"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Exposições

Wolfgang Wirth "Battered Fields" & Tomaz Hipólito "DELAY"

A Galeria Belo-Galsterer apresenta as próximas Exposições: Battered Fields de Wolfgang Wirth e o projeto DELAY de Tomaz Hipólito.

16 Mai a 20 Jul 2024

Galeria Belo Galsterer
Rua Castilho 71, RC, Esq. - 1250-068, Lisboa
Preço
Entrada livre
Wolfgang Wirth
Battered Fields

"As nossas malas de viagem estavam empilhadas
De novo no passeio;
Tínhamos um longo caminho a percorrer.
Mas não importa, a estrada é a vida".
(Jack Kerouac, 1957)

Conheci o artista Wolfgang Wirth e o seu trabalho em 2014. Nessa altura, criou uma série de trabalhos em que utilizava mapas antigos (sobretudo dos Alpes) para explorar questões de teoria da pintura, bem como o desenvolvimento da pintura de paisagem. Esta série já revelava o interesse do artista pelos aspectos geopolíticos da cartografia e o seu potencial para influenciar a perceção dos territórios e das suas fronteiras. 2Desde então, tem trabalhado numa variedade de projectos relacionados com o território, cuja complexidade nunca deixou de me fascinar; partindo sempre de uma observação e análise precisas e cuidadosas de questões-chave do nosso tempo e com base numa compreensão complexa da história. É, pois, com grande prazer que apresento este texto para a terceira exposição individual de Wolfgang Wirth na Galeria Belo-Galsterer, escrito a quatro mãos com o artista:

A palavra inglesa battered (batido) compreende vários significados, como beaten (batido), wounded (ferido), abused (abusado), damaged (danificado), falling to pieces (caindo aos pedaços)... que ressoam no título da exposição e, ao mesmo tempo, descrevem a região devastada pela guerra do leste da Ucrânia, que Wolfgang Wirth coloca no centro da sua exposição.

O artista dedica-se mais uma vez ao tema dos territórios, um fio condutor da sua obra. A base para o conceito desta exposição é um fragmento de um mapa histórico da Segunda Guerra Mundial que mostra as principais partes do leste da Ucrânia. Inclui as regiões (oblasts) de Kharkiv, Donetsk e Luhansk, com Bakhmut, uma das cidades mais afectadas pela guerra atual, no centro do mapa. Neste mapa, o nome de Bakhmut é Artemivsk.3 Esta cidade foi renomeada várias vezes, o que é caraterístico de muitos locais da região.

Com base num estudo exaustivo deste mapa, a exposição aborda de uma forma muito subtil o impacto que a guerra atual, bem como as guerras anteriores e as mudanças e interesses políticos e económicos, tiveram no território em questão, e trata de questões como "ferir", "inscrever", "sobrepor", "cobrir", "apagar", "esbater", "disfarçar", "interferir", mas também de aspectos como "pacificar" e "curar".

Numa primeira abordagem, extremamente demorada, o artista retoca toda a informação cartográfica do mapa que remete para a intervenção civil no território representado (como nomes de lugares, estradas, caminhos-de-ferro e fronteiras). Num processo quase meditativo e catártico, apaga todos os vestígios de intervenções humanas até chegar a uma versão neutralizada do mapa que contém apenas marcos como rios e formações terrestres. É a partir daqui que o artista começa a explorar os conceitos apresentados acima.

4 Uma segunda referência a que Wolfgang Wirth recorre é uma litografia a cores de Ernst Heyn , de 1892, que mostra flores e plantas das regiões afectadas da Ucrânia. Esta representação botânica, semelhante a uma paisagem, mostra de alguma forma um estado puro da região em questão, constituindo assim um contraste pacífico com a realidade atual.

Uma série de pinturas a óleo, que são uma clara referência ao mapa original, são apresentadas como uma instalação espacial. Linhas horizontais vibrantes, inspiradas nas cores das inscrições cartográficas, cobrem as telas pintadas e criam a impressão de interferência e perturbação.

Um conjunto de pequenas obras entrelaça as referências pictóricas utilizadas, tais como reproduções do mapa (neutralizado) ou da litografia acima referida ou ainda uma representação das linhas da mão esquerda do artista.

Uma das pequenas obras tem uma moldura de madeira esculpida à mão que cita as flores da litografia do século XIX, assemelhando-se a uma coroa de flores que envolve uma versão impressa e colada do mapa neutralizado.

Ao colocar questões sobre a vulnerabilidade dos territórios, sobre inscrições e apagamentos violentos, tanto nos/dos territórios, como nas paisagens e na natureza, Wolfgang Wirth apresenta uma rede subtil de obras entrelaçadas.

A forma como o artista aborda temas difíceis do nosso tempo é descrita por Gürsoy Dogtas da seguinte forma: "Wolfgang Wirth lida com horizontes temporais complexos. Aplicando os meios da abstração, retira momentaneamente as direcções temporais do passado, presente e futuro do seu enquadramento convencional, reconfigura-as e redirecciona o olhar do sujeito para o objeto da imaginação."

Alda Galsterer &
Wolfgang Wirth
maio de 2024

Tomaz Hipólito
DELAY

A Galeria Belo-Galsterer tem o prazer de apresentar DELAY, a primeira apresentação individual de Tomaz Hipólito na galeria, com um projeto individual cujo ponto de partida é uma série de tetrápodes de betão que revestem o Arquipélago dos Açores.

Percorrendo o espaço da galeria, o espetador depara-se com a projeção de um vídeo de animação de desenho 3D e com uma série de desenhos que fazem referência ao tetrápode. As obras exploram a qualidade escultórica do objeto, sugerindo a sua transformação e desmaterialização.

Hipólito contempla estes tetrápodes de um ângulo escultórico. Considera o material e a durabilidade dos objetos, ponderando a sua massa e a forma como interagem com o oceano e o ambiente circundante.

No centro deste projeto está o conceito de atraso como um fenómeno temporal e uma investigação filosófica. Passando da forma utilitária para a forma estética, o tetrápode é convertido num objeto que se presta a um diálogo invulgar na paisagem urbana.

Para além de explorar o espaço, a sua ocupação e transformação, as obras abordam também um gesto de mapeamento para estabelecer um novo território, um intervalo entre a subjetividade e a experiência resultante. Através de uma lente escultórica, o artista considera a materialidade destes objectos, particularmente na sua função de proteção contra a erosão marítima.

Com estas estratégias, Hipólito introduz um atraso na reação do espetador a imagens familiares, defendendo a lentidão como contrapeso à velocidade contemporânea. Esta abordagem espelha o atraso inerente à exploração da reprodução segundo Duchamp, criando assim um diálogo entre os aspectos físicos e concetuais do espaço e da experiência.

Alexia Alexandropoulou
Maio 2024
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Beato Innovation District 3 Jul 2024  |  14h00

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