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Exposições

Graça Morais homenageia Mega Ferreira no Centro de Arte Contemporânea de Bragança

A pintora Graça Morais decidiu homenagear António Mega Ferreira com uma exposição dedicada ao escritor e jornalista na nova temporada do Centro de Arte Contemporânea de Bragança, que vai mostrar também obras inéditas da artista transmontana.

Graça Morais e António Mega Ferreira, Sines, 2005 © Centro de Arte Contemporânea Graça Morais / Augusto Brázio

16 Fev a 18 Jun 2023

Centro de Arte Contemporânea Graça Morais
Rua Abílio Beça, 105, 5300-011 Bragança

A nova temporada arranca na quinta-feira com a inauguração de duas exposições, “Homenagem a António Mega Ferreira - Linhas da Terra/Os Olhos Azuis do Mar” e “Graça Morais. Os Rituais do Silêncio”, para ver até 18 de junho no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais.

A pintora contou à Lusa que “uma das exposições foi pensada e desejada” por ela para homenagear o amigo Mega Ferreira, que morreu em dezembro de 2022 e que escreveu dois livros sobre a artista.

Os títulos dos dois livros são também os da exposição que reúne obras criadas nas épocas em que Mega Ferreira acompanhou o trabalho de Graça Morais para escrever sobre ele.

“Mega Ferreira foi a primeira pessoa a escrever um livro sobre a minha pintura, tinha eu 37 anos, quando o Vasco Graça Moura o convidou a escrever um livro para a série dedicada a pintores, que se chamava ‘Arte e Artistas’, e ele escolheu-me”, recordou à Lusa.

O livro “Linhas da Terra” foi escrito em 1984, apresentado em 1985 e “a maior parte das obras que ele viu fazer, que ele acompanhou enquanto ia escrevendo o livro, estão agora nesta exposição e ocupam a sala maior do Centro”, depois de terem sido mostradas, recentemente, no Museu do Côa.

A nova exposição tem também trabalhos de outro encontro, mais tarde com Mega Ferreira, resultado do desafio lançado pela pintora para que escrevesse sobre a série de obras que realizou numa residência artística em Sines e do qual resultou o livro “Os olhos azuis do mar”.

Além de dar nome à exposição, é também o título do quadro de quatro metros de altura que estará na entrada do centro nos próximos meses.

“Eu achei que numa atitude de homenagem, de gratidão, eu devia fazer esta exposição em Bragança. Eu acho que a única coisa que eu posso fazer para que o António Mega Ferreira continue vivo é através da minha pintura, porque ele era um homem da pintura”, disse.

Esta exposição vai ser, também, “pretexto para se falar mais daquele homem ímpar da Cultura”, já que a pintora pretende promover, por altura do aniversário, em março, “um encontro para falar sobre jornalismo, escrita, arte, com Mega Ferreira como personagem principal”.

A segunda exposição, “Rituais do Silêncio”, da nova temporada do Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, resulta do trabalho de investigação que está a ser feito pelo Instituto Politécnico de Bragança sobre a obra da artista, no Laboratório de Artes na Montanha Graça Morais, e mostrará “obras que ninguém conhece porque estavam guardadas no ateliê em gavetas”.

Foram realizadas entre 1976 e 1978, em Paris, “nos começos como artista”, e vão ser apresentadas “entre pinturas e fotografias à volta de 80 peças que são completamente inéditas”.

“Algumas que eu considero joias, são pequeninas, tesouros que eu guardei durante estes anos tempos e ainda bem que agora há um espaço para eles serem expostos”, partilhou.

Entre estas peças são mostradas, pela primeira vez, fotografias a preto e branco, feitas pela própria, e que inspiraram a conhecida coleção das “Marias”, na década de 1990, dedicada às mulheres transmontanas, nomeadamente da aldeia da pintora, o Vieiro, no concelho de Vila Flor, distrito de Bragança.

Como contou a pintora, nesta exposição há também as temáticas da terra, como a caça, a matança do porco, a predominância do ritual do silêncio, em que as palavras eram desnecessárias.

“O que estavam a fazer era um ato de sabedoria, de memória, uma grande ligação entre eles e eles falavam mentalmente porque quando as pessoas são sábias e quando as pessoas sabem o que estão a fazer, fazem bem feito e nem precisam de falar muito, elas entendem-se. E essa dimensão do entendimento mental tem a ver com conhecimento, com respeito, com a memória da sabedoria de um povo está nesta exposição”, enfatizou.

Fonte: Agência Lusa
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