Teatro
"Orfeu e Eurídice" em estreia no Teatro de Belomonte
“Orfeu e Eurídice” resulta, em primeira instância, de um desafio proposto às Marionetas do Porto por Roberto Merino – o encenador chileno que vive há quase cinquenta anos no nosso país, onde se radicou como exilado, em fuga à severa Ditadura de Pinochet (já tem nacionalidade portuguesa).
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27 Jun a 7 Jul 2024
A versão do mito grego que os espetadores poderão ver em estreia a partir de hoje, dia 27 de junho, quinta-feira, às 19h00, consubstancia esse legado de memória e tributo a Seara Cardoso, desaparecido em 2010, bem como à própria companhia na atualidade e à sua capacidade de sobrevivência pós-traumática que derivou da perda desse personagem artístico nuclear. Volvidos praticamente 36 anos de existência desde a fundação do TMP, “Orfeu e Eurídice” é um espetáculo que embora verse a questão da morte, constituiu de forma intrínseca uma prova de vida e de superação. Talvez por isso, a analogia entre o conteúdo da peça e a biografia d’As Marionetas do Porto caminhem de mãos dadas.
Assim, tendo como sustentáculo dramatúrgico o mito de Orfeu, enquanto texto-matriz para a peça e que consta nos versos 1-85 do Livro X das Metamorfoses de Ovídio, o trilho prosseguido de adaptação à estrutura que um espetáculo de marionetas requer segue os passos de Orfeu (filho de Apolo e da musa Calíope) e de Eurídice. Acompanhando as incidências de um amor ardente, denso de paixão e assaz comovente, entre os dois intervenientes, esta versão de “Orfeu e Eurídice” põe também a tónica em momentos como o matrimónio que celebra a união entre as duas personagens e figuras míticas, bem como na evocação da morte de Eurídice e no desígnio de resgatar Orfeu ‘da tutela’ de Hades, deus do submundo e do reino dos mortos.
Como que a validar o desígnio primário da peça, a sua génese “O primeiro texto acompanha as tradições europeias sobre o Mito de Orfeu. Inclusivamente tem até uma referência a Camões”, refere Roberto Merino. E prossegue a explicação: “A história segue o fio dramático das Metamorfoses de Ovídio e na essência explora essa matéria, essa temática.”
A música é também um dos tópicos imperativos nesta versão da obra, deste poema contado, que é também um poema cantado, a espaços, pelos intérpretes em cena. De resto, a lira de Orfeu, que lhe foi oferecida pelo seu pai, Apolo, emana a partir do toque instrumental uma melodia encantatória, capaz de fascinar qualquer pessoa. E isso está bem patente na peça. Há também referências às áreas musicais de Gluck (1714/Alemanha - 1877 Áustria), a música original é da autoria de João Lóio.
À estética cenográfica aliam-se as marionetas principais cuja ‘anatomia’ resulta de um trabalho em impressão 3D ao nível das cabeças, das mãos e dos pés, que vale bem a pena apreciar.
A peça permanece em cena até ao dia de 7 de julho. As sessões para o público decorrem de quinta a sábado às 19h00 e ao domingo às 16h00.
Para encontrar toda informação sobre a companhia, é só aceder a: https://marionetasdoporto.pt/
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