Calhou que a terceira terça-feira de Março de 2023 fosse Dia Mundial da Poesia, o que para nós, que fazemos de cada dia um dia de poesia, é igual ao litro. Ainda assim, cabe-nos dizer que assinalaremos a data com um programa de luxo. Vamos ao cinema. Uma razão fortíssima justifica esta incursão pela sétima arte, a possibilidade de assistirmos quase em primeira mão a um documentário sobre Fernando Ribeiro de Mello. É nome de culto entre aficionados do livro raro e da edição de luxo, mas também para quem, interessando-se pelo mundo editorial português, sabe haver entre a produção e a edição de poesia uma natural consanguinidade. Exibiremos, portanto, “Editor Contra”, filme de Luís Alvarães realizado a partir do livro homónimo que resultou de uma intensa e apaixonada investigação de Pedro Piedade Marques. E falaremos com ambos, realizador e historiador.

Fernando Ribeiro de Mello (1941-1992) foi, com as suas Edições Afrodite, o editor maldito por excelência na última década do Estado Novo. Estreou-se com o “Kama-Sutra”, em 1965, ao qual se seguiu uma perseguida e censurada “Antologia de Poesia Erótica e Satírica”. Editor contra antes e depois de Abril, com complexidades distintas a serem enfrentadas em ambos os lados. Nasceu no Porto, descendo à capital para causar escândalo com um recital intitulado “O Teste”: o valor dos poemas era calculado mediante a duração dos aplausos devidamente cronometrados. Fundou as Edições Afrodite publicando obras polémicas, proibidas, promovendo apresentações escandalosas e sensacionais. Com ele colaboraram, entre tantos outros,  Natália Correia, Luiz Pacheco, Ernesto Sampaio, Aníbal Fernandes, Luiza Neto Jorge, Manuel João Gomes, Ernesto Melo e Castro. Morreu em 1992, aos 50 anos, na sequência de uma cirurgia mal sucedida a um aneurisma. 

Pedro Piedade Marques nasceu em Luanda em 1971. Licenciado em História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, é designer gráfico, tradutor, editor nos projectos Livros de Areia e Montag. Tem textos publicados no Público e no Jornal de Letras e Artes, nas revistas Parq, Os Meus Livros, LER, Bang! e Seara Nova. Comissariou exposições dedicadas às Edições Afrodite de Fernando Ribeiro de Mello e à obra gráfica e pictórica de João Abel Manta. Colaborou com Laurent Filipe e Paula Castelar na produção do filme “A torre de João Abel Manta, o imaginador” (ante-estreado em Lisboa, na Fundação Gulbenkian, a 9 de Dezembro de 2022), e com Luís Alvarães na produção do filme “Editor Contra” (ante-estreado em Lisboa, na Cinemateca Portuguesa, a 24 de Novembro de 2022).

Luís Alvarães nasceu em Castelo Branco no ano de 1961. Produtor, realizador e argumentista, concluiu, em 1986, o bacharelato em cinema, na área de montagem, na Escola Superior de Teatro e Cinema. Em 1992 fundou, com Fernando Vendrell, a empresa de produção David & Golias. Foi assistente de realização em filmes de Paulo Rocha, João Botelho, António Reis, Luís Filipe Rocha. Realizou vários filmes desde 1990. No documentário “Editor Contra” relembra a vida de Fernando Ribeiro de Mello, uma das mais controversas personalidades do século XX português.