"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Literatura

Lançamento do livro "Ô SILÊNCIO DO KISANJI" de Anabela Quelhas

Uma escrita descomprometida sobre Angola colonial, com forma de auto-biografia.

26 Nov 2019

Centro Cultural e Regional de Vila Real
Largo de S. Pedro,
Preço
Entrada livre
 
Este é o segundo livro de uma trilogia de matiz autobiográfica.

São textos escritos sobre uma parte da infância e ado-lescência da autora, vivida no paralelo 8, em Angola, recortada entre a lucidez e a saudade, descrevendo uma cidade de Luanda dividida entre duas urbanidades sempre questionadas.

Ao contrário do primeiro livro O fato que nunca vesti-mos, que evoca as situações amargas do autoritarismo do Esta-do Novo em Portugal Continental, este é uma escrita mais doce e tropical, apesar de vivida também durante a parte final do antigo regime, assumido por Salazar e depois mais aligeirado por Marcelo Caetano. As duas situações por vezes tocam-se e invadem-se.

A dupla vivência em dois continentes foi determinante para a formação da personalidade da autora, abrindo-lhe jane-las para a multiculturalidade racial e imprimindo-lhe uma luci-dez precoce e crítica sobre a organização das sociedades. Esta não é a perspectiva de alguém comprometido com algo, não é uma perspectiva elitista da população branca da classe média alta, mas também não será a perspectiva da população negra colonizada. É o registo de memórias que contêm a crítica social e política possíveis e adequada à idade da autora naquela épo-ca. Contradições? Muitas!

A silhueta da estátua de O Pensador de origem Tchokwe, simboliza a sabedoria e assinala referências que enriquecem e enquadram esta obra, abrindo a outras reflexões.

Escreve, declarando o seu amor por um território que integra as suas várias geografias.

A narrativa é intencionalmente irregular, com diversas sonoridades e sotaques. Utilizam-se pontualmente palavras em kimbundu, porém, surgem muitos casos em que não se respeita o kimbundu e se opta pela mistura com o português, resultando o conhecido angolês ou lusumbundu. O leitor deverá estar pre-parado para a variação inesperada de sotaque e narrativas, podendo recorrer ao glossário para tirar dúvidas.
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