Neste projeto, a artista fotografou retratos dos seus avós, acompanhou a vida de ambos e de todos os objetos, ideias, memórias e transições que fizeram parte dos últimos anos das suas vidas e da sua identidade. Transformou objetos que fizeram parte da vida do seu avô em naturezas mortas, transformando-os numa cápsula do tempo, residindo nesses objetos, permanentes mas finitos, as memórias do que já existiu. É nesses objetos e nas fotografias do quotidiano, onde reside a essência da identidade individual, tornando desta forma a memória do seu avô em algo visual e concreto, mais perto do tangível do que do imaginário.

A efemeridade da vida e a sua fragilidade, é representada através da sensibilidade dos retratos fotografados, dos objetos parados no tempo e da natureza deixada para trás, pela incapacidade física de quem a tomava como hábito. Uma vida outrora agitada e turbulenta, transforma-se numa rotina monótona, que sente saudades do passado, onde a adaptabilidade a novas circunstâncias é crucial para existir alguma forma de serenidade. Manu, remete a uma sensação familiar de perda, tornando-se numa forma de lembrar os últimos anos da vida de alguém, olhando para além da dor e da tristeza, tornando-se numa prova física de que a vida existiu e onde a memória agora se vê materializada. Desta forma, o luto torna-se intrínseco na experiência do espectador, evocando memórias e emoções esquecidas no tempo, relembrando como é bom sentir saudade e recordar, a dádiva que é a vida e a inevitabilidade da morte.

- Ana Vieira de Castro

Curadoria: Carlos Fontes & Ana Vieira de Castro