"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Festivais

Cinema e Vídeo

Festival de Cinema Queer em Lisboa e no Porto

Os Festivais Internacionais de Cinema Queer - Queer Lisboa e Queer Porto, confirmam o regresso às salas de cinema para a 28.ª e a 10.ª edição, respetivamente.

20 Set a 28 Set 2024

Cinema São Jorge e Cinemateca Portuguesa

8 Out a 12 Out 2024

Cinema Batalha, Passos Manuel e Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto
O Queer Lisboa 28 terá lugar no Cinema São Jorge e na Cinemateca Portuguesa, entre os dias 20 e 28 de setembro. Entre os dias 8 e 12 de outubro, o Queer Porto regressa ao Batalha e chega pela primeira vez ao Passos Manuel, prosseguindo também a sua programação na Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto.

Queer Lisboa e Queer Porto: primeiros destaques de 2024

O Queer Focus deste ano é transversal aos dois festivais. Trata-se de um programa alargado sobre a “Resistência Queer” em fronteiras, zonas de conflito, países sob ataque, territórios divididos ou ocupados, ou estados governados pela extrema-direita, do leste europeu e Médio Oriente, focando na realidade vivida pelas populações e comunidades LGBTQI+ em países como o Kosovo, Palestina, Chipre, Ucrânia ou Hungria. Com a coincidência de alguns títulos, mas também com inéditos em cada cidade, o programa terá exibição no Cinema São Jorge e na Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto. “Resistência Queer” é um alerta e uma homenagem; um cinema de urgência, com um apelo particularmente ativista, nos dias de hoje, face à ascensão das extremas-direitas, aos distúrbios sociais e culturais e às invasões militares que sofrem, especificamente, as sociedades destes países, onde vidas e direitos são postos em causa.

Em destaque no Queer Focus, e a ser exibido em ambas as cidades, “Foggy: Palestine Solidarity, Cinema & The Archive” é uma iniciativa das plataformas Cinema Politica e Queer Cinema for Palestine, com curadoria de BH Yael, Marc Siegel, Lior Shamriz e John Greyson. O programa é formado por um conjunto de curtas-metragens que propõem reflexões híbridas de montagem, justaposição, reconstituição e diálogo, explorando o tema da solidariedade com a Palestina. Filmes de Mike Hoolboom, Annie Sakkab, Hadi Moussally e Amy Gottlieb -ativista recentemente falecida a quem o programa está dedicado-, fazem parte de uma mostra que questiona como as memórias familiares podem informar a solidariedade, como arquivos privados podem tornar queer as histórias públicas, ou como fotografias de ontem podem vir a tornar-se nas imagens do amanhã.

Para além da colaboração com a Cinema Politica, em Lisboa haverá espaço para um programa especial de curtas-metragens dedicado às realidades queer na Ucrânia de hoje, e para a exibição de longas-metragens vindas do Chipre e da Hungria; e no Porto, lugar para “As I Was Looking Above, I Could See Myself Underneath”, longa-metragem do Kosovo que o ano passado conquistou audiências no Queer Lisboa. Este programa será complementado por debates, em ambas as cidades, com a participação de ativistas, realizadores e agentes culturais e sociais dos países em foco.

A retrospetiva deste ano do Queer Lisboa será dedicada a William E. Jones, em colaboração com a Cinemateca Portuguesa. Nascido em 1962, na cidade de Canton, no Ohio, residindo há várias décadas em Los Angeles, William E. Jones tem trabalhado em cinema, vídeo, fotografia e pintura, destacando-se também como ensaísta e romancista. Transversal a toda a sua obra está um impulso arquivista, um fenómeno que ganha enorme expressão neste novo século, particularmente dentro da cultura queer.

Desde o início dos anos noventa, Jones tem feito uso de materiais audiovisuais e fotográficos, de arquivo, para reinterpretar e recontextualizar alguns dos temas que mais o fascinam: a decadente arquitetura e urbanismo industrial do Midwest americano, os arquivos militares e a máquina de propaganda estatal do tempo da Guerra Fria ou da Guerra do Vietname, a vigilância e a repressão policial, o comunismo e o Bloco de Leste, e, muito notavelmente, a produção de pornografia na Europa pós queda do muro, e nos EUA no período pré epidemia da sida. Cruzando arte, política e pornografia, Jones trabalha um olhar democrático e filosófico sobre a imagem em movimento e a fotografia, pondo em diálogo o cinema e o vídeo, a publicidade e o filme estatal, o registo de serviços secretos e a videovigilância. E, através destas imagens, pensa qual é o lugar e o papel daqueles que vivem nas margens.

Objeto de diversas exposições individuais e retrospetivas em instituições de renome internacional (Tate Modern em 2005, Anthology Film Archives em 2010, Kurzfilmtage Oberhausen em 2011), a obra de Jones chega agora a Lisboa com uma extensa seleção dos seus trabalhos em cinema mais emblemáticos. Desde o seminal “Tearoom”, feito a partir dos registos que o Departamento de Polícia de Mansfield, no Ohio, fez em 1962 de vários homens numa casa de banho pública, ao thriller noir experimental “Finished”, que segue o rasto de um modelo pornográfico gay por Hollywood, passando pelo documentário sobre a comunidade latina de Los Angeles de fãs de Morrissey e dos The Smiths (“Is It Really so Strange?”), e por “The Fall of Communism as Seen in Gay Pornography”, com base em imagens de vídeos gay para adultos produzidos na Europa de Leste após a introdução do capitalismo.

Também haverá lugar na Cinemateca para uma Carte Blanche ao realizador, para a qual Jones selecionou filmes experimentais de realizadores marginais como Dietmar Brehm, Kurt Kren e o seu admirado Fred Halsted, sobre quem já escreveu extensamente. Este último programa é composto por quatro curtas-metragens, cujos tempos de exibição se sucedem segundo uma progressão geométrica, com cada filme tendo o dobro da duração do anterior.
Agenda
Ver mais eventos
Visitas
94,522,964