A obra de Milne transporta-nos para a dimensão fértil da infância, o território onde é possível a existência destes seres de formas fluídas, que parecem fundir-se como pastilhas elásticas. Como se cada peça tivesse saído, por vontade própria, de uma fábrica de brinquedos dominada por uma entidade sobrenatural insolente, que dá azo a delirantes criações.

Embora o trabalho de Ricardo Milne contenha uma carga nostálgica, o que sobressai é a nítida linguagem contemporânea fortemente influenciada pela arte urbana. A estética subversiva e a energia crua manifestam-se sobretudo na fase de acabamento, pelo uso de tintas em spray e dos ousados traços a marcador.

O artista desafia as expectativas do que a cerâmica pode ser. As formas esféricas de cores vibrantes, que são um elemento recorrente no seu trabalho, tornam-se plataformas para a expressão artística ilimitada. A mistura de técnicas e influências não só enriquece visualmente as peças, mas também traz uma dimensão crítica, convidando à reflexão sobre a interação entre o quotidiano, o lúdico e o artístico.