giulia Pinheiro, "Palimpsesto - o que se apaga para escrever de novo?", estreia-se dia 26 de julho.

A peça nasceu ao longo de percursos pela cidade, pelos seus bairros históricos, pelas ruas, praças e jardins, e também por concelhos em volta, tomando conta do que se tornou invisível ou se perdeu, do que ainda resta, dos lugares e da sua identidade, na transformação resultante da especulação imobiliária e da aposta dominante e cada vez mais exclusiva no turismo.

"Quanto custa uma casa em Lisboa? 30 anos de vencimentos de salários mínimos nacionais, numa zona mais vulgar; noventa anos no caso de ter vista para o Tejo”, frisou Lucas França.

Segundo o encenador, o projeto começou com uma observação de alguns territórios de Lisboa, com as populações que os ocuparam, e de como espaços e pessoas foram afetados pelas alterações verificadas ao longo do tempo.

O ponto de partida foi ganhando consistência através de “derivas” (caminhadas) da equipa pelos bairros de Alfama e Mouraria, e através de outras zonas nos concelhos limítrofes da Amadora e de Oeiras, onde os criadores se foram “apercebendo de como a configuração dos espaços se ia orientando" apenas e cada vez mais "por critérios comerciais”.

Em cada caminhada, iam tomando notas e a partir delas a dramaturga Maria Giulia Pinheiro escreveu o texto do espetáculo.

“Em cada caminhada que fazíamos ia surgindo um novo texto" para cena, disse o encenador, acrescentando que o objetivo pretendido era, “a partir da esfera geográfica e urbanística, responder à pergunta sobre o que significa ser português hoje”.

Cedo se depararam com o facto de fazerem uma pergunta absurda e para a qual não “obteriam resposta”.

Daí que o espetáculo “tenha partido de um fracasso e seja constituído por cinco atos" que têm origem num prólogo, "sem que nunca deixem de o ser”, frisou o encenador.

Os atores vão desafiando o público a “refletir sobre as dinâmicas entre o centro e a periferia numa Lisboa em constante movimento e transformação”.

"Palimpsesto - o que se apaga para escrever de novo?" é assim "uma peça que defende a língua portuguesa, os bairros históricos, as pessoas que aí nasceram e estão a ser expulsas de lá”, disse Lucas França.

"Uma nação deveria servir todos os seus cidadãos, mas será que é isso que acontece? Em 'Palimpsesto', questionamos o propósito e o poder das fronteiras nacionais. Como acredita que uma nação pode melhor servir seu povo?", lê-se na apresentação da obra, em jeito de desafio.

"Cada pedra das nossas calçadas tem uma história para contar, escondendo segredos do passado. 'Palimpsesto' convida a olhar mais de perto e questionar o que está enterrado sob nossos pés. Que histórias acha que estão escondidas nas ruas de Lisboa?", interroga.

"Convidamos a refletir sobre como as escolhas de outrem resultam nas nossas próprias vidas e sociedades", prossegue o texto de apresentação. "Nosso espetáculo explora as camadas da memória e da história que se intercalam para formar a identidade. Nossas perguntas refletem o tema central da nossa peça, questionando o que permanece, o que é imposto e reinventado na cultura e na história portuguesas".

Na interpretação estão os artistas portugueses Hugo Vasconcelos e João Pessegueiro, o angolano Nylon Princeso e a brasileira Marina Campanatti, que 'vestem' personagens com nomes como I'm Portuguese, Fulano, The Tall, Fado Every Day e Amar Dura.

Com quatro récitas, nos próximos dias 26 e 27 de julho (sexta-feira e sábado) e em 02 e 03 de agosto (quinta e sexta-feira seguintes), sempre às 21:30, a representação acontece em registo 'site-specific', no jardim da Biblioteca de Alcântara, em Lisboa.

Fonte: Lusa

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